Motorhome pela América 16 – NOSSA SEGUNDA FRONTEIRA

16 – NOSSA SEGUNDA FRONTEIRA


Depois dos chips da SkillSIM instalados, que nos ofertou internet ilimitada, fizemos algumas compras em Uruguaiana e adentramos a Argentina num dia de muito movimento na fronteira. Deixamos para trás mais uma vez a nossa Pátria Amada e, Deus de carona em nossos corações, orientando nossas ações, garante a certeza que vamos voltar.

Aduana brasileira, sem vistoria. Na aduana Argentina, congestionada. Já na fila da fronteira, antes dos guichês da imigração, veio um senhor de colete, parecia uma autoridade, pediu documentos e disse que queria ver por dentro da Caca. Entrou, olhou, elogiou e mandou gente seguir. Ele só queria ver a casa rodante. Estamos na Argentina.

Na fila pedonal para registrar a entrada no País irmão, muitos ambulantes vendendo de tudo e oferecendo Pesos Argentinos para câmbio. Difícil se livrar deles. Com os primeiros tentei ser simpático, não largaram do meu pé. Os segundos não dei muita atenção mas também não largaram do meu pé.

Carimbado os passaportes, pedi para que emitissem um documento chamado Permissão Temporária para Trafego de Veículos, ou coisa assim. A primeira moça perguntou para a segunda, que nos mandou para o terceiro, que perguntou para o quarto que se informou com o quinto. Depois se reuniram o quinto, o quarto e o terceiro e deram o veredito:

Não emitimos este documento

Fomos embora sem a autorização oficial de entrada do veículo. Tomara que não tenhamos problemas na saída. Depois eu conto.

Pegamos a rodovia e não muito distante a primeira barreira policial. Ufa! Passamos sem parar. Não mais que 80 km à frente, nova barreira. Desta vez fomos parados.

– Documento do carro.

– Táqui.

– Carta verde.

– Táqui.

– Documento pessoal.

– Táqui.

– O senhor pode descer e nos acompanhar.

– Tô indo.

– Abra a porta traseira.

– Pois não.

– Cade seu extintor? (estava na frente dele)

– Tem um aqui e outro lá na frente.

– É muito pequeno.

– É original e o veiculo foi fabricado aqui na Argentina.

– Cade o cambão?

– Tá qui.

– As luzes estão todas funcionando (sem verificar)

– Sim

Ele me entregou os documentos e deu o golpe que eu já esperava, pois algumas pessoas já haviam me alertado que este procedimento é comum por parte dos policiais no norte da Argentina:

– Nós estamos reformando a casinha do policiais e você poderia deixar uma ajuda?

– 100 pesos ajuda?

– Sim.

Entreguei e ele desejou boa estada no País Hermano. Estamos na Argentina.

Mais 50 ou 80 km outra barreira e o policial novamente pediu os documentos. Enquanto eu pegava, disse que somos aposentados mas continuamos trabalhando fazendo imagens nos países da América para uma emissora de televisão. Ele disse para aproveitarmos bem o país dele e desejou boa viagem, sem pegar nos documentos.

Será que eu assustei ele?

Mais 50 ou 80 km outra barreira e mais outra e mais outra e, por sorte não fomos parados em todas e nem mais extorquidos como na segunda barreira.

Chegamos na cidade de Paraná, capital da Província de Entre Rios. Seguimos o GPS até um camping. Lá um rapaz nos recebeu e disse que os brasileiros sempre vem até aqui, mas…

 …não recebemos motorhome

Ele indicou um outro camping e quando chegamos no endereço, não tinha nada. Nova pesquisa na internet e descobrimos o Camping Municipal Toma Viaja, onde foi a primeira tomada de águas da cidade. Com a inauguração da Toma Nueva, em 1941, a Toma Viaja foi transformada em parque com uma ampla área de laser, com muitas piscinas, espaços para acampar, mini mercado, quadra de esporte e restaurante, ao lado do rio que deu origem ao nome da cidade de Paraná.

Uma noite no camping, uma boa e alegre conversa com uma família vizinhos e partimos no dia seguinte para conhecer cidade de Paraná.

Caminhamos um pouco pelo calçadão, sem movimento num sábado à tarde, visitamos algumas praças, igrejas e prédios históricos.

