Sul da América do Sul 2016 23 – ARAUCÁRIA DE PEDRA, ANTES DA NOSSA TERCEIRA FRONTEIRA

23 – ARAUCÁRIA DE PEDRA, ANTES DA NOSSA TERCEIRA FRONTEIRA


Paramos um pouco para conhecer a cidade de Comodoro Rivadavia, uma das cidades mais importantes da Argentina, especialmente pela extração de petróleo e famosa por ter o maior gasoduto das Américas. Por todo lado se vê poços de petróleo em pleno funcionamento.

Na entrada da cidade existe um depósito de antiguidades de máquinas que eles usavam para extrair água do subsolo e acabavam encontrando petróleo. Ao contrário de alguns lugares que já vimos que perfuravam para encontrar petróleo e encontravam águas quente, que se transformaram em parques de diversão. Aqui foram procurar água e encontraram petróleo

A cidade fica entre enormes montanhas recobertas de concreto para prevenir desabamentos que, se ocorrer, provavelmente soterra a cidade, que foi construída entre e sobre morros.

Saindo de Comodoro Rivadavia, a caminho de Puerto San Julian, entramos à esquerda numa estrada de rípio, que nos levou até um Parque Nacional onde se encontra um passeio paleontológico que se percorre a pé.

O ripio é um tipo de estrada recoberta com pedras pequenas e grandes, cheia de pequenos e grande desníveis. Tudo balança e levanta muita poeira. As pedras pontiagudas até poderiam furar o pneu da Caca, mas foi um prego o causador do quase transtorno.

Quando chegamos na recepção do Parque, percebi que o pneu estava esvaziando e fui pedir ajuda para um dos guardas que cuidam do local. Ele pediu para estacionar próximo à oficina, chamou seu colega e juntos numa total dedicação consertaram o pneu sem tirar do lugar. Foi realmente um

quase transtorno

Antes da entrada nos caminhos que percorrem o Bosque, se nota a transformação da paisagens. Algumas montanhas nos lembrou de imediato a Chapada da Mesas, em Carolina, no sul do Maranhão, norte do Brasil, onde vale muito uma visita.

No local existem dois Bosque Petrificados, um aparente e outro no subsolo ainda não explorado. Os vestígios comprovam que os bosques existem há dezenas de milhões de anos, quando ainda todas as massas continentais estavam unidas e formavam um supercontinente conhecido como Gondwana, que existiu há mais de 200 milhões de anos.

Em toda parte onde hoje é a América do Sul, havia um clima com abundante humidade, onde se desenvolviam grandes florestas com árvores gigantescas, com mais de 40 metros de altura, com até 2 metros de diâmetro. A espécie mais comum era a Araucária.

Estudos atestam que há 150 milhões de anos, naquela região, um gigante vulcão explodiu, provocou ventos superiores a 300 km/h, derrubou as florestas e cobriu de cinzas quase toda a Patagônia. Foi o mesmo poderoso vulcão que iniciou a formação das Cordilheiras dos Andes.

As árvores foram sepultadas pelas cinzas

Com o passar dos séculos, muitos séculos na verdade, as cinzas minerais foram ocupando os espaços das células vegetais, produzindo vagarosamente um processo de petrificação de toda vegetação.

Nos tempos moderno, a erosão foi tornado visível as árvores já petrificadas e tornou possível aprofundar estudos arqueológicos que desvendaram os mistérios. Concluíram a idade, as espécies, a velocidade dos ventos e ainda que abaixo destes troncos existem muitos outros soterrados, por isso o chamam no plural.

Parque Nacional de Bosques Petrificados de Jaramillo

Parece que aconteceu um grande desmatamento. Acho que somente o Poderoso Thor, com seu machado de ferro poderia cortar árvores de pedras. Nada disso, foi o vento mesmo.

Todos os troncos estão tombados na mesma direção, indicando que os fortes ventos vieram do oeste, onde hoje esta a Cordilheira dos Andes.

É impressionante a perfeição da mutação, a textura da madeira é idêntica, aparece perfeitamente a casa da Araucária e até os podres da madeira são perfeitos, só que de pedra. Até a serragem espalhada pelo chão é de pedra.

Este banco é de madeira, por enquanto.

O Bosque está muito bem cuidado, os guardam recomendam e existem placas por todo lado para que o visitante não saia dos caminhos demarcados com pedras vulcânicas da região e não toquem em nada.

Ao final o mesmo guarda borracheiro que arrumou o pneu da Caca, virou mestre e nos deu uma aula sobre tudo que acontece naquele lugar, onde a magia da natureza é evidente a cada passo.

A natureza é mesmo fascinante e nela tudo se transforma. Esta é mais uma prova. Era vegetal, que virou mineral e agora esta virando novamente vegetal. É possível ver o mato nascendo nas pedras.

Mais 50km de rípio e pegamos o bom asfalto da Ruta 3, nas intermináveis retas sem graça, até pararmos em Puerto San Julian, uma pequena cidade cheia de hotéis, que mostra nas praças, meios de transporte bem distintos. Eu nunca tinha visto uma carroça tão grande. Acho que era puxada por elefante.

Mais um pouco de Ruta 3 e paramos para dormir em Rio Gallegos, numa chácara cuidada por uma senhora de 86 anos, que aluga um espaço para motorhome. Nos sentimos em casa, fizemos churrasco, tomamos vinho e fizemos novas amizades com a família da velha senhora e com uma mochileira francesa que viaja sozinha de carona pela América do Sul. Ade a convidou para jantar com a gente e rolaram bons papos.

 

 

Chegamos na terceira fronteira da expedição

Foi tenso, diante de todas as informações que tínhamos sobre a fronteira do Chile. Diziam que eles tomariam toda nossa comida e a gente tinha bastante.

Pediram para nos preenchermos um formulário dizendo tudo que estávamos transportando de cereais, frutas, legumes, tubérculos, carnes e derivados de leite. Preenchemos e não omitimos nada. Em posse do formulário fomos passar pela inspeção.

Ade já sorriu e cumprimentou o fiscal que olhou sério e me perguntou de supetão:

Camisa 10?

Eu respondi:

Pelé

Ele soltou um sorriso, ficou feliz, disse ser fã do Rei do Futebol e começou a inspeção já num tom amigável. Pediu o formulário, uma sacola e foi colocando nosso alface, tomate, repolho, salsão, batata, laranja, mel, pêra, castanhas, carnes, ovos e sementes de girassol.

Como não mentimos e nem escondemos nada, pedimos para ele amenizar e ele foi devolvendo alguns produtos. Ele pediu para não contar pra ninguém, mesmo assim eu estou contando só pra vocês. Tiramos um foto e seguimos com nossos produtos que todo mundo dizia que iríamos perder.

Acho que o importante foi não mentir em nada, não esconder nenhum produto e ser amigável o tempo todo. Veja a cara de alegre dele quando Ade o abraçou e eu pedi para ele não confiscar ela.

Compramos o seguro obrigatório pra circular com veículos no Chile e, logo na primeira placa em solo chileno, paramos para colocar mais uma bandeira no nosso painel ambulante.

 

4 comentários sobre “23 – ARAUCÁRIA DE PEDRA, ANTES DA NOSSA TERCEIRA FRONTEIRA”

  1. Lega xará, mas poxa poderia ter aliviado o fiscal da fronteira não colocando a foto dele. Imagine alguém repassando ao superior.

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