Motocicleta pelo Brasil 38 ILHA DE MARAJÓ – PA

38 ILHA DE MARAJÓ – PA


 

Saímos antes das 6 horas da manhã para pegar a balsa para a Ilha e navegar  por 3 horas, desembocando pelo Rio Amazonas. 

Reparem o garoto me olhando com a cara da simplicidade, esperando na fila para embarcar.


A viagem é longa e, na cabine VIP é um pouco menos cansativo do que a popular que vai superlotada com pessoas, malas e caixas com diversos produtos. 

 

Quando chegamos no cais, uma invasão de carregadores de malas, afoitos para pegar uma carga, atravessam correndo, pulando para dentro da balsa, antes mesmo dela parar e a confusão só termina quando os passageiros sobem nos ônibus, taxis ou vans que levam até a cidade de Terranova e Soures. 

Pegamos uma van que nos levou até a pousada em Soures, depois de passar por uma balsa também super lotada com ônibus, caminhões, carros, motocicletas e muita gente a pé. 

 
Chegamos na pousada, tranqüila, com quartos bem arejados e conseguimos alugar o último quarto disponível, por sorte um dos melhores da pousada. Solicitamos almoço com filé e queijo de búfalo, salada, arroz e feijão.

 

 
Saímos para caminhar e logo começou a chover. Ficamos abrigados em baixo de uma marquise e o dono da casa nos chamou para dentro. Lá um rapaz forte e sossegado, nos contava como é a vida por aqui. A tranqüilidade estava estampada no seu rosto. Dizia que quando acabam os peixes na geladeira eles voltam ao rio, pegam mais e garantem a alimentação. Fora este penoso trabalho não tem muito mais o que fazer na pequena e pacata cidade. 

 

As lojas do centro são pequenas e normalmente o próprio dono cuida, diminuindo muito as opções de emprego. As pessoas não tem muitas aspirações e a televisão alimenta seus sonhos. Muitos jovens já crescidos nunca saíram da Ilha e outros, no máximo, conhecem a capital Belém a 3 horas de barco. 

 

A chuva passou, pelas ruas chupamos mangas que caíram com o vento e fomos sentar em banco da praça apreciar o movimento. 

Ao final da aula na escola de bela aparência, crianças passam uniformizadas fazendo brincadeiras com suas bicicletas voltando para casa felizes, certamente pela liberdade pós aula.

 

 

Como os pontos de visita ficam afastados, alugamos um taxi e fomos com motorista de guia, que nos levou até a Praia do Pesqueiro, onde antigas casas em palafitas, que pertenciam aos pescadores, se transformaram em casas de veraneio e a vila fica deserta fora da temporada. 

 

 

 

 

Depois fomos conhecer um artesão que produz belas peças de argila e de madeira. Apesar da riqueza e beleza de suas peças, vive uma vida simples sem muitos recursos, enquanto sua obra enfeita as belas casas de muitos turistas, que certamente se exibem e se vangloriam por te-lá comprado a preços módicos. São peças rústicas, produzidas da mesma forma que os antepassados.

 

Eu me aventurei a produzir uma peça  de argila no torno girado com os pés. É fantástica a sensação de produzir um rústico vaso com instrumentos e matéria prima rudimentares.

 

Depois passamos pelo curtume, muito limpo e sem aquele cheiro desagradável, onde eles tratam o couro do búfalo em fases diferentes de imersão, secam e ali mesmo produzem bolsas, sandálias, botas, cintos, chaveiros e chapéus e ali mesmo vendem. 

 

O couro do búfalo apesar de grosso é macio e fácil de transformar em arte. Até o couro que envolve o testículo vira bolsa. Literalmente, é um saco carregar aquela bolsa. 

 

Passamos pelo matadouro, pelo cemitério, pela igreja, escolas até chegarmos na pousada, novamente com chuva. 
 
Ao entardecer um bom papo com um grupo vindos de São Paulo e depois com uma senhora e seu filho vindos de Minas Gerais, todos a passeio. Conversamos até o escurecer, quando os mosquitos começaram a picar nossas pernas, mãos, braços, pescoço, rosto e em qualquer lugar onde possam sugar sangue. Incomodou muito e todos se recolheram para os quartos até  por volta das 20 horas quando os chatos insetos foram embora e todos voltamos para ver e admirar a lua e novas conversas. 

 

No café da manhã, mais interação com outros hóspedes, saboreando frutas, sucos, queijo de búfalos e ovos fritos. Simples e delicioso.

Contratamos o motorista do taxi para nos levar até as fazendas, organizadas para receber turistas. Fomos até a primeira fazenda, onde comemos bacuri, andamos pela selva, pelos mangues, de canoa e pelas margens do rio que parece mar. 

