Motorhome pela América 32 – PUERTO MONTT – REGIÃO DOS LAGOS CHILENOS

32 – PUERTO MONTT – REGIÃO DOS LAGOS CHILENOS


Antes ainda de chegarmos em Puerto Montt, Ade viu uma noticia na internet e já alertou que queria ir embora logo. Fui me certificar da veracidade dos fatos em outros canais e deixei o rádio sintonizado em uma emissora de notícias. Realmente. Um complexo de vulcões que ficam no caminho que pretendemos passar, saiu do sinal de alerta amarelo e passou para o laranja.

Segundo a notícia do rádio, uma coluna de fumaça branca e uma série de tremores, indicaram o aumento da atividade do complexo vulcânico Nevados de Chillán, composto por 17 crateras na Cordilheira dos Andes. Diante de uma eventual erupção, nossa expedição ficou um pouco tensa no momentos mas, por enquanto, nem pensamos em desistir.

A emoção é grande de estar onde tudo pode acabar.

Perguntei para algumas pessoas se tinham medo de viver próximos aos vulcões, todos responderam que não há perigo. Perguntei se sabiam do alerta laranja, nem sabiam do que se tratava. Certamente não ficam com medo por ignorância do que pode acontecer. O Chile possui 105 vulcões, sendo que 90 deles estão ativos. Vários estão sob vigilância devido à sua atividade crítica ou proximidade com grandes cidades. Mais abaixo volto a falar deles, que deu o que falar.

Ficamos um dia em Puerto Montt, onde foram encontrados rastros de caçadores que viveram na região há 14.600 anos. Durante a época pré-espanica a região era habitada pelos índios mapuches, bravos guerreiros que dominavam com maestria a luta montados em cavalos. Resistiram a uma invasão do Império Inca e depois saíram vencedores expulsando os espanhóis na Guerra de Arauco, já no século XVI.

Depois chegaram os militares e mataram todos.

Apesar de guerreiros, não resistiram aos constantes ataques organizados pelos governos do Chile e da Argentina, na luta pela soberania da região. Ainda hoje existem resquícios de intenções de um dominar o espaço do outro e os poucos descendentes dos mapuches, vivem na pobreza, sem terras, vagando pelas cidades grande na região onde já foram donos de tudo.

Depois da lambança dos homens brancos

Chegaram os alemães adquirindo tudo, construindo portos e ferrovias e deixaram suas marcas e descendentes que ainda hoje são características principais da região.

Hoje Puerto Montt é uma cidade grande, uma das principais do Chile, com forte influencia dos conceitos dos alemães.

Fomos almoçar no Mercado Municipal, para comer o prato típico da região, o fortíssimo Curanto, em um restaurante que leva nosso nome. O prato típico é elaborado com mariscos gigantes, carnes de porco, frango, linguiça, batata, almejas e mais algumas iguarias. Ade tentou pegar mais leve e pediu uma sopa de mariscos, engano, era fortíssima também.

Puerto Montt é considerada a capital mundial do salmão e o Mercado Municipal é o ponto certo para comprar o peixe que os japoneses elitizaram. Ali servem ceviche, salmão defumado e outras riquezas do mar.

Os lobos descansam o tempo todo, esperando as sobras da rica iguaria na porta dos fundos do mercado.

Passeamos pela costaneira, entramos um pouco no shopping super lotado e logo saímos. Pegamos a Caca e fomos conhecer a cidade embarcados na casa própria.

Dia seguinte fomos rumos aos vulcões, já temidos por nós, com a primeira parada em Puerto Varas, onde os chilenos são ainda mais alemães, ou os alemães viraram chilenos.

Estava chovendo, sem muitas opções de passeio na cidade, que acoberta uma gangue de sanguessugas flanelinhas que só faltam cobrar quando você para no sinaleiro, o resto cobram tudo. Chegam junto e te intimam a pagar. Mas a culpa não é deles. Eles apenas trabalham para uma empresa privada que cuida, cuida não, cobra o estacionamento na rua.

Não tinha camping na cidade. Pensamos em dormir na beira do lago e um flanelinha disse que era muito perigoso e que se eu quisesse ficar seguro tinha que pagar 6 mil pesos pra ele.

Desistimos de Puerto Varas por conta dos flanelinhas.

Seguimos pela rodovia e iniciamos o trajeto que iriamos começar no outro dia, dar a volta no Lago Llanquihue. Paramos no primeiro camping da rota, estacionamos no meio das árvores, fizemos nosso almoço e ninguém apareceu. As torneiras estavam sem águas e não havia eletricidade. Fomos embora. Na saída um enorme alemão apareceu para dizer que o camping estava fechado.

No segundo camping da rota havia uma casa bem no estilo alemão, muito antiga, com vidros quebrados e as cortinas balançando ao vento, num típico cenário de filme de terror. Toquei a companhia e uma idosa alemã veio vagarosamente na chuva,mancandode uma perna, para me dizer que estava fechado.

Seguimos em frente.

Chegamos na charmosa Frutillar, na beira do grande lago, talvez a cidade mais alemã do Chile. Na Frutillar Alto ficam a maior parte dos comércios e lá vivem os chilenos. Na Frutillar Bajo, ficam os alemães, onde fica o centro histórico, criado pelos colonizadores alemães.

Encontramos um belo camping na Frutillar Bajo, num sítio cheio de patos, cachorros, gatos, vacas, cavalos e frutas no quintal e lá ficamos por dois dias. Ali fizemos algumas arrumações e mais alguns testes culinários de Ade, saborosos como sempre. Na foto um salmão defumado, regado com limão, acompanhado por um espumante nacional, do Chile, claro.

Frutillar Bajo respira música e arte. A principal atração é o Teatro do Lago,  anunciando atrações internacionais para o ano todo.

Os enfeites na cidade são musicais. Os pontos de ônibus são com notas musicais, lixeiras são com bailarinas e existem esculturas de pianos, violinos e outros instrumentos.

A cidade é quase toda de madeira, ao estilo que muito lembra a Rota Romântica na Alemanha, onde estivemos na nossa segunda expedição.

Fomos saborear a mais famosa torta da cidade, a Kuchen, realmente uma delícia e depois compramos chocolate direto na fábrica. Ade gostou tanto da torta que até pediu para tirar foto com a confeiteira.

Deixamos a cidade mais alemã do Chile e seguimos para completar a volta ao lago, no Circuito Lago Llanquihue.

Pela estrada passamos perto dos primeiros vulcões de nossa rota. O Osorno, o Calbuco, o Pontiagudo e o Cerro Tronador. Não tivemos sorte para fazer belas fotos por conta das nuvens que cobriam a região.

Mesmo sabendo dos riscos, seguimos para junto de alguns deles, que na verdade estão mais para atração turísticas do que para atemorizar ou exigir cuidados maiores. Mais ou menos.

Resolvemos subir em um dos vulcões. Começamos subir com a intenção de chegar até a estação, bem próximo da cratera do imponente Osorno. Muita gente vai até a estação com carro, vans, bicicleta, a pé e até com ônibus da para chegar. Nós fomos.

Tudo ia bem, seguindo por uma estrada de asfalto, estreita, sem pontos de paradas ou opções de retorno. O asfalto estava molhado e o termômetro da Caca marcava 0 graus.

Apos a metade do caminho, começou uma tempestade de neve e tudo foi ficando coberto de branco. Nossa alegria foi grande vendo os flocos dançando no ar, um presente que a gente estava esperando acontecer.

A tempestade deixou uma fina camada de gelo mole no asfalto, mas a Caca estava obedecendo aos comandos e ainda estávamos felizes.

Faltando 100 metros para chegarmos na estação de esqui, no topo da montanha, a Caca desistiu, começou a patinar, deslisar no gelo e não subia mais. Por sorte permaneceu no asfalto e não caiu na ribanceira.

A alegria acabou e o pânico se instalou.

Não havia como virar no caminho estreito e foi um sufoco voltar de ré, com a primeira marcha engatada, controlando o freio de mão, sem comando no volante, deixando a Caca escorregar por uns 50 metros até que foi possível arriscar um espaço para poder virar e voltar de frente montanha abaixo.

A nossa segurança dependia muito do “meu eu motorista” e procurei manter a calma o tempo todo, mas a tensão era visível. Ade ficou totalmente apavorada com a situação, rezando em voz alta pedindo ajuda para Nosso Senhor.

Valeram as orações.

Conseguimos descer a montanha sem despencar. O sol surgiu novamente e até paramos para mais fotos. Mas Ade não desceu e só queira fugir daquele lugar.

Conseguimos descer sem problemas, tirando o susto. Aos pés do Vulcão Osorno, agora temido por nós, onde já não havia mais neve e o dia estava claro, com céu azul. Sentimos alivio e rimos muito da fria que entramos, literalmente.

Nesta região é assim mesmo. Ninguém sabe informar qual será a real situação do tempo meia hora depois. Tanto pode brilhar o sol, despencar neve do céu, cair granizo ou soprar um vento muito forte.

Seguimos com precaução, esperando o inesperado e fomos conhecer mais uma atração da região dos lagos chilenos.

Saltos del Petrohué.

Os saltos formam várias cachoeiras com águas verdes claras, que descem pelas correntezas do Rio Petrohué, no Parque Nacional Vicente Pérez Rosales.

Este rio é um dos mais escolhidos para a pesca do salmão. Eu fui falar com o guarda-parques e ele deixou bem claro: para pescar tem que ir na prefeitura e tirar uma licença. Sem a licença é terminantemente proibido, sujeito à várias penas e multas. Seria legal um salmão tirado na hora, mas…

nossas varas ficaram guardadas.

Ficamos só no passeio, vendo os saltos de todos os ângulos e de onde também é possível avistar dois dos vulcões que dormem na região.

Terminamos a volta no lago, jantamos em Puerto Varas e seguimos para dormir na cidade de Osorno, sem camping, chegamos já era noite, procuramos até que encontramos um lugar seguro para dormir.

Dia seguinte um belo sol nos brindou pelo caminho que leva até as Termas de Peyehue, onde dormimos por dois dias no belo camping do complexo, às margens de um rio caudaloso que embalou nosso sono.

Relaxarmos nas águas aquecidas pelos vulcões, com temperatura de 39 graus, numa piscina ao lado de um rio com águas a zero grau.

Pelos nossos olhos de morgados, nota-se que a água é mesmo relaxante.

 

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