Carro pela Europa 76 – VOLTA PARA PORTUGAL

76 – VOLTA PARA PORTUGAL


 

 

Após alguns dias brincando como crianças na neve no Principado de Andorra, arrumamos as malas e seguimos rumo à Espanha, sem pressa, saindo das montanhas gigantes, que muito nos encantaram. 

Nossa próxima parada estava perto, era Zaragoza, que já conhecemos no outono passado.

 

 

Nosso hotel em Zaragoza era bem confortável. Estava muito frio na região. Reservamos uma noite e acabamos ficando duas, aguardando a confirmação de nossa filha Paula, que viria para nos encontrar em Madri. 

 

 

Saímos apenas para almoçar, depois para jantar e voltamos para o hotel e continuando o descanso, enquanto que lá fora o frio estava de rachar. À noite até a lua se escondia quase toda.

 

 

 

Iríamos encontrar Paula em Madri mas, infelizmente, mesmo após as passagens compradas, ela nos avisou que não poderia vir. Ficamos tristes mas entendemos os motivos dela. 

Resolvemos seguir viagem rumo a Lisboa e, pela primeira vez, não reservamos hotel, pensando em pernoitar onde fosse mais viável, apesar de que, fizemos uma lista de possíveis cidades e hotéis para nos abrigar.

O dia estava lindo, belas estradas, pouco movimento e fomos seguindo. As vezes sol, as vezes chuva, as vezes neblina, até que chegamos na fronteira da Espanha com Portugal.

 

 

 

 

 

Só paramos para admirar as belezas da estrada e para o lanche. O trecho foi longo, apesar de que Ade não estava se sentindo muito bem, resolvemos seguir até Lisboa. A bela estrada nos incentivava a seguir.

 

 

 

Chegamos, às véspera do natal, ligamos para nosso contato, que imediatamente veio trazer a chave de nossa casa, o mesmo apartamento de nossa amiga Isa, que novamente foi muito além do que se espera de uma boa pessoa.

Nos últimos meses, passamos por 23 países, centenas de cidades pela Europa e escolhemos voltar e morar por mais tempo em Portugal. Achamos a mais adequada para nossos planos de moradia. Em Lisboa vamos fixar nossa base nos próximos meses e fazermos passeios de bate-e-volta pela Península Ibérica.

Nos instalamos e começaram as surpresas. Primeiro um belo bolo Rei, especiaria de Portugal. Depois internet G4 instalada para nosso uso. Depois uma árvore de Natal com presentes meu, da Ade e da Paula, que infelizmente não veio. Depois um cartão de natal com palavras encantadoras, que nos deixou muito felizes e agradecidos.

 

 


Tudo isto que a Isa deixou preparado é coisa que ela faz muito bem quando recebe amigos. A árvore de natal, o cartão, os presentes, a internet e o bolo, nós assimilamos e nos sentimos felizes. Agora, copiar fotos de nossa família, colocar no porta retrato para enfeitar a árvore, não teve preço e nem emoção que pudesse ser contida. Eu e Ade choramos de alegria, de agradecimento por ter uma amiga que desejamos que todos tenham.


Por mais que queiramos, agradecer a receptividade e a atenção da Isa com a gente, não encontramos forma. Sabendo que tudo isto é só o começo, pois vamos ficar por aqui um bom tempo, ficamos somente no OBRIGADO, com letras grandes. 

Isabel, nossa querida Isa, nossa e de muita gente, só falta um “a” no final do nome para descreve-la melhor: Isa Bela, mas nem precisa, só de olhar para ela, é fácil perceber a beleza e o encanto. Perceber a nobreza de um ser humano é um privilégio de quem convive com ela. 

 

Isa e Victor, seu agradável esposo, estavam no Brasil para as festas de fim de ano, enquanto eu e Ade, sozinhos, em terras longínquas de nossos familiares, ainda sem amigos lusitanos, passamos o natal saudosos. Mesmo assim, Ade com suas mãos de fada para culinária e seus encantos para o natal, preparou uma bela mesa, enfeitou a casa e fez uma deliciosa ceia. Eu ajudei.

Depois falamos com a família pelo computador e pelo telefone, todos estavam alegres e felizes e, por nossa sorte, ainda não nos esqueceram e reclamaram nossa presença.

