Deixamos Saint Louis e seguimos para Memphis, rodando por estradas fantásticas, sem pedágio, trafegando a 75 milhas por horas a maior parte do tempo. Acho que só eu andava na velocidade permitida. Outros carros, caminhões e principalmente caminhonetes, passavam por mim como se eu estivesse quase parado. Como não conheço muito bem o sistema de fiscalização, prefiro sempre andar na velocidade da via.
Apesar de Memphis ter um pouco mais de 620 mil habitantes é uma cidade pacata, com movimento maior apenas nas estradas de via rápida. O centro da cidade se parece com uma cidade pequena, ainda com um bondinho e carroças trafegando pelas ruas.
A cidade é conhecida principalmente pelos personagens famosos que fizeram parte da sua historia. Aqui foi a casa do Rei do Rock, Elvis Presley, onde ele está enterrado e onde foi assassinado Martin Luther King Jr, líder anti-racismo. Memphis é conhecida por ser um berço da música, dizem que aqui nasceu o blues.
Logo pela manhã saímos para conhecer Graceland, