Carro pela Europa 47 – COLLE DI VAL D`ELSA – ITÁLIA

47 – COLLE DI VAL D`ELSA – ITÁLIA


 

Afastado do litoral, passando por lugares bonitos, fomos conhecer a terra dos cristais, 120 km de onde estamos hospedados.  

 

Estrada muito bonita, cheia de belas paisagens, tomadas com plantações de uvas e azeitonas. 

Notamos que num trecho da estrada haviam muitas pessoas paradas, esperando alguma coisa. Paramos para perguntar e descobrimos que iriam passar os ciclistas profissionais na volta da Itália, evento de muita importância na Europa.

Eu perguntei a um senhor se era a Volta da Espanha, ele sorriu e disse “não, é a Volta da Itália”, claro, estamos na Itália. Ele perguntou de onde viemos e quando disse que era do Brasil, ele falou “é a terra do Maradona”, eu disse não, é do Pelé, Zico, Ronaldo e Neymar.  Ele continuou errando ou me provocando por que eu errei na Volta da Itália e disse ”há sim, é a terra do papa”. Erros geográficos à parte, nos divertimos até que começaram a aparecer os primeiros sinais da prova. 

Passaram os primeiros carros e motos que vinham abrindo o transito para os ciclistas. 

Em alta velocidade eles passam, numa disputa que, mesmo nos poucos segundo da passagem, emociona.

São muitos carros de apoio aos atletas, policiais, organizadores e ambulâncias para assistência aos atletas.

Depois que passaram, seguimos atrás, observando as pessoas que foram para a rodovia e nas pequenas cidades para ver o cortejo passar. Ade se divertiu falando “Bongiorno” para as pessoas, quase todos respondiam de forma alegre.

Paramos em uma refinaria de azeite e encontramos uma senhora de uma simpatia que encanta. Ela nos ofereceu provas de azeites e patês, conversamos por mais de meia hora, compramos e seguimos viagem. Até não precisávamos comprar o azeite e o patê, pois já temos em casa, mas a presteza dela foi tanto que foi praticamente impossível sair sem comprar. Outro ponto interessante e que ela só fala italiano e nós não, mesmo assim, a conversa foi alegre e quase que totalmente entendível.

 

Chegamos em Colle di Val d`Elsa, considerada a cidade dos cristais por conta de sua longa tradição na laboração do precioso material.  Existem várias industrias que fabricam peças de cristais com tecnologia de produção em massa, dezenas de artistas que ainda continuam fazendo peças manufaturadas e muitas lojas que vendem as peças preciosas pela cidade toda.

A cidade produz 95% dos cristais da Itália, 14% de todo mundo e exporta cristais bruto.

 

Primeiro fomos conhecer a parte medieval da cidade, toda amuralhada, com casas construídas de pedras, ruas estreitas, igrejas, pontes, museus, restaurantes, lojas e alguns ateliês de cristais.

 

Entramos na “Cattedrale dei Santi Alberto e Marziale”, onde estão expostas várias telas pintadas por renomados artistas italianos e depois em um oratório subterrâneo, dedicado a “Confraternita di Misericordia”,  com membros dedicados à ajuda aos necessitados. A instituição existe desde 1.244, sendo a mais antiga de misericórdia feita por voluntários. Adotaram “La Buffa” como vestes para se protegeram das pestes que assolavam a região e para se manterem no anonimato. 

Um dos altares do oratório está decorado com urnas funerárias antigas e causa um pouco de medo ou, no mínimo, uma sensação estranha.  Durante nossa visita, cantores ensaiavam músicas sacras. Aquela voz ressonando competindo com um silêncio sepulcral e aqueles caixões que não vimos se tem ou não morto lá dentro, proporcionou uma experiência contemplativa que não sei bem explicar, mas mexeu com nosso instinto. Ade quase não viu nada, logo saiu.