 

 

No dia de natal, nos sentindo ainda um pouco chateados por não estarmos com a família na tradição do natal, pegamos a carrinha e saímos passear. Paramos na praça em frente ao Mosteiro de São Jorge, comemos o tradicional pastel de belém, fizemos fotos e tomamos sol, quase despreocupados.

 

 

 

 

 


Eu disse quase despreocupados, por conta da saúde de Ade. Ela não estava no melhor de seu esplendor diário, já há alguns dias. Passando os últimos dias de 2014, a melhora não voltou como aconteceu outras vezes, quando ela se mostrava triste, quieta, com sono alem do normal, mas com o belo sorriso e sempre carinhosa. 


Aguardamos alguns dias, esperando a melhora e, no dia 30 de dezembro, após um crise mais forte, tentei uma clínica médica e não consegui vagas. Por orientação de uma atendente, levei Ade para o hospital São José, disse ela ser uma referencia no atendimento.

Lá chegamos eram 11 horas da manhã. Cadastro, triagem e longa espera até que um médico nos atendesse. Levada para um quarto, exames, muita demora e alta por volta das 3 horas da madrugada do último dia do ano.


 

Enquanto aguardava Ade, andando pelos corredores contando minutos que pareciam eternidades, encontrei um cidadão com uma placa no pescoço, esperando para ser atendido, acompanhado de dois policiais.

Ele estava muito fraco, fazendo greve de fome contra perseguições políticas que sofre desde a década de 80. Tentei convencê-lo de toda forma que sua vida era muito mais valiosa e que, mesmo ele morrendo, não iria mudar a moral dos políticos. Ele concordou e balbuciou “você não sabe o que eu já sofri”. 

Tentei novamente dar um outro rumo à vida dele, depois que ele foi atendido pelo médico e ele disse que iria pensar.

 

 

Ade foi atendida por 3 médicos e o diagnóstico foi uma depressão instalada, que arrancou sua vontade de ser feliz por estes dias. Voltamos para casa na madrugada, comprei os remédios e começamos o tratamento. 

A todo instante procurei me manter calmo, cuidando dela como necessário, mas na noite do ano novo, vendo ela caída na cama, tremendo para tomar uma sopa que eu preparei, esperei que ela dormisse e chorei por conta da minha incapacidade de resolver. É muito triste ver uma pessoa, como Ade, cheia de vida e sempre alegre, ficar amuada em plena noite de ano novo. 

A depressão é uma bosta, não deixa marcas físicas e mesmo assim acaba com a pessoa. Vendo Ade sem ânimo, fiquei a pensar, pesquisei para saber o quão poderosa é essa doença, capaz de derrubar sem ferir e foi, resumidamente, isto que encontrei.

Ficamos em casa, sem aquela gostosa correria para preparar a comida do ano novo, mas recordamos o passado, em Balneário Camboriú, com parte da família reunida, praia de dia, churrasco no almoço, jantar a noite, champagne e fogos de artifícios na virada, com alegria e bom convívio.

Lá também somos sempre muito bem recebidos pela Nice e pelo Junior, que não medem esforços para nos encantar, e conseguem.

 

Naquela noite dormimos sem fogos de artifício, sem champagne e sem votos de felicidades à meia noite. Passamos o ano dormindo, rezando para o ano novo trazer novamente a saúde da Ade.

Dia primeiro do ano, já medicada, Ade acordou, comeu frutas como todos os dias eu preparo para ela, não quis tomar café, chorou mais um pouco e voltou dormir enquanto eu fiquei a navegar sem a menor inspiração de ao menos desejar ano bom aos meus queridos.

Perdemos nossa primeira passagem de ano em toda nossa vida, foi triste, mas nossa motivação é maior e o desejo de ser feliz nos coloca em ação novamente para viver 2015, considerando o quanto gostamos de ficar com as nossas malas prontas para uma nova aventura.

 

 

Durante os próximos dias ficamos descansando, sem longos passeios, mas quase todos os dias andando pela região de nossa morada.

Levei a carrinha para revisão dos freios e troca de lâmpadas, na mesma oficina onde o dono já é meu amigo, mas cobra caro.

Isa e Victor retornaram de férias do Brasil, na véspera do aniversário da Isa. Levamos flores e presentes para eles, que são nossos presentes em Portugal.

