Longas retas nas estradas, com intenso movimento de caminhões de Imperatriz até o município de Estreito, até que entramos para a esquerda em uma rodovia de ótima qualidade, rumo a Carolina.
Trinta minutos depois começam a aparecer rios, lagos e formações rochosas diferentes de tudo que já vimos até agora. Por aqui começa a ainda não muito famosa Chapada das Mesas, ao Sul do Maranhão, na divisa com os estados de Tocantins e Pará.
Chegamos na pequena Carolina e tudo foi nos encantando. Fomos conhecer as opções de pouso com algumas dicas da web. Chegamos numa pousada, em um casarão de mais de 200 anos, com decoração rústica e objetos antigos que nos encantou de início, nem sequer fomos ver outras opções. Negociamos o preço e nos instalamos.
Saímos para fazer compras no mercado e abastecer nossa despensa para cozinhar no espaço coletivo da pousada e já conhecemos melhor a cidade às margens do Rio Tocantins, com ruas limpas e calçadas boas para o pedestre.
Já em casa um belo banho, jantar caseiro e a rotineira caçada da Ade aos carapanãs, nome dos pernilongos por aqui.
Um belo café da manhã, com especiarias feitas de produção exclusiva da cozinheira, que até nos passou algumas receitas, que vamos compartilhar uma delas por ter ficado muito boa.
Bolo de Café
– 4 colheres de sopa de margarina;
– 4 ovos;
– 2 xícaras de açúcar;
– 2 xícaras de café bem forte coado;
– 3 xícaras de trigo;
– 1 colher de fermento.
Bata tudo no liquidificador e coloque para assar em forma untada.
Esperamos que fique tão bom quanto o da Marlúcia, dona da receita, que todos os dias aparecia com quitutes especiais para gente provar. Achamos até que ela queria nos engordar.
Conversando com hóspedes, após o café da manhã, conheci um consultor que tem uma empresa em São Paulo e veio fazer auditoria em um projeto financiado pelo BID, que disponibilizou verba para uma ONG incentivar o plantio de frutas na região.
O projeto é destinado aos moradores de pequenas comunidades e aos índios. Ele disse que os moradores até que desempenham o trabalho, mas os índios, muito pouco. Toda produção é adquirida por uma empresa processadora de sucos que atua na região. Fiquei com a impressão que a processadora conseguiu a verba de incentivo para a ONG, para ficar com a produção. Mais ou menos justo. Me pareceu que o motivo primeiro do fundo investido não é ajudar pessoas e sim a produção.
Saímos para uma volta pela cidade procurando a casa da dona Luzia que vende frango caipira. Compramos o frango e passamos no mercado municipal para comprar os temperos.
A Ade se encantou e comprou uma lamparina que muito há tempos não víamos.
Encontramos também raridades a venda, que lá no Sul são relíquias de decoração e mostradas da internet como antiguidades. Aqui vende no armazém o ferro de passar roupas a brasa e o famoso e antigo pinico.
Já na pousada a Ade cortou e temperou o franco e deixou descansando na geladeira antes de cozinhar.
Fomos conhecer no Rio Itapecurú, as cachoeiras gêmeas. Chegamos e logo caiu uma chuva muito forte. Logo passou e o sol voltou a brilhar naquele pedaço de paraíso. Parece que o céu explodiu e um pedacinho caiu por aqui. A infra-estrutura do local foi preparada para o turista.
Até em baixo da cachoeira é raso e tem uma área com piso de concreto que a água corre por cima. Tem uma corda na correnteza que dá a sensação de estarmos voando e, logicamente, tem o banho em baixo das quedas d’água.
Voltamos para casa e Ade foi cozinhar o franco caipira que só ficou menos saboroso do que o próximo que ela irá fazer. Estava delicioso e chamou a atenção dos outros hóspedes e empregados, pelo cheiro agradável que se espalhou por toda a pousada.
Depois, um bom e demorado papo com os donos, pai e filha, da pousada e outros hóspedes que vieram de cidade vizinhas conhecer as belezas da região.
Saímos para conhecer o balneário da Pedra Caída, onde um guia nos leva por trilhas de madeira no meio da mata, passando por uma ponte pênsil, até chegarmos em uma alta e fina queda d’água, que de um lado da pedra é fria e do outro quente. A água, sempre transparente, mostra o fundo cor de tijolo.
Pegamos um toyota e passamos por estradas bem conservadas dentro da fazenda, até chegarmos ao santuário.