 

Nos orientando pelas placas, chegamos na “La Grotta del Cristallo”. Lá conhecemos o artista que produz toda sua coleção de forma manual. Sua técnica apurada de lapidar, suas ferramentas e máquinas rudimentares, foram herdadas de seu pai, já falecido, e de sua mãe que ainda trabalha com ele. Eles fazem questão de preservar a arte, a cultura e a tradição em tudo que apresentam na grota dos cristais. 

Luciano Bandinelli herdou a sensibilidade de esculpir e polir peças delicadas que encantam pelos entalhes, pela cor e pela transparência. O som que o cristal produz, quando tocados como se fosse um brinde é fantástico de ouvir, quase tanto ou tanto como um sino de bronze. 

Ele nos deu uma aula sobre a produção de cristais, desde a extração e misturas químicas, até a técnica de formatação, lapidação e polimento de uma peça.

Ade desfilou feliz pelas ruas da cidade muralhada, com cristais assinados por um artista que nós conhecemos.

Saímos e fomos para a parte nova da cidade. Próximo da praça central, entramos para conhecer o “Museo del Cristallo”, instalado num espaço subterrâneo, onde por séculos funcionou um laboratório e fábrica de cristais.

No museu tem a sala dos cristais, toda espelhada com centenas de peças nas paredes e no teto. Um ventilador sobra fazendo as peças se tocarem, produzindo um som dignos dos deuses. 

Ali estão expostas peças de vários artistas renomados de vários períodos, máquinas e ferramentas usadas no processo de fabricação das preciosas peças, como troféus elaborados para campeonatos esportivos, presentes a nobres e partes de instrumentos musicais usados por renomados artistas. 

Os cristais produzidos na região são destaques por conta da matéria prima que proporciona máxima transparência, brilho e resistência.

 

Saímos do museu e conhecemos outro artista fabuloso. Mario Beli, com 80 anos de idade, 63 lapidando cristais, nos recebeu com uma presteza encantadora. Ele começou a mostrar suas peças, contar sua história e, vendo o brilho em nosso olhar, tirou peças de sua coleção, que estavam embaladas, só para nos mostrar. Com a primeira peça ficamos encantados, com segunda ficamos deslumbrados e com a terceira peça de sua coleção, rimos à toa de tanta beleza numa peça que ele vende por 900 Euros. Outra aula de cristais e saímos maravilhados com tudo que vimos na cidade.

Apesar de Mario fornecer suas peças para grandes marcas mundiais, ganhar vários prêmios e expor em diferentes museus, reclamou de seus ganhos. Disse ele que o negócio com cristais não é muito rentável por que as pessoas preferem usar seu dinheiro para comer e não para comprar cristais.

Foi uma pena que nossa visita não coincidiu com o primeiro domingo de cada mês, quando os mestres da cidade se reúnem na praça do castelo para expor e fabricar peças na presença do público. Também foi uma pena que chegamos na parte da tarde na cidade e as fábricas só abrem para visitação pela manhã, mas mesmo assim, valeu muito tudo que conhecemos em Colle di Val d`Elsa, a cidade dos cristais. 

Na estrada novamente paramos para conhecer o “Castello di Monteriggioni”,  edificado 1.213, na época das guerras entre províncias que hoje formam a Itália. Foram muitas guerras na região. Pisa contra Gênova, Florença contra Siena, Florença contra Milão e outros contra outros, todos tentando ganhar espaço depois da queda do Império Romano. Os castelos eram fortes baluartes defensivos, especialmente para os nobres que ficavam apavorados enquanto seus súditos morriam e matavam nas guerras regionais.

O castelo de Monteriggioni hoje é uma zona de comércio, com lojas, museus e restaurantes que atendem os turistas, que chegam de várias partes.

 

 

Um dos museus expõe peças dos Cavaleiros Templários, onde também você pode comprar algumas peças réplicas das vestes e armas dos cavaleiros.

 

 

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