Viver como nômades temporários é também preservar amigos nos lugares por onde passamos e que nos encantam. Dentre tantos, o casal Marli e Alexis passaram fazer parte da nossas vidas e sempre ficamos com vontade de revê-los. Desta vez deu certo. Fizemos nossa rota diferente para poder passar pela casa deles, na cidade de Três Pontas em Minas Gerais.
Marli e Alexis também tem um motorhome e nos conhecemos na Bahia e de lá pra cá não deixamos mais de manter contato, mas desta vez o contato foi presencial, muito melhor. Foi muito bom passar uns dias conversando, comendo e passeando com eles, sempre cercados de muito carinho e atenção.
Nossa Caca invadiu a garagem do Toy, o motorhome deles, tipico de um lar doce lar.
Passeando pela cidade de Três Pontas, o Alexis nos levou para conhecer a olaria de um amigo. Lá tivemos uma aula de como se fabricam as lajotas. O oleiro nos contou que a argila chega em caminhões, são colocadas em máquinas para compactar, misturadas com águas na medida certa, transportadas por esteiras até passar pelas formas padrão. Depois de formatados, as lajotas descansam para uma primeira e uma segunda secagem. Em seguida são depositadas em enormes fornos fabricados com técnicas de construção bem parecidas com o legado deixado pelos romanos. Cada fornada termina de secar a argila a uma temperatura que varia de 900 a 1.200 graus centígrados, durante 50 horas. Depois fica mais 50 horas esfriando e está pronto para ser assentado nas mais diversas edificações.
Além de sermos recebidos na qualidade da receptividade do povo mineiro e descobrir as etapas da fabricação, ainda ganhamos um chaveiro.
Até ficar pronta, a lajota muda de cor várias vezes até terminar em um belo alaranjado.
Cada dia que ficamos em Três Pontas, Marli e Alexis não mediram esforços e boa vontade em nos apresentar a cidade e a culinária em diferentes restaurantes e padarias. Nos levaram para um culto na igreja evangélica e uma visita no Santuário Nossa Senhora D’Ajuda, que um dia já foi igreja e agora é santuário, por abrigar o corpo do Padre Victor, agora beato a espera da santificação.
Francisco de Paula Victor ou simplesmente Padre Victor, morto em 1.905, foi um sacerdote na cidade de Três Pontas, que dedicou sua vida para ajudar pessoas. Após sua morte muitos relatos creditaram milagres em sua devoção. Diante de tantas narrativas, o Vaticano iniciou o processo de sua santificação.
Sua imagem póstuma ocupa a ala esquerda do santuário e pela cidade a maioria das casas exibem uma imagem do ex-escravizado, que virou padre, se tornou beato e aguarda em seu leito, espera o dia de se tornar santo.
Na agradável companhia de Marli e Alexis fomos conhecer a exótica cidade de São Thomé das Letras, com pouco mais de 7 mil habitantes, poucos nativos e muitos agregados, no mais puro viver alternativo. Os alternativos estão por toda parte, muitos vendendo artesanatos e outros desfrutando e procurando desvendar os mistérios da cidade.
São Thomé é cheia de mistérios, mas dois deles são destaques entre estudiosos, moradores e visitantes. O primeiro é sobre a constante aparição de extraterrestres em seus discos voadores. Muitos afirmam já ter visto naves sobrevoando as montanhas vizinhas.
Muitas seitas, associações e grupamentos tem sede na região. Uma delas é o Maktub, uma palavra árabe que significa que tudo “já estava certo” ou “tinha que acontecer”, que ganhou fama e seguidores a partir de um livro escrito por Paulo Coelho.
Outro mistério é sobre a caverna que leva à Machu Picchu no Perú e para outras profundezas da terra, ainda existem dúvidas sobre qual é o caminho dela. Conta a lenda que somente seres iluminados conseguem acessar está passagem. Se os extraterrestres visitam a cidade ou se o portal existe ou não, ninguém pode afirmar.
A região cercada de montanhas guarda uma série de grutas, cachoeiras, poços, cânions, corredeiras e pequenas vilas onde vivem pessoas em sociedades alternativas. Por falar em sociedades alternativas, em vários estabelecimentos que passamos estava tocando Raul Seixas, inesquecível também por aqui.
