Saímos de Palmas pensando em dormir em Paranã, metade do caminho até Alto Paraíso de Goiás. Como a Estrada estava boa e a viagem agradável, resolvemos seguir.
Como pelo caminho não tem boas opções de pouso, decidimos rodar 600 km até o próximo destino. Tudo bem, não fosse a surpresa que veio na segunda metade da viagem. Um asfalto ruim, cheio de buracos pequenos e grandes, em péssimas condições.
Passando por uma cidade que tem Belo no nome, mas na verdade não tem nada de belo. Deu vontade de xingar o prefeito e eu xinguei baixinho. Asfalto com buracos posicionados de tal forma que você sai de um e cai no outro.
Procurando por pouso, paramos em um hotel todo decorado com motivos extraterrestre e a Ade já dispensou dizendo que iria ficar com medo. Achamos uma pousada toda com motivos medievais. A construção em forma de castelo, a decoração com escudos, espadas, brasões, castiçais, bandeiras, portas, jardins, nome dos quartos, trincos, tudo relacionado ao tempo dos Cavaleiros Templários.
Em cada apartamento e no salão do café, cartazes na parede contam o história da idade média.
Os caminhos até chegar aos atrativos são sinalizados e vez ou outra avistamos pássaros, borboleta, macacos, camaleão e árvores gigantes. O local é muito organizado e limpo. Na portaria tem banheiros, água de filtro e local para descanso. As trilhas são calçadas com madeira e direcionam para cada um dos vários poços e cachoeiras. É quase impossível distinguir o local mais belo.
Por aqui, existem as casas normais na cidade e casas excêntricas na zona rural e em grandes terrenos.
Pela cidade e nos locais de passeio passam muitas pessoas diferentes. Pertencem a um clã de alternativos.
Os alternativos são pessoas místicas, vestem roupas largas, tem cabelos e barbas cumpridos, usam sacolas, sandálias, muito coloridos, tatuados e até com cajado de madeira vimos pessoas circulando.
São dois povos diferentes que vivem no mesmo espaço e praticamente não se relacionam, os nativos e os alternativos.
Contam que aqui também vivem alternativos nobres como a filha de uma princesa, o neto de um grande inventor do passado, o filho de um dos principais acionista de uma empresa mundial, artistas, escritores e atores famosos.
Esta é a cidade que não iria acabar com o fim do mundo em 21/12/2012, como previam os Maias. Neste dia, contam os moradores, foi uma invasão de pessoas de várias religiões e seitas de todo planeta. Muitos a espera de serem abduzidos por seres de outro planeta.
A cidade virou uma babilônia com rituais de orações, cantos e danças. A praça central foi pequena para tantos desejos. Muitos dos que vieram para o fim do mundo ficaram por aqui, outros foram embora no dia seguinte decepcionados por que o mundo não acabou.
A área é perigosa e, apesar de cobrar a entrada, pouca benfeitoria foi feita para facilitar e tornar o passeio mais seguro.
Por aqui sempre morrem pessoas ou ficam paraplégicas por falta de orientações. No ano passado foram dez acidentes graves.
Caminhando em áreas de pedras altas, buracos, cachoeiras e, especialmente, mergulhos em piscinas naturais e poços de água é importante lembrar:
- Use calçado adequado;
- Muita atenção onde pisa e onde segura;
- Verifique sempre a profundidade do local de mergulho;
- Não mergulhe em águas com menos do dobro de sua altura;
- Entre na água colocando primeiro os pés;
- Não mergulhe em águas turvas;
- Saltos de pontes, árvores, barrancos ou pedras aumentam o risco de acidentes;
- Crianças devem sempre estar acompanhadas por adultos responsáveis;
- Se ingerir bebidas alcoólicas, não mergulhe;
- Fique sempre atento com a presença de insetos e animais peçonhentos.
O caminho até o Vale da Lua foi tenso. Um trecho de 22 km sem asfalto, foi um desafio para o piloto, carona e para a moto. Areias, pedras pequenas e grandes soltas, buracos de tamanhos variados, valetas, subidas, descidas e poças d’água, fizeram do percurso uma aventura, por paisagens maravilhosas.
Na volta encontramos com um grupo de motociclistas e um deles ainda estava tremendo com a queda que acabara de sofrer. Andar na terra como moto feita para asfalto até é possível, mas não recomendável. Se tiver que ir, mantenha velocidade baixa, use preferencialmente o freio traseiro e sempre suavemente. Nas descidas mantenha a primeira marcha e nunca freie a roda dianteira em curvas ou passando por buracos, areia ou pedras soltas.
Lá tem restaurante, horta, trabalhos manuais e atividades de produção de alimentos e plantios. Fomos para comprar verdura e a cozinheira preparou um café produzido por eles, acompanhado de um pão que acabara de sair do forno. O prazer de estar naquela cozinha rústica e organizada e saborear aquele alimento saboroso é indescritível.
Eles vieram conhecer a cidade e não mais pretendem voltar para a vida agitada de São Paulo, onde viviam como professores. Foi uma noite digna de guardar na memória pela eternidade.
Ficamos curtindo a pousada pela manhã e depois fomos almoçar no seu Waldomiro. que prepara o Matula, uma comida muito saborosa com feijão, farofa, abóbora, carne de lata conservada na banha, salada de tomate, arroz e pimenta.
Antes da refeição tem uma degustação dos licores que o Waldomiro prepara.
A energia elétrica e eólica, a água é de poço e as construções foram feitas para aproveitar a luz do dia. Suas belas obras ficam espalhadas pela casa e no quintal.
Pediu para a empregada fazer um café e depois, mostrando mais obras, contou-nos várias passagens de sua vida. Abandonou os grandes centros e escolheu Alto Paraíso de Goiás para ficar na eternidade.
Ele nos fez um convite especial, pediu para que adiássemos nossa viagem, para participar de um evento no belo templo em seu quintal. Um importante líder espiritual, virá com a missão de resgatar pessoas especiais para o céu verdadeiro, esquecido e escondido dos humanos por eras de civilização.
Repetiu por várias vezes o convite e disse que nós não paramos ali por acaso e que estávamos com a oportunidade de aprender os três segredo que nos levará para a vida eterna no céu verdadeiro.
Depois de uma tarde transcendental, voltamos para casa e a Ade me disse que ficou com receios e não quer voltar para receber os três segredos de entrada para o céu verdadeiro. Respeitando seu pedido, não voltamos. Espero que uma outra oportunidade apareça para que eu receba os três segredos sagrados.
Os detalhes da construção parece que teve a ajuda de um verdadeiro Cavaleiro Templário. Por vários lados tem bandeiras e cartazes contado fatos da idade média e apresentando diversos brasões e personagens da época.
O nome Camelot é homenagem ao castelo onde se reuniam, duas vezes por ano, os Cavaleiros da Távola Redonda, para contarem suas fantásticas peripécias.
O Rei Arthur comandava o grupo de guerreiros que tentavam unificar a Inglaterra e expulsar os saxões. Muitos ainda duvidam se realmente o Rei Arthur existiu ou foi uma lenda que ainda perdura. O fato é que até hoje, seguidores, descendentes ou renascidos Cavaleiros Templários da Ordem de Cristo, deixam suas marcas com este belo castelo onde estamos hospedados.
Pelo caminho entradas nos levam até o leito do rio com águas límpidas, com corredeiras e quedas d’água, cada uma de beleza exclusiva.
Depois do jantar tipicamente alternativo, uma salada com verduras, legumes, castanhas, queijos e flores, muito bem temperada pela Ade, ficamos tempo observando uma raridade da natureza.
Foi muito legal ficar olhando, fotografando e tentando descobrir como aquilo acontecia. Pena que as fotos não ficaram boas e não será possível mostrar.
Passamos no Alemão do mel para provar e comprar na pequena loja mas com uma diversidade do produto impressionante. Jamais havíamos visto tantos sabores de mel e tanta qualidade dos produtos.
O brilho dos cristais, as águas cristalinas, as belas cachoeiras, o clima agradável e a variedade de mentes ilustres, acabam dissipando energias que provocam uma vontade de ficar mais. Postergamos duas vezes a nossa partida.
Não saímos nesta nossa viagem de moto pelo Brasil para encontrar opções de vida, como deduziu o artista galáctico que conhecemos na montanha da baleia. Nós saímos para conhecer tudo que existe, sem querer ficar longe de nossas pessoas, por isso vamos para Brasilia nosso próximo Trecho.