 

A festa de aniversário da Isa estava uma delícia, com pessoas agradáveis e alegres.

 


Antes do bolo, saboreamos bons vinhos servido pelo excelente anfitrião Victor e deliciosa refeição preparada pelas simpáticas secretárias Rosália e Laura, com ajuda da Isa, Ade e da querida Flor, aquela senhorinha encantadora à esquerda.

 

 

 

 

Ade já está bem recuperada do mal que a agarrou no final do ano e agora foi minha vez de adoecer. Passei muito mal com um cálculo renal,  fui para o hospital e atendido após muita demora.

O sistema de saúde de Portugal está ainda mais falido do que o nosso brasileiro. Todos os dias os jornais noticiam o descaso de administradores, médicos e enfermeiros. Os enfermeiros tiveram uma redução dos salários nos últimos meses. Faltam médicos nos postos de atendimento. O atendimento particular e os medicamentos custam muito caro e uma das noticias mais comuns é a morte de pacientes por falta ou demora no atendimento.

 

 

O tempo que eu fiquei esperando para ser atendido, presenciei muitas cenas de descaso no hospital que é uma referencia no País. Muita gente doente e pouca vontade no atendimento.

Finalmente fui atendido, fiz alguns exames, o médico de poucos amigos, estúpido, me receitou, comprei remédios caros, tomei as doses certas e recuperei a saúde logo em seguida. 

Acho que a pedra do meu rim saiu em protesto ao atendimento pois, lá mesmo no hospital, enquanto esperava, as dores cessaram e não mais voltaram.

Dias depois, lá estava eu agarrado no osso, saboreando mais das deliciosas refeições preparadas pela Ade.

 

 

Para saborear este osso, rodamos os açougues e supermercados em busca dos ingredientes, fizemos um delicioso Einsban e convidamos nossos amigos Isa e Victor para o jantar. 

Ade no comando e eu na ajuda, ouvindo fado, com ingredientes portugueses, tempero brasileiro, receita alemã e amigos portugueses, fizemos um Einsban completo, incluindo ainda purê de maça com receita da internet e pudim à brasileira na sobremesa. 

Foi claramente um bom exemplo da mundialização das relações e dos sabores.

 

 

 

Continuamos nossa rotina de moradores e turistas em Portugal. A simpática Neuza, irmã de Isa chegou do Brasil e os passeios se intensificaram ainda mais. Agora seremos 4 a desvendar novos cantos e novos encantos lusitanos. Isa é nossa motorista, guia turístico, sempre com boa vontade, alegre e paciente, excelente anfitriã.


Dias depois, voltamos na casa de nossos amigos, agora para comemorar o aniversário da Sofia, filha do Victor e da Isa, uma garota encantadora que emocionava a todos com sua alegria a cada presente que abria. Foi outra bela festa na casa dos Ribeiros.

 

 

 

 

 

Continuamos nossa deliciosa rotina de passeios pela bela Lisboa, todos os dias com muitos turistas aproveitando seus encantos.

 

 

Nem só de paisagens, museus ou pontos históricos é feita uma viagem. O paladar conta muito na hora de avaliar os melhores lugares. Nas cidades que passamos, procuramos saborear a culinária típica de cada região, mas poucas agradaram.

Em Portugal a comida é especial. Dizem que muitos turistas chegam a Portugal só para comer suas delícias. A variedade gastronômica dos portugueses são tantas que fica difícil descrever em um post, mas vou resumir o que provamos.

 

 

O café da manhã, que por aqui é chamado de Pequeno Almoço, inclui pão, geralmente rústico, sucos naturais, frutas da época, café, leite, queijos, presuntos e alguns tipos de bolos.

O almoço é complicado. Não é fácil escolher dentre as dezenas de pratos tradicionais, à base de peixes, mariscos, carnes de ovelha, boi e principalmente, porco, assados e cozidos. 

 
 

Aves também estão no cardápio com perdizes, codornas, perus e frangos. Os embutidos fazem parte da refeição. São muitas variedades de linguiças e há quem diga por aqui que comer linguiça todos os dias é sinal de vida longa. 

