Expedição Bahia 2019 11. Fazenda de Cacau na Bahia

11. Fazenda de Cacau na Bahia


Paramos na Fazenda Yrerê, próxima de Ilhéus, para conhecer um pouco da história do cacau e provar a bebida dos deuses.

O antigo dono da Fazenda, um coronel do cacau, dividiu a terra entre os herdeiros. Como ele tinha muitos filhos, dividiu a terra em pequenas fazendas com 200 metros de largura por 11 quilômetros de comprimento, para que cada um ficasse com a estrada e o rio que cortavam a fazenda.

Não existem mais coronéis e os pequenos produtores, tentam sobreviver com poucos frutos e com o turismo. Assim sobrevivem o casal Gerson e Dadá, na pequena e bela Fazenda Yrerê, onde ficamos hospedados por três dias.

Cada canto da fazenda é uma atração. Como disse Dadá, “é preciso deixar bonito para alimentar a vaidade do turista, que adora uma boa foto para postar nas redes sociais”.

“Antigamente a gente só comia o mel do cacau e jogava o resto fora. Agora se aproveita tudo, mas o cacau está desaparecendo. Os velhos tempos dos coronéis e muito dinheiro, acabou. “.

Assim comentou José, com 67 anos, 34 dedicados na mesma fazenda, lembrando que o cacau já foi considerado moeda de troca e trouxe riqueza para muita gente, mas hoje o fruto e as pessoas precisam de ajuda para voltar os velhos tempos.

O turismo está ajudando manter a fazenda, que produz apenas para o consumo próprio no atendimento a turistas. A visita programada começa na roça e o José, que já comandou grandes colheitas,  hoje é um dos guias.

José mostra os detalhes do plantio e as curiosidades da planta, contando sua própria história junto com a do cacau.

A planta nasce em qualquer lugar, mas a maior quantidade e os melhores frutos saem da cabruca, sistema onde as plantas ficam inseridas nas matas, de preferencia, que tenha raios de sol.

José acredita e conta que o ciclo do cacau está no fim e teria que ter muito investimento para manter grandes plantações, empregos e livre da praga que, há mais de 30 anos devasta os cacaueiros.

A vassoura de bruxa é a praga que vem dizimando a produção do cacau, resumindo a colheita em pequenas quantidades. Governo e agricultores tentem estratégias para manter e aumentar a produção, mas a praga ainda persiste, escurecendo o fruto, diminuindo a quantidade e prejudicando a qualidade.

Com tristeza, José aponta para casas abandonadas que abrigavam trabalhadores. Hoje o trabalho é pouco, a maioria trabalha somente durante a colheita.

Os trabalhadores de sol a sol, agora temporários, seguem a tradição de colher o fruto com facão ou podão e transportar nos cassuás no lombo dos burros.

Depois de colhido a casca é separada da semente e colocadas nas bandeiras, lá mesmo na roça, de maneira que escorra o mel do cacau, a bebida mais deliciosa que já provamos.

Quando a semente chega na sede é colocada nos cochos e, após 4 dias, são espalhadas no piso da barcaça para secar.

A noite, o telhado da barcaça, que corre sobre trilhos, é fechado para não pegar humidade.

Na sede da Fazenda, o Gerson contou mais histórias do cacau, mostrou como são selecionadas as amêndoas e ofereceu para prova o suco da polpa, geléias e os deliciosos chocolates produzidos, que variam de 50 a 100% do mais puro cacau.

O chocolate é o carro chefe do cacau e teve origem nos povos que viveram e foram dizimados na América Central. A bebida era saboreada nos rituais, oferecidos aos deuses. O termo cacau deriva da palavra cacahualt, falada pela civilização Maia.

A colheita do cacau necessita de muito trabalho braçal que, hoje é realizado em família. Muitos estão migrando para a pecuária ou partindo para as cidades.

Dona Antonia, que vive na Fazenda junto com José, estava triste não só por conta do cacau, mas também por que não haviam pessoas para comemorar seu aniversario. Ela disse que neste ano, ninguém iria cantar parabéns.

Ade fez um bolo de emergencia e lá fomos nós fazer uma surpresa para a dona Antonia, que se emocionou e nos emocionou. Cantamos parabéns e partimos sem comer um pedaço do minúsculo bolo inglês adaptado pela Ade com uma cobertura de chocolate e uma vela normal afinada.

Algumas pequenas fazendas que exploram produzem seu próprio chocolate, o que sobra da colheita é entregue na cooperativa ou vendida para atravessadores, que revendem para indústria alimentícia, cosmética e de medicamentos.

Da nossa grata experiencia na Fazenda Yrerê , ficou a torcida e o desejo que a Bahia recupere a riqueza dos velhos tempos do cacau e que conquiste o sucesso também no beneficiamento do fruto dos deuses. Por produzir os frutos, é justo que a Bahia conquiste a fama das grandes marcas de chocolates.

Até que a vassoura de bruxa esteja eliminada das plantações, o baiano catador de cacau agora entristecido, vai seguindo a vida colhendo pouco, ganhando pouco e, mesmo assim, sem perder a alegria de viver.

E nós, seguimos nossa rica vida, gastando pouco, conhecendo muito.

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