Quando passamos por uma praça, me chamou a atenção um das muitas esculturas que, provavelmente, vamos encontrar em várias praças na Argentina. É uma homenagem a “Las Madres de Malvinas”, dedicadas ao sofrimento das mães que perderam seus filhos numa guerra injusta, quando a prepotente e ultra-equipada Inglaterra expulsou e matou muitos soldados argentinos que tentavam ocupar as Ilhas Malvinas, que fica ao lado do território argentino e há milhares de quilômetros das terras da rainha.

La Plaza 1 de Maio é principal da cidade onde fica a Catedral Metropolitana, com uma imponente arquitetura e uma bela estátua de São Pedro.

No local onde está hoje a catedral, já foi um forte construído pelos brancos para se defender dos índios nativos da região. Os brancos venceram, como em todas as guerras contra índios.

Por um tempo, Paraná já foi a capital da Argentina, entre 1.853 e 1.861 e, em 1.994, junto com Santa Fé, foi a sede da Convenção da Reforma Constitucional da Argentina.

Las barrancas parquizadas ou parques na beira do rio, é a atração da cidade. No Parque Urquiza os moradores se reunem para desfrutar do rio que deu nome à cidade. Ali tem restaurantes, pista para caminhada, bancos, passeios de barco, sombra das árvores, feira de artesanato e até uma pequena praia.

Paramos e almoçamos com uma bela visto do Rio Paraná.

A cidade existe desde a era dos descobrimentos, criada pelos espanhóis e palco de muitas guerras de generais que lutavam pelo comando da região.

A obra mais imponente da cidade está quase toda escondida. É um túnel subfluvial, inaugurado em 1.969, com 2.937 metros, que cruza o Rio Paraná por baixo, construído depois que uma terrível enchente destruiu a cidade e derrubou a principal ponte da região.

No final da tarde passamos pelo tonel subaquático e saímos em Santa Fé.

Santa Fé é a cidade da educação universal, laica, pública e gratuita, com extensa oferta de cursos de formação obrigatória, graduação, pós graduação, mestrado e doutorado.

Nas escolas municipais ensinam idiomas, expressão corporal, didática, iniciação musical e especialização em instrumentos musicais.

Foi nesta cidade que um poeta usou pela primeira vez, em 1.602, o nome “argentinos”, para se referir ao povo que nasce na Argentina. 

Passeamos pela cidade encontramos um parque público e gente por todo lado. Seguimos até o centro, estacionamos e fomos caminhar pelo calçadão. Tomamos café com um prato variado de docinhos típicos da região. O melhor foi o de banana.

Fomos dormir no camping e fomos bem recebidos, nos instalamos, dormimos e na manhã seguinte saímos para uma caminhada à beira rio, passamos por uma pequena praia, entramos pelas ruas da cidade e, quando retornamos, medimos 14 km de caminhada.

Tomamos o café da manhã e mostramos a Caca para alguns curiosos em conhecer a casa carro. É notória a diferença entre o uruguaio e o argentino. O uruguaio pede licença para passar em frente ao carro e não olha para dentro para não incomodar. O argentino é parecido com nós brasileiros, pára, olha descaradamente, pergunta o preço e pede para entrar. Faz parte, afinal a Caca encanta muita gente, mas a educação e discrição dos uruguaios é incomparável.

Na volta, enquanto tomávamos o café, chegou uma mulher que agora comandava o camping. Chegou e deu a ordem: Não podem parar aqui, saiam logo. Eu disse que o senhor ontem a noite indicou aquele lugar e ela repetiu: Saiam logo, não pode ficar neste lugar. Pedi para ficarmos mais 15 minutos que já iriamos partir e… Ufa! Ela deixou, mas a cara dela era de total… total…. há deixa pra lá.

Definitivamente não estou me dando bem com os argentinos do norte. Primeiro na aduana, depois a polícia, o cara do camping e agora essa mulher como cara de… deixa pra lá. Conversamos e decidimos mudar o roteiro e deixar para conhecer o noroeste da Argentina no retorno. Vamos mais ao sul da Argentina, que dizem ser ainda mais atrativa e certamente mais amigável. Deixamos Córdova, Atacama e Mendoza para depois e…

Partimos rumo ao sul

 

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