Motorhome pela América 11 – A DISPUTADA COLÔNIA DO SACRAMENTO

11 – A DISPUTADA COLÔNIA DO SACRAMENTO


Colônia é a cidade mais portuguesa do Uruguai. Aqui ainda tem os traços lusitanos na arquitetura da parte velha da cidade, nas casas, ruas e nos azulejos. Mas ela não é só velha. Evoluiu e tem modernas residências e praias de rio.

Os colonizadores chegaram em Colônia em 1.680, comandados por Manuel Lobo, Governador da Capitania Real do Rio de Janeiro, a mando do império português. A parte velha da cidade, que já foi muralhada, faz parte do Patrimônio da Humanidade, reconhecida pela UNESCO.

Ainda tem um pouco da muralha e partes de um dos portões de entrada da cidade. Os portugueses que ali aportaram fundaram a Colônia do Santíssimo Sacramento, às margens do Rio da Plata, do outro lado de Buenos Aires. Para proteger a cidade, como era costume dos lusitanos, construíram uma fortificação simples, de pedras, com planta no formato de um polígono quadrangular.

Dentro das muralhas tinha um convento franciscano que, após um terrível incêndio, foi abandonado e aos poucos foi se deteriorando, suas enorme pedras foram cedendo e restaram apenas ruínas. No meio das ruínas, foi levantado um farol para orientar os navegadores que usavam o local como ponto de contrabando de escravos e produtos naturais. O apoio vinha dos nobres de Portugal, interessados no comércio ilegal.

assim é nossa descendência

Hoje o farol ainda funciona como sinalizador, mas é mesmo um importante ponto de visitas de turistas, por oferecer uma bela vista da cidade e do Rio da Plata.

A Basílica do Santíssimo Sacramento já foi uma pequena capela e totalmente reconstruída após uma grande explosão causada por um raio que atingiu a sacristia, onde ficava um depósito de pólvora. Como pode? Guardar suprimentos bélicos na igreja? Era provavelmente um depósito secreto. Quem sabe o raio foi a mando de Deus por tamanha heresia.

No centro da muralha, como em quase todas, tem um enorme pátio onde eram feitas as manobras militares. Em torno deste espaço, que hoje chamam de praça, ficavam as casas por ordem de importância. Mais próximo da praça e da igreja, os mais importantes e assim a distância da praça determinava a importância da família, ou melhor, da riqueza. Os menos abastados moravam fora das muralhas. Eram os que mais trabalhavam e os que morriam primeiro quando a fortaleza era atacada.

A fortaleza foi palco de muitas batalhas, especialmente entre espanhóis e portugueses. Na foto abaixo fica evidente os estilos arquitetônicos usados pelos guerreiros, ou guerrilheiros, ou melhor, pilantras que tentaram ficar com a cidade fortificada.

A casa de pedras com telhados é do estilo tradicional de Portugal e a casa com acabamento, pintada e sem telhado, tradicional da Espanha.

Saindo ou chegando na Praça 25 de Maio ou Praça Maior, fica a rua mais emblemática da cidade, toda calçada com pedras irregulares que, de tão irregulares, bem que poderia ser sem o calçamento. É difícil e perigoso andar por ela sem tomar muito cuidado.

A rua é a Calle de los Suspiros. Existem duas lendas ou versões para o nome singular da rua. Uma era que ali ficavam os escravos durante a noite e como muitas vezes sentiam muito frio, fome e até a dor decorrente dos açoites, emitiam lamentos que ecoavam como suspiros.

A outra lenda é mais alegre e mais sacana. Dizem que a rua tem este nome por que ali as prostitutas faziam ponto. Quando entravam em acordo e os atos se consumavam, ouvia-se os suspiros dos prazeres.

Colônia do Sacramento tem muita história para contar da sua colonização. A cidade foi de Portugal, os espanhóis tomaram, devolveram, depois tomaram e devolveram pela terceira vez.

As casas mais antiga hoje não tem moradores. Estão abandonados ou são museus, lojas, bares ou restaurantes. Um dos bares às margens do Rio da Plata estava tão aconchegante que sentamos. Tomei um bom chopp tirado nas torneiras cravadas na madeira, enquanto Ade se deliciou com um saboroso Brownie com um café, que não chega ser especial.

Sentados, esperando o tempo passar, observando o Rio, sentindo o frescor do vento, ficamos vendo as chegadas e partidas dos barcos que levam e trazem gente de Buenos Aires.

A cidade é muito frequentada por turistas. Alguns poucos vem só para conhecer e a maioria, que de passagem entre Buenos Aires e Montevidéu param por algumas horas, o suficiente para conhecer a cidade histórica

Sábado à noite os bares são as atrações. Quase todos com músicas ao vivo e, para nosso orgulho, a maioria cantando músicas brasileiras traduzidas para o espanhol.

