Saímos rumo a Feira de Santana, pista dupla viagem tranquila. Depois de Feira pegamos a BR 116 com pista simples e um movimento intenso de caminhões, muito perigo até pegarmos uma rodovia estadual para Lençóis. Aqui começou o sertão da Bahia.
Numa seca de 10 meses, agravada ainda pela seca do ano passado, é a pior das secas que a região já viu. A vegetação está em repouso e o “urubú está com raiva do boi, por que o boi não quer morrer e não tem alimentação”. Gado magro estão quase atendendo ao desejo do urubú. Casa no meio do nada, sem plantas, pontes sem rios, desenhando um cenário que sugere que ninguém viva por aqui.
Os moradores confirmam que aqui não chove, ” mais se chover dá de tudo, fartura tem de montão…”. Vimos o gado magro e dois que já haviam morrido.
Chegamos a Lençóis, piso de pedras muito difícil para andar com a moto. Aqui também tem guias na cidade que cobram percentagem do hotel.
A noite fomos ao centro conhecer os passeios. Eles chamam de roteiro 1, 2, 3, 4, 5… . São roteiros padrão e todas as agências e guias particulares fazem o mesmo. O roteiro 1 é o mais atrativo. Tem roteiro até de quatro dias.
Segunda-feira, citando o dia sem querer causar vontade em quem está trabalhando, calça, botas, chapéu, protetor solar, repelente, bastão, mochila com banana, água, barrinha, toalha, faca, binóculo e apito faltou a lanterna, a nossa deixou de funcionar.
Chegamos na primeira parada no rio mucugezinho, que corre entre formações rochosas em caminhos fantásticos, até chegarmos na cachoeira do diabo, muito convidativa para um banho refrescante.
Na segunda parada, atravessamos pela gruta da lapa doce, com 800 metros de travessia, usando uma lanterna do guia, conhecendo formações maravilhosas, numa escuridão e num silêncio inexplicável. Quando todos apagaram as lanternas, tanto fazia ficar com o olho aberto ou fechado. Ficamos um minuto em silêncio numa experiência sensacional. É possível ouvir o silêncio. Dentro da gruta não e permitido falar alto por que a vibração do som pode iniciar desmoronamentos.
O solo é coberto com uma areia muito fina e macia e a cada pedaço se tem uma visão diferente de paredões e estalactites que formam figuras que você mesmo imagina o que é ou acredita no que o guia te contar. Com imaginação é possível ver figuras.
Saímos da gruta e o Toyota que estava nos esperando, levou-nos até restaurante para o almoço. Comemos uma comida caseira, incluindo cacto refogado, banana verde refogada salgada.
Depois fomos para a Fazenda Prainha com Lagos Azuis, onde encontramos águas transparentes, mornas, quase invisíveis. Fomos a uma caverna onde é possível ver o lago azul, somente entre 3 e 4 horas da tarde, quando o sol penetra por uma fresta e torna a água com uma cor maravilhosa.
Fomos nadar num rio de águas límpidas, com muitos peixes que ficavam beliscando nossa pele.
Voltamos por estradas de terra ao norte da Chapada onde a seca ainda não destruiu tudo. Ainda tem café, tomate, mandioca e plantação de cactos, que eles comem e dão para os animais.
Chegamos ao entardecer no Morro Pai Inácio. Nome dado em homenagem a um escravo que foi caçado e se refugiou no morro após ter se envolvido amorosamente com a filha do coronel. Eles não conseguiam pegá-lo por que ele ficava nos morros e se escondia em cavernas dos precipícios da montanha. Esta são vistas do alto do Morro Pai Inácio.
Para chegar ao topo é uma caminhada da 600 metros por pedras em caminhos íngremes. A visão é maravilhosa e ficamos lá até o por do sol.
Chegamos cansados por volta das 19 horas.
No outro dia, descanso pela manhã e a tarde fomos para o Ribeirão do Meio, com uma trilha por entre a mata, bem cuidada, com duas lanchonetes no trajeto, quase sempre caminhando pela sombra.
Fomos sem guias. Aqui também tem uma máfia de guias que desgasta a relação entre hotel e turista. Os guias são exigentes, atrevidos, tomam café no hotel, cobram de pessoas que nem foi eles que indicaram e a profissão passa de pai pra filho. O hotel fica refém deles. Aqui o hotel já cobra a mais do turista porque sabe que um guia vai exigir sua percentagem de 10 por cento das diárias. Alguns restaurantes pagam para os guias e a maioria não. Eles rechaçam para os turistas os que não pagam e elogiam os que pagam.
O Ribeirão tem um toboagua pelas pedras cor de rosa, verde e branca, de uns 15 metros de largura, 25 metros de descida, caindo numa piscina com águas cor de bronze mas possível de ver o fundo, com muitos peixes.
O garimpo por aqui foi proibido e hoje funciona de forma clandestina. Um homem tentou vender um diamante bruto por 200 reais e vendem outras pedras que tiram do rio. No curso do rio com muitas pedras não abrasivas, formam poços de águas quentes que parecem ofurô. É possível alimentar os peixes em cada poço.
Fomos passear pela cidade e encontrar um lugar para jantar, Encontramos o Restaurante da Fazendinha que serve um prato da casa chamado Furdunço, tipo um yakisoba nordestino. Muito bom.
Conhecemos outra região próxima da cidade, com o rio quase seco, mostrando seu leito de pedras semi preciosas. Pequenas cachoeiras com águas mornas e cor de bronze formam piscinas deliciosas.
Sentados nos pedras semi preciosas esperamos pessoas passar por ali para aprendermos o caminho das cachoeiras. Apareceu um casal de gaúchos e depois mais duas meninas do Rio de Janeiro e juntos fomos pelas trilhas desconhecidas, mas identificadas por pegadas no chão batido e escadas de pedras, até chegamos no poço do Harley, com uma bela cachoeira.
Depois passamos no salão de areia. Uma obra de arte esculpida pela natureza com paredes de seixos e pedras semi preciosas cravadas por toda a estrutura.
Conversamos com as meninas cariocas que trabalham organizando de eventos. Nos contaram vários nuances de suas profissões. Quando sobra um tempo, saem viajar pela natureza. Ficamos horas conversando sentados no morro de pedras que já foi leito de rio, observando o pôr do sol pelo lado contrario, iluminando a cidade.
O leito do rio é mesmo muito rico. Em uma catada, separei várias pedras com cores e texturas diferentes. Se lapidadas viram jóias.
Disse que inventa muitas coisas e que vai fazer uma casa sustentável em cima de um caminhão, que será coberto com alimentos orgânicos, flores e temperos. É um aposentado de emergência e ainda está confuso com a nova vida. Conversamos bastante no caminho de volta pelas trilhas e eu tentei ajudá-lo a organizar as dezenas de idéias que ele tem. Falei que ele poderia fazer uma lista com todas as opções e desejos, colocando objetivos, formas de executar, custos, finalidades, depois priorizar e executar obedecendo um cronograma. Sugeri que ele envolvesse a esposa, que ele estava desconsiderando. Juntos traçar as metas para ficarem mais tranquilos com a nova vida e evitar a ansiedade. Acho que ajudou por que ele agradeceu muito, várias vezes.
Na pousada, conheci um músico que vive de cidade em cidade cantando nos bares, conhecendo todo Brasil com os recursos que a música lhe proporciona. Vida boa.
Veja o flme da Chapada Diamantina, um lugar que nós adoramos e recomendamos a todos. Não deixem de visitar. É lindo.