Deixamos a Argentina depois de percorrer seus recantos mais belos e entramos no Paraguai pela Capital Assunção. Na fronteira entramos naquele tumulto costumeiro dos paraguaios. Um cambista ficou do meu lado e outro me ajudando a fazer os trâmites de fronteira, o tempo todo.
Quando terminei com o processo da aduana, falei para o cambista que eu só tinha 40 pesos argentinos e queria trocar por guaranis. Ele e o amigo que ficaram na minha cola, me olharam com desdém por conta do pouco valor e se foram sem dizer adeus.
Entramos na cidade e ficamos espantados com a quantidade de gente vendendo de tudo pelas calçadas, invadindo as ruas, oferecendo meias, eletrônicos, panelas, cintos, azeite, chapéus e tudo que se possa imaginar.
Paramos a Caca bem na praça central e dois cuidadores se ofereceram para lava-la em troca de 60 mil pesos.Topei. Enquanto eles lavavam, cuidavam enquanto saímos a pé para passear.
Passamos pela catedral, pelo Palácio do Governo, entramos em lojas de perfume, de roupas, de eletrônicos, fizemos lanche numa cafeteira e voltamos para pegar a Caca e terminar o passeio a bordo.
Conta uma lenda que estas portas, do Banco Nacional de Fomento são ou eram de ouro. Alguns acreditam que a porta é de ouro e outros dizem que são de bronze e a verdadeira de ouro está guardada no cofre.
Passamos pela costaneira, muito bem cuidada e conhecemos algumas pequenas praias de rio, ao lado do centro da cidade. Apesar do Paraguai não estar cercado por mar, tem praia e porto.
Passeamos o dia todo pela capital e partimos para um camping em frente ao Lago de Ipacary, a coqueluche dos paraguaios.
Tentamos três campings e estavam fechados. Entramos em um parque à beira do lago e lá fomos recepcionados por uma mulher que nos deu boas vindas e ofereceu banheiros, água e uma tomada de energia elétrica. É um parque mantido pela prefeitura e é gratuito.
Nos sentimos em casa.
As casas na beira do Lago pertecem às pessoas abastadas do País, que usam o Lago como veraneio, onde possuem praias particulares e passeiam com veículos aquáticos, como bons milionários que são.
Um dos moradores, nosso vizinho, disponibilizou sua casa para um grupo de escoteiros, que logo se tornaram nossos conhecidos. A noite, eles se reuniram na praia e fizeram uma fogueira para comemorar o encontro que terminaria no dia seguinte. Ficamos só observando toda movimentação.
Todos ajudando como bons escoteiros.
O chefe jogou todo álcool que tinha, ateou fogo e a fogueira não ascendeu. O fogo se apagou, não tinham mais álcool e o chefe perguntou se eu tinha álcool para emprestar.
Me ofereci para ajudar e eles aceitaram.
Fui até a Caca, peguei um rolo de papel toalha, umedeci com muito azeite, ateei fogo e a fogueira começou a queimar como deveria. O chefe, meio envergonhado por não ter conseguido tal feito, veio agradecer por ter aprendido um método eficaz de ascender uma fogueira.
Em volta da fogueira acesa, os escoteiros fizeram ordem unida, danças folclóricas, cantorias e brincadeiras de crianças.
Na manhã seguinte, o dono da casa veio conversar e começou a contar sua história. Ele é um advogado bem sucedido no País inteiro, ganha muito dinheiro, tem fazendas, centenas de cabeças de gado, aquela bela casa de férias, mas é muito triste.
Disse ele:
“um cubano chegou de mansinho, beijou a mão da minha mulher e logo ela me abandonou e foi embora, deixando um vazio na minha vida”.
Desde então, ele está triste, não sorri mais, sofre com depressão e diversas dores. Está com 74 anos, não quer mais trabalhar e questionou várias vezes sobre…
…de que adiantou acumular tanta riqueza.
Eu tentei ajudá-lo fazendo recomendações simples para ele viver a vida que ainda lhe resta. Ele foi concordando que deveria mesmo viajar mais, trabalhar menos, deixar de se lamentar e buscar diversão para ocupar a mente com ocasiões mais felizes. Para solidão, recomendei que ele começasse a frequentar bailes para terceira idade, que certamente lá existem mulheres que também buscam novos relacionamentos. Ele gostou da idéia.
Após a demorada conversa, ele nos ofereceu sua casa, caso a gente decidisse ficar por mais tempo à beira do Lago de Ipacaray.
Fomos embora felizes, pensando que, talvez, ajudamos um pouco aquele rico homem pobre que não estava conseguindo ser mais feliz, desgostoso com a vida que está vivendo.
Paramos em um supermercado, Ade entrou e eu fiquei na Caca, ressabiado. Na frente do mercado havia um segurança com uma enorme arma calibre 12 e eu já imaginei que ali era um lugar perigoso. Fui conversar com ele e ele me disse que não, que não haviam ladrões e que as armas que ele usava, tinha mais dois revolveres, era somente para orientar o estacionamento.
Será que ele atira em quem desobedece?
Perguntei se ele já havia atirado em alguém, ele disse: Eu ando armado. É por isso que todos respeitavam.
Enquanto esperava Ade voltar também fotografei um dos muitos ônibus antigos que circulam pelas cidades, lotados de passageiros e que param onde bem entendem, inclusive no meio da pista da rodovia.
No caminho notamos e ficamos curiosos com umas banquinhas de ervas espalhadas por todo lado, com uma placa escrita remédio. Paramos para conhecer e o vendedor disse que são ervas diversas, que pessoa escolhe. Ele somente amassa e entrega uma pasta verde conforme a necessidade do cliente, ou paciente.
Tem remédio para dor de cabeça, para dores nas costas, para o estômago, para os rins, para ficar acordado, para refrescar e muito mais.
A dose certa ele não sabe.
Ele me disse que é um hábito dos índios Guaranis, que dominavam a região antes da invasão europeia. Não sei dizer se cura, mas tem muita gente vendendo e muita gente comprando. A dose é ingerida com o chimarrão quente ou tererê gelado, até que o mal se acabe ou, toma para evitar que o mal se instale.
Chegamos ao anoitecer em Puerto del Guairá, já na fronteira com o Brasil, uma das várias cidades de zona franca do Paraguai. Na cidade não tem camping e uma opções é um Posto de Gasolina da Petrobrás, bem no centro da cidade.
Conversei com o guarda, que prontamente me indicou um bom lugar para estacionar e a pedido da Ade, nos ofereceu uma tomada de energia. Conforto e segurança.
O guardião estava com uma calibre 12 e um revolver na cintura.
Dormimos tranquilos e saímos do posto logo cedo, começando a velha saga que já conhecemos. Fazer compras no Paraguai, onde existem muitas coisas legais, que você não precisa, mas tem vontade de comprar.
De volta ao Brasil.
Passamos pela aduana paraguaia para darmos saída do País e atravessamos para o Brasil, de volta ao lar-doce-lar, após quase 6 meses conhecendo os países vizinhos.
Seguimos para Itaquiraí, no Mato Grosso do Sul. Não avisamos que dia chegaríamos e foi muito legal a surpresa. A noite, todos se reuniram na casa de minha irmã Beth para um delicioso e alegre churrasco à moda brasileira. Nos dias seguintes, no sítio dos sobrinhos Márcio e Aline, muita comida e diversão.
Após quase 6 meses, reencontramos também nossos filhos, nora e netos que vieram para nos encontrar, fazendo a nossa chegada, ser mais uma emoção para se guardar para sempre.
De volta à Pátria Amada, seguimos para Curitiba com a feliz satisfação de ver cumprido a primeira fase de nossa Expedição Américas de motorhome.