Partimos para o norte da Argentina, em busca de novas descobertas, pensando nos vinhos, azeites e azeitonas, riquezas da região de Mendosa.
Seguimos por uma estrada sem graça, asfalto ruim, sem beleza natural por uns 150 quilômetros, pela Província de Neuquén, mas haviam frutas pelo caminho. Paramos, compramos e seguimos sem saber que logo à frente havia divisa de Províncias e uma barreira fitosanitária. O “viadinho” do fiscal levou nossas ameixas, laranjas e castanhas, mas não viu as bananas, maças, mel e limões.
É muito chato a política deles, em algumas províncias. Não fiscalizam direito e ficam falando que a culpa não é deles, só estão cumprimento a lei.
Poxa!
Ou fiscalizam e esterilizam tudo ou deixem de palhaçada. Inutilizar alimentos de boa qualidade não é nada legal, muito menos justo.
Numa barreira policial fomos parados e seguiu-se a mesma rotina. Antes que me pedisse documentos, interrompi perguntando onde haveria um camping para dormirmos. Ele esqueceu a fiscalização e gentilmente nos ofereceu o clube deles, a poucos metros do posto policial. Chegamos e um outro policial nos recepcionou, conversamos um tempo e quando eu perguntei qual o valor do pernoite ele disse 1.500 pesos. Eu disse que era muito caro e iria seguir para outro local. Ele sorriu e disse que estava brincando, que eu não teria que pagar nada. Fiquei pensando! Seria um costume natural da polícia, tentar extorquir mesmo que de brincadeira?
Não importa.
Dormimos bem, protegidos pela policia.
Entramos em uma região que estávamos ansiosos para chegar, a Rota dos Vinhos Argentinos, com aproximadamente 13.000 hectares de vinhedos aos pés da Cordilheira dos Andes, com temperatura média anual de 14,2º.
A região de Mendosa produz uvas para o desenvolvimento dos vinhos Chardonnay, Semillon, Torrontes Malbec, Merlot, Cabernet Sauvignon, Tempranillo, Bonarda, Pinot Noir e Syrah.
Por todo Vale de Uco, ao sul de Mendosa, estão mais de 30 bodegas que atendem a turistas com visitas guiadas, restaurantes e hospedagem nos vinhedos. A região é considerada a terra prometida do vinho argentino.
Paramos em algumas cidades pelo caminho, bonitas, limpas com avenidas largas e as maiores calçadas que já vi.
A Rota dos Vinhos começa em San Rafael e segue até Mendosa. No caminho encontramos várias vinícolas mas não paramos em todas. Nossa primeira vinícola, que por aqui chamam de bodega, foi a Bodega Argana.
Fomos recebidos pelo Rubens, proprietário atual que herdou de seu pai a paixão pela produção de vinhos. Com muita boa vontade abriu as portas da sua bodega e nos mostrou detalhes de todo processo de produção da bebida dos deuses.
A Bodega Argana produz suas próprias uvas, regadas com águas das Cordilheiras dos Andes, numa terra úmida, propícia para o cultivo. A produção é quase toda familiar, como quase todas as bodegas da região.
Ficamos um bom tempo, aprendendo com o Rubens que abriu as torneiras e nos permitiu conhecer detalhes do processo, desde a colheita, limpeza, seleção, descanso, fermentação, tempo de maturação, enfim, não me atrevo a descrever tudo que ele disse, antes de me tornar um enólogo. Quem sabe. Mexer a uva eu já pratiquei.
Ao final nos ofereceu seus melhores vinhos para degustação, com moderação claro, pois ainda teremos que visitar outras bodegas pelo caminho e, o mais importante, é conduzir a Caca com segurança.
Como o Rubens disse que amava café, diante de tanta presteza dele, doei um pacote do mais puro café especial do Moka Clube, que nos abastece durante a viagem. O café que levamos não é para doar, mas nesse caso, abri uma exceção.
Depois paramos em outras bodegas, visitamos, aprendemos mais um pouco, mas sem degustação.
Numa delas, a Bodegas Bianchi, compramos deliciosos espumantes e seguimos para Mendosa.
Em Mendosa, circulamos um pouco com a Caca pela cidade e já ficamos encantados. Seguimos para um camping escolhido e lá fomos recepcionados pela proprietária, que nos disse que o camping estava em reforma, mas deixou a gente ficar e ainda usar uma das cabanas que ela aluga.
Passamos um dia descansando de tantas novidades na nossa rotina, depois fomos passear na cidade.
Mendosa se concentra ao redor da Plaza Independência, onde ficam grande parte do que restou das edificações coloniais, após um intenso terremoto, em 1861.
Paramos para uma foto nos portões do Parque San Martin. São belos e enormes.
O centro da cidade possui uma excelente arborização, com árvores gigantes que formam túneis de folhas pela cidade. A maioria das ruas possuem canais de escoamento de água, que evita alagamentos e supri as árvores de água. Me disseram que só existem duas cidades na Argentina com esse tipo de irrigação e escoamento.
Em 2005 Mendosa foi eleita a cidade mais digital da América Latina, pela quantidade de redes sem fios e serviços que oferecem aos cidadãos.
As praças são bem cuidadas e guardam verdadeiras obras de arte com estátuas, jardins e cerâmicas.
Passeamos pelo Cerro da Gloria, era domingo e muita gente fazia churrasco nos recantos à beira da estrada. Encontramos uma feira de produtos artesanais e paramos para conhecer. Local bonito, gente bonita, músicas com talento e alimentos variados e deliciosos.
Provamos quase todos.
Nas barquinhas são servidos para degustação: pães, patês, azeites, bolachas, conservas, salames, queijos, azeitonas, geleias, chocolates, bolachas, vinhos, sucos, cervejas e tantas outras iguarias deliciosas, que é praticamente um almoço,
Visitamos o shopping, jantamos perto do camping e no dia seguinte seguimos para conhecer outras jóias dos vinhos sulamericanos, no Chile.