No sábado à noite todas as semanas um grupo de tocadores de tambor saem pelas ruas arrastando pessoas por onde passam. Nós também seguimos os tocadores de tambor que seguem sempre no mesmo ritmo, que até lembra um pouco o samba e tem até comissão de frente .

Vem quem quer com seu tambor, de vários tamanhos. Um tocador me disse que é só para descontrair, qualquer um pode entrar e seguir o ritmo. Tem comissão de frente mas não tem um mestre de bateria. O bando de tocadores sem mestre seguem e os seguidores que vem atrás, tentam aprender os passos da dança. O tocador me disse que não tem nenhuma ligação com seita ou religião.  Ele repetiu que é mesmo só para descontração.

Tinha uns 30 tambores pré aquecidos.

Antes de começar os tocadores esquentaram os tambores, literalmente. Fizeram uma fogueira e deixaram os instrumentos para esticar o couro no calor do fogo, antes de começar o desfile.

O Uruguai já foi muito mais glamour do que é hoje. Houve o tempo das vacas gordas e havia muito dinheiro para todos, dizem por aqui. Dá para notar pelos veículos antigos que ainda se vê pelas ruas, estacionados, abandonados ou que viraram enfeites. A época, os veículos eram de primeira linha.

No camping conhecemos um enfermeiro chileno, noivo de uma estadusunidense, que deixou a América do Norte para viver no Chile. Foram quase duas horas de conversa. Ele muito alegre e ela prestava atenção em tudo.

Tomamos café em casa com um casal de brasileiros que venderam tudo é moram no motorhome.  O Claudio já tem 80 anos sua esposa um pouco menos e nem pensam em parar de viajar. Ele dizia que sua esposa quer parar em todo lugar para comprar lembrancinhas ou tirar fotos. Quando Ade falou do lugar onde compramos queijo de cabra, a mulher disse que pediu para o Claudio parar e ele disse com sua ginga de 80 anos, quando estava dirigindo o pesado ônibus motorhome…

eu estava muito embalado!

Seguindo viagem trafegando pela Ruta 21, descobrirmos um balneário municipal e paramos para visitar. No local tem um belo camping mantido pela prefeitura, com água, luz, churrasqueira e lenha, tudo de graça. Pensamos em dormir uma noite e ficamos duas.

Logo que chegamos, quando fui estacionar em uma das poucas vagas desocupadas um senhor tentou me ajudar e eu displicentemente fui na dele e atolei a Caca na areia.

Apareceram várias pessoas para ajudar, dando palpites, cavando a areia com a mão e antes que eu pensasse numa solução para sair do buraco, já haviam umas 15 ou 20 pessoas se oferecendo para ajudar. Tentamos empurrar e a Caca só afundava mais, apareceu um senhor com sua caminhonete, seu filho com uma corda e outro com uma cinta de nylon. Um deles entrou embaixo da Caca amarrou a cinta e fomos desatolados. Todos aplaudiram.

Entrei numa fria atolando a Caca e nem tive tempo de pensar numa solução. Tudo foi muito rápido e eficiente. Daí surgiram amizades e longas conversas.

A todo momento alguém se aproxima ou nós nos aproximamos de alguém. Chegam, perguntam se somos turistas, apesar de estar na cara, de onde viemos e assim começa novas amizades. Ao final sempre tem convite e bilhetes com endereço de suas moradas para nós visitá-los.

No balneário tem uma loja de conveniência e uma senhora procurava manteiga e não tinha para vender. Ade, com seu jeito útil e prestativa de ser, ofereceu a nossa manteiga para a senhora. Ela ficou super agradecida, levou nosso pote de manteiga e usou o quanto quis. Quando veio devolver, trouxe um farto tanto de inhoque super bem temperado, quentinho, bem na hora que preparávamos nossa refeição. Foi muito bem vindo.

No final da tarde não podemos perder o espetáculo do pôr do sol, até ele se esconder completamente sobre a Argentina, do outro lado do rio. A noite é a vez da lua expôr seu esplendor, fazendo de conta que era uma melancia.

À noite quando Ade se aquecia na fogueira chegaram duas meninas que conhecemos na praia. Vieram nos visitar e depois chegaram 4 ou 5 meninos e ali nos divertimos um bom tempo ao lado da fogueira tirando foto da lua, e queimando Bombril.

Dormimos mais uma noite agradecidos e saímos na manhã seguinte para conhecer a região das águas termais do Uruguai.

 

 

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