 

 

 


Por trilhas de madeira, entramos novamente na mata, sobre as águas do mangue em um espetáculo de troncos e raizes das árvore do igarapé. 


No caminho existe uma árvore que sustenta uma lenda que lembra a história de duas tribos indígenas, rivais entre sí. Em determinada época houve um caso amoroso entre a índia Nira e o índio Caimbé, cada um filho do cacique das tribos rivais. 

Quando os caciques souberam, proibiram o namoro e os jovens índios, apaixonados, vieram até este local e beberam, juntos, um veneno chamado Curare. Os dois morreram e anos depois nasceram sob forma de dois mangueiros abraçados entre sí. É por isso que a trilha se chama “Trilha dos Mangueiros Apaixonados”


Chegamos a um local onde haviam búfalos esperando, preparado para uma bela cavalgada, ou seria bufolgada, pela selva. 

 

 


Junto conosco neste passeio estavam duas simpáticas garotas, uma alemã e outra inglesa que estão passeando pelo mundo.

 

Fomos almoçar em um restaurante típico da cidade e conhecemos a dona, que  nos preparou uma galinha. Enquanto nós comíamos, ela contava a lenda da mulher cheirosa. 

Dizem que uma mulher traída pelo marido, foi morar no mangue e com seu perfume fatal atrai os homens que ficam embriagados, caídos, mundiados aos seus pés. Até hoje, muitos homens evitam passar na travessa 8, por onde a mulher cheirosa passa, atraindo os homens para que se arrastem aos seus pés, no mangue, feito caranguejos. Como não gosto muito de me arrastar no mangue, evitei de passar na travessa 8.

Visitamos o ateliê de um outro artesão, que fabrica peças em argila tal qual se faziam há milhares de anos. Usando dentes e ossos de animais para esculpir e desenhar, pedras e cascas de árvores para colorir, o artesão descendente de índios, fabrica peças que mantém as mensagens e motivos milenares. 

 

Cada peça tem uma história que nos foi contada pela esposa do artista. A vida deles também é muito simples, nada compatível com o valor cultural de suas obras. Pelo valor histórico futuro destas obras, os artesãos deveriam ter melhores recompensas.

 

 

Voltamos para o passeio da tarde na fazenda da doutora que mantém um santuário da natureza, preservando florestas, manguezais e animais. 

 

Além de cuidar de aves, jacarés, búfalos e cavalos feridos, trazidos pela população, as crianças participam de aulas de interação com a natureza participando de jogos interativos. 

 

Na caminhada de 8 km pela fazenda, passamos por locais onde uma visão da beleza se repetia a cada passo, descortinando flores, lagoas com águas límpidas cheia de peixes e sapos, bicho preguiça, árvores centenárias, dezenas de especies diferentes de aves, búfalos e cavalos selvagens.

 


Caminhos por entre os lagos nos fez sentir um enorme prazer de ficar em cada lugar, mesmo que por pouco tempo, parados, só olhando, deixando a mente descansar, se preocupando somente com as poses para fotos.


Com nosso guia aprendemos o significado do perto e do longe com a posição do dedo indicado. Quando for indicar que é perto, o dedo fica estendido, reto. Quando o dedo estiver torto, indica que a distância é longe, com muitas curvas.


Voltamos para a sede da fazenda ao entardecer, onde estava servido um delicioso lanche, com suco natural, café e bolachas com as geléias da casa.  

 


Na despedida abraçamos todos e a emoção tomou conta por culpa da despedida. Incrível como um relacionamento de poucas horas criam uma afinidade ao ponto de escorrer lagrimas na partida. A força do abraço demorado da Ade e as suas palavras de agradecimento tocam fundo na emoção das pessoas.

Deixamos aqui o nosso profundo agradecimento ao trabalho da doutora pela sua dedicação, amor e carinho, despendido aos seus empregados, visitantes, plantas, terras e animais. Agradecer pessoas como a doutora é pouco, bom seria se o estado oferecesse prêmios ao mérito de tão nobre pessoa.

 

Voltamos para a pousada, um jantar com omelete com queijo de búfalas e depois uma longa conversa com dois ornitólogos, um paraense e outro boliviano. 

Até tarde da noite, com a lua vez ou outra ficando descoberta pelas nuvens prateava o jardim, ouvimos mais lendas, histórias da região e aventuras que os dois jovens já vivenciaram. 

 

Hora da partida, ainda no Porto, a balsa recebe dezenas de vendedores ambulantes, oferecendo bolo de macaxeira, tapioca, chopp que é um picolé em saquinho, água de coco, bolacha, curau, salada de frutas e outras guloseimas. Quando a balsa vai partir, todos descem e a única opção que fica é uma pequena lanchonete a bordo. 

Mesmo não utilizando o meio de transporte característico da Ilha, deixamos a  Marajó, com um enorme prazer de ter vivido aqui por alguns dias.





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