Com estes mistérios, quem visita São Thomé das Letras, fica com a sensação de que há algo mágico no ar, uma energia que nos faz questionar a própria realidade.
Além do turismo, o que move a economia da cidade é a extração da pedra São Tomé, usada para recobrir pisos e bordas de piscina, muito valorizada em todas as regiões do Brasil.
O calçamento da ruas, paredes de casas, muros e enfeites são recobertos pela pedra abundante na região. A extração é tanta que os cacos que sobram dos cortes viram verdadeiras novas montanhas.
É horrível trafegar motorizado pelas ruas calçadas com a pedra São Tomé. A pé é preciso calçados seguros e muita atenção.
Um dos ponto mais visitados na cidade é a casa com telhado em forma de pirâmide, onde muitos chegam para fazer fotos e outros tantos simplesmente para meditar. A casa foi construída por um dos alternativos que viveu na cidade nos tempos passados.
No centro da cidade tem um caverna que já abrigou índios, exploradores e escravos fugitivos. Conta a lenda que um escravo fugiu da fazenda e se abrigou naquela gruta. Quando viu várias marcas de escrituras rupestres, o escravo copiou os carácteres e traduziu ou inventou uma bela carta pedindo sua euforia e mandou a carta junto com uma imagem de santo para o fazendeiro. O fazendeiro admirado com a qualidade da escrita atrelada à imagem do santo, concedeu sua liberdade e ainda construiu uma capela onde hoje está a igreja matriz da cidade.
A imagem do santo foi roubada da igreja mas a gruta e as escritas ainda estão lá para quem quiser fazer o teste de São Tomé, “ver para crer”.
Na igreja construída pelo fazendeiro encontramos algo curioso. Tem um cemitério ao lado e o diferente é que alguns túmulos estão na calçada, com inscrições dos nomes e as datas de nascimento e morte do falecido.
A curiosidade mais intrigante que vimos em São Thomé das Letras foi a Ladeira do Amendoím, um pedaço de terra que faz com que o carro se desloque sozinho num terreno que parece subida. Fizemos vários testes e ficamos muito surpresos. Seria uma distorção da realidade numa ilusão de ótica? Uma interferência extrema da natureza? Ou seriam influencias de seres alienígenas.
Por mais que tentem explicar os motivos que provocam o deslocamento do carro, na minha análise, a suposta descida na subida é apenas uma ilusão de ótica, mas é intrigante e curioso.
O mistério continua.
Na volta de São Thomé, paramos para conhecer o Monumento do Extraterrestre na cidade de Varginha, famosa por conta de aparições de seres de outros planetas.
Tudo começou na década de 90, quando três meninas passeavam nos arredores da cidade e ouviram um barulho na mata. Com medo, saíram correndo e pedindo ajuda. Um senhor que passava acionou o corpo de bombeiros que conseguiram capturar dois seres estranhos. Como estavam feridos, foram levados para o hospital. Depois a polícia apareceu, o exército veio conferir e até a Forças Armadas dos Estados Unidos chegaram para reconhecer e recolher o que restou dos pequenos seres de cor verde e marrom, olhos grandes, sem roupas, cobertos com um óleo pegajoso e cheirando um forte odor de amoníaco.
Mas afinal, a história é verdade ou não? Segundo historiadores e fanáticos, o fato aconteceu realmente e até existe uma cronologia com os personagens envolvidos. Mas, segundo a versão da nossa amiga Marli, enfermeira consagrada, professora nas faculdades da região e amiga de muitos que viveram naqueles dias do aparecimento, tudo não passou de uma grande oportunidade criada para promover a cidade e deu certo. Hoje Varginha é conhecida em todo Brasil e em muitas partes do mundo por conta da fantástica história dos seres que a visitaram. Aínda hoje Varginha recebe muitos turistas para visitar a nave espacial, comprar lembrancinhas e buscar detalhes dos seres marrons, bisuntado de óleo com cheiro de amoníaco.
Além dos muitos atrativos e curiosidades que vivenciamos e aprendemos, a melhor parte foi conviver por 4 dias com Marli e Alexis, pessoas queridas que estão e irão de ficar em nossos corações por toda a vida. Só temos a agradecer. Obrigado por vocês existirem e pela nossa honra de tê-los como amigos.