O bacalhau é o carro chefe da culinária. Dizem que existe mil e uma receita de bacalhau, cozidos ou assados, com Natas, à Brás, à Gomes de Sá, à Minhota, à Lagareiro, sem contar tantos outros nomes que cozinheiras e cozinheiros, do lar ou de restaurantes colocam, com seus temperos especiais.

 

 

Sempre acompanha uma garrafa de vinho. Após a refeição comem frutas, sobremesa com doces à base de ovos ou arroz doce, um bom vinho do Porto após e um café para encerrar.

O lanche da tarde é a base de doces e café. É muito fácil encontrar uma pastelaria com dezenas de doces. O mais famoso é o pastel de nata ou Pastel de Belém.

O jantar é para redimir os pecados da gula do dia. O prato principal e tradicional é a sopa e todos os restaurantes, bares e lanchonetes servem suas especialidades em caldos, principalmente durante o inverno.

Mas é possível continuar engordando também no jantar. Muitos restaurantes típicos abrem à noite. A noite também as hamburguerias são as preferências dos portugueses.

Provamos alguns pratos típicos e restaurantes tradicionais de Lisboa e região, como exemplo, jantar de gala no Cassino de Estoril, para provar as delícias da comida oriental.


 

 

 

 

Fomos comer cordeiro em um dos restaurante com vários prêmios de reconhecimento, com uma carta com os melhores vinhos de Portugal e um atendimento especial em cada uma das poucas mesas do recinto.

 


Dias depois, nos fartamos no Restaurante Tromba Rija, que serve uma entrada com queijos, frios e saladas, um segundo prato com várias receitas de bacalhau, um terceiro prato com carnes, um quarto prato com frutas, um quinto com castanhas e finalmente o último com sobremesas variadas.

Para beber durante a refeição, vinho tinto e água. Junto com as frutas, conhaque, vinho do porto e uma bebida congelada, feita com amêndoas, de um sabor marcante e saboroso.

Finalmente um café para concluir a refeição que durou 4 horas com muita comida, bebida, bom atendimento e histórias sobre o local.

A senhora que nos atendeu disse que muitos famosos frequentam o restaurante, incluindo Ana Maria Braga do Brasil. Disse ela que a família tocava um pequeno comércio de vinhos e começaram a fazer petiscos com as partes nobres do porco, como disse ela, rim, fígado e a cabeça do porco. Interessante, no Brasil estas parte são quase rejeitadas, aqui é nobre, enfim, continuando a origem do nome, disse ela que o petisco que as pessoas mais gostavam era feito com o focinho do porco, que por aqui é chamado de tromba, daí o nome, Tromba Rija, ou poderia ser, se fosse no Brasil, focinho duro.

 

 

Outro dia foi a vez de um tradicional bacalhau assado, em um restaurante rústico e muito movimentado.

 


Em um outro dia, me fartei, não enfartei, com delicioso cozido à portuguesa e a lampréia saborosa, feita com arroz negro.

Noutro dia fomos em outro restaurante, onde também servem bacalhau mas a atração principal é o fado. Dois fadistas se alternam nas canções, expressando toda tristeza e melancolia do fado tradicional lusitano. 

Chegamos no restaurante, serviram vinho, queijos, azeitonas, pão e fiambre. As luzes se apagam, todos em silêncio, começam as canções, acompanhadas por um violão e uma guitarra portuguesa. Acendem as luzes, servem o bacalhau sem música. Apagam as luzes, voltam os cantores. Acendem as luzes, servem a sobremesa. Apagam as luzes, voltam os cantores. Acendem as luzes, servem o café e trazem a conta, concluindo um noite agradável, com bons amigos e a emoção de ouvir fado.

 

 

Meninas em noite de fado.

E o engordante Portugal não parou por ai. Recebemos mais algumas vezes Isa e Victor em nossa casa, fomos outras tantas vezes na casa deles.  

 

 

Ainda falando em comida e amigos, recebemos uma visita para o jantar, de Vani e José Carlos, amigos de Campo Grande, que vieram a passeio em Portugal e passaram um gostosa noite em nossa casa.

 

 

Assim vou concluindo este post, já estou ficando com fome, é bom lembrar que estamos somente testando os vários sabores. Continuamos com nossos exercícios e muita comida leve quando estamos a sós em nossa casa. Acho que isto quer dizer que, os amigos são engordantes, mais é sempre um enorme prazer comer e conversar. Saúde!

 



 

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