Caminhando um pouco, passando por um riacho com águas até a cintura, por entre paredões formando um canion, chegamos no santuário, poço enorme de aproximadamente 40 metros de altura, formando um turbilhão que chega a induzir um princípio de pânico, por estar no fundo de um poço com diâmetro de 4 a 5 metros.
Em um dos paredões tem um caverna onde a Ade entrou. Só cabem duas pessoas e lá dentro existe um salão com águas quentes caindo em forma de cachoeiras e completamente escuro. Confesso que fiquei tenso neste local por que os paredões são de arenito e muitos galhos e troncos de árvores que desceram rio abaixo. Ficamos o tempo suficiente para sentir a emoção da beleza e grandiosidade do local.
Depois passamos por uma caverna até chegarmos em uma cachoeira que nos leva a suspirar com tanta beleza. Águas sempre transparentes chão cor de tijolo, pequenos peixes e a temperatura da água impressiona de tanto agradável.
Na quarta e última cachoeira do dia a leveza das águas encanta de um forma macia. Piscina com águas azuis e chão cor de tijolo novamente nos fez agradecer por estar ali, naquele pedacinho do paraíso.
Voltamos sem pressa pela bela rodovia avistando montanhas que impressionam pelo tamanho e formação. Muitas montanhas com a mesma aparência, de topo cortado, com aproximadamente 360 metros de altura, formam a Chapada das Mesas.
Na pousada um longo papo com um chinês, um carioca e o dono da pousada. Não vou me atrever a escrever tudo que ouvi da cultura chinesa, mas foi muito rico conhecer o Oriente, na visão de um culto engenheiro, de quase dois metros de altura, que muito se esforça para falar o Português.
Jantamos no vizinho com uma deliciosa entrada de caldo de feijão e um prato principal simples, bonito e muito gostoso, servido no gramado da avenida central.
Mais conversa na pousada e um sono reparador numa cama de princesa.
Logo pela manhã fomos na feira do produtor, onde poucos produtos são colocados a venda e também poucas pessoas para comprar. Peixes, verduras, carnes, utensílios de casa e grãos são vendidos na feira.
Por indicação de várias pessoas que conversamos, fomos comer o Chambari que é uma comida típica feita com a perna da vaca que comem pela manhã quase todos os dias, com farinha de puba.
De chapéu branco, o relações pública da cidade, que já havíamos conhecido na pousada. Um pequeno maranhense de 72 anos, que já escreveu 4 livros, conta muitas histórias e conhece como ninguém a história e os causos da cidade. Foi ele que nos levou naquele bar comer o Chambari.
Ele tentava quase sempre rimar sua fala como um repentista, que ele mesmo diz não ser.
Falando sobre o homem abraçado com três garrafas de pinga, logo cedo, que sorria após cada gole, declamou e repetiu para eu anotar: “Beber cachaça é bacana e serve pra alegrar, mas se beber com excesso passa a extrapolar, tanto você passa vergonha, quanto faz o outro passar”.
Fomos na igreja, no Porto e no restaurante flutuante, que e uma das atrações e andamos pela pacata cidade durante horas.
Voltamos para a pousada e enquanto a Ade preparava o almoço eu aguardava na piscina ao lado da cozinha, conversando com ela e ouvindo música. Senti necessidade de ligar o som para o silêncio total não incomodar.
Depois do almoço fui tirar uma peleca enquanto a Ade conversava com outros hóspedes e empregados da pousada. Para quem não sabe peleca é aquele soninho após o almoço que no Sul chamamos de descanso.
Logo cedo fomos a campo e subimos 700 metros, por trilhas de madeira até chegarmos ao ponto de largada de uma tiroleza de 1.200 metros de comprimento e 398 metros de altura. Uma descida maravilhosa de um pouco mais de um minuto a uma velocidade de até 60 km por hora.
A noite na pousada, conhecemos um casal aposentados de Brasília que também viajam pelo Brasil em 4×4, mas reclamam que precisam voltar sempre por culpa de um neto que ficou sob os cuidados deles. Não é justo. Depois de criar os filhos, um neto modifica os planos dos aposentados que gostariam de ficar a maior parte do tempo passeando.
Inesperadamente, ganhei um presente da dona da pousada que me disse ser um colar de tucum, usado para definir o poder nas tribos indígenas da região. Foi muito simpática e emocionante a atitude dela.
A noite fomos tomar caldo de carne com ovo, muito bem temperado e saboroso.
Aqui convivemos com pessoas simples, turistas especiais, natureza exuberante e pássaros exóticos, que até pousam para fotos e ficam bem próximos dos visitantes nos vários balneários da região.
Pela manhã saímos para estrada, rumo a Palmas capital do Tocantins, com gosto de ficar um pouco mais.