sul do brasil argentina e uruguai 2023 4 Missões, uma Rota que conta histórias com ruínas

4 Missões, uma Rota que conta histórias com ruínas


 

A Rota das Missões no Rio Grande Sul nos reservou grandes surpresas. A história das Missões iniciada pelos padres jesuítas surpreendeu a cada nova informação.

Conhecer a história da mistura das culturas impondo suas vontades e as desavenças dos povos indígenas, espanhóis, portugueses e até dos italianos, foi muito gratificante.

 

 

Enquanto Portugal e Espanha disputavam terras e a exploração das riquezas na América do Sul, a Itália, que não aparece na história das invasões, mandou padres que obedeciam as ordens de Roma para catequizar os povos nativos e marcar territórios. 

Os povos nativos, na maior parte índios guaranis, receberam muito bem os jesuítas, conhecidos como soldados de Deus, que vieram para trazer desenvolvimento e melhorias na qualidade de vida dos indígenas. 

 

 

Os índios aceitaram a intromissão da cultura italiana e viveram em harmonia com os soldados de Deus. No entanto, causaram ciúmes nos dominadores, criando  uma tremenda confusão entre os invasores espanhóis e portugueses.

Os jesuítas vieram organizados e criaram 7 povoados que viviam em comunidades agrupadas que eles chamavam de Redução, onde viviam os  nativos e os jesuítas. A organização apregoava uma vida sustentável e mais seguras para todos que ali habitavam em galpões, com moradas coletivas. Os padres ficavam em acomodações separadas. Cada Redução tinha suas próprias regras para a rotina de convívio, sempre obedecendo os padrões da Missão Jesuíta.

 

 

Uma Redução tinha a igreja como ponto central e em seu entorno, moradias e oficinas de artes, móveis e agricultura. Os próprios moradores faziam suas ferramentas, obras de arte, utensílios, remédios e produziam alimentos conforme as necessidades, sempre treinados e gerenciados pelos padres.

Conforme foram crescendo e se organizando, despertaram desconfianças de portugueses e espanhóis, até então, inimigos. Os invasores fizeram uma trégua e negociaram a região entre si, escanteando os moradores nativos e os padres italianos, aprovando um acordo que gerou um documento chamado de Tratado de Madri.

 

 

 

O Tratado determinou que as terras onde estavam as 7 missões criadas pelos jesuítas, fossem negociadas entre os dois países. E assim aconteceu. Os espanhóis ficaram com a parte onde hoje é a região de Colonia Del Sacramento, no Uruguai e os portugueses ficaram com as terras onde hoje é parte do Rio Grande do Sul.

Para fazer valer o Tratado, espanhóis e portugueses atacaram sem piedade os povos das missões exterminando quase todos. Os índios se dissiparam e os italianos voltaram para terra natal.

 

 

Os poucos índios que restaram ainda tentaram resistir, sob o comando de um bravo guerreiro que assumiu a liderança, mas logo também foi morto, lutando bravamente, mas sem sucesso. Na batalha ele foi atingido e enquanto agonizava, um comandante espanhol reconheceu que ele era um bravo e que deveria ser morto por um espanhol, não por um português. Mesmo agonizando e pedindo para viver, o bravo guarani foi baleado pelo comandante espanhol que queria as honras de tê-lo matado.

A saga ainda não acabou. Em plena decadência das 7 missões, chegaram os bandeirantes que escravizavam índios levando-os para a agricultura na região de São Paulo. Assim a missão dos jesuítas e as tribos guaranis chegaram ao fim completamente. 

Em protesto, os poucos guaranis que sobraram fizeram um monumento aos bandidos bandeirantes, colocando o busto de um soldado dentro de um buraco, ao lado do cemitério, olhando para a Redução que eles terminaram de exterminar.

 

 

Das missões ficaram somente ruínas e a algumas delas é hoje de patrimônio cultural tombado pela Unesco. Dos índios sobraram alguns que vivem da ajuda do estado e vendem artesanatos na própria Redução que um dia já foi morada digna deles. 

 

 

Ainda hoje estão preservadas algumas estrutura arquitetônicas, principalmente, em São Miguel e Santo Ângelo.

Santo Angelo é considerada a capital das Missões. A igreja matriz da cidade foi construída com pedras arenito pelas missões e ainda é mantida pelos católicos e aberta a comunidade.

 

 

Ade, como sempre faz quando visitamos uma igreja, se ajoelha para agradecer e pedir bençãos.

 

 

Em São miguel das missões ficam as ruínas  mais bem preservadas da história das missões. O sítio onde viviam cerca de 7 mil pessoas conta a historia ainda viva na memória do povo local. 

Pedaços da história são guardados como relíquias para não se perder no esquecimento.

 

 

 

 

 

Muitas histórias e lendas fazem parte do conhecimento dos moradores e historiadores da região.

Todas as construções eram feitas com pedras e madeiras, esculpidas pelos nativos e transportadas por carros de boi e sistemas de rolagem.

A lenda mais assombrosa conta que na torre da igreja das missões de São Miguel, existia uma cobra que engolia os meninos do coral. Ela comeu tanto que explodiu na torre. A gordura dela ainda está impregnada nas pedras.

 

 

Para saber um pouco mais tive o prazer de conhecer o Valtinho, um bisneto dos guaranis, que dedicou sua vida para preservar e contar a história dos antepassapados. 

 

 

Valtinho trabalha para a prefeitura e me convidou a conhecer um espaço que ele criou e hoje faz parte do roteiro turístico da cidade.

Na casa que ele viveu por muitos anos, conseguiu reunir um belo acervo de peças antigas e um centro de tradição indígena onde ele conta histórias e realiza um ritual indígena de purificação. 

 

 

 

Ele me convidou por que ia receber um casal que vieram da França e estão conhecendo as Missões e o contratou como guia. 

Eu, o francês e tua esposa brasileira participamos do ritual. Eu acendi a tocha, a mulher acendeu a pira que afasta os males e o francês a pira que atrai o bem. 

 

 

O local é perfeito para um ritual, com o sol da tarde entrando pelas janelas demarcando os raios pela fumaça. 

Valtinho, neto de guaranis, fez o ritual completo e benzeu a mulher do francês, orando com facilidade, ditando palavras que encantam os ouvidos e acalmam o coração.

 

 

Ao entardecer, sentamos com vizinhos motorromeiros e assistimos a um fantástico entardecer, no pátio onde já foi a Missão mais populosa de todas. 

A noite nós reservava mais uma surpresa espetacular. Um show de luzes e som quadrafonico de excelente qualidade, contou toda história com diálogos dos principais personagens. 

O céu estava brilhante, a lua pomposa é uma visão da via láctea enriqueceram ainda mais o espetáculo, digno dos melhores. 

 

 

Após o show fomos com os vizinho até um restaurante fazer um lanche. A dona do restaurante nos disse que estava engordando e pediu para sua mãe criar um lanche que a ajudasse na dieta. A mãe inventou o “X Sem Pão”, hoje famoso é muito saboroso. 

Voltamos para o pátio das ruínas e dormimos uma noite tranquila, vigiados por seguranças, com direito a água e energia sem pagar nada. 

Ade e os vizinhos confessaram ter sentido sensações estranhas, muito provavelmente da energia dos antepassados. Eles tem familiares de origem indígena.

 

 

Pela manhã acordamos no pátio de onde já foi uma grande comunidade de povos nativos e seguimos pela rota das missões.

No caminho entramos em mais uma comunidade onde já foi sede de uma das missões. Quando fomos perguntar numa casa onde estavam as ruínas, avistamos um pomar carregado com mixiricas maduras.

A mulher nos disse que não existe quase nada de ruínas, mas nos deixou colher frutas no pomar. Valeu o desvio.

 

 

Seguimos ainda pela Rota das Missões, passando por São Borja, a terra dos presidentes, até Uruguaiana, onde dormimos para no dia seguinte entrarmos na Argentina.

 

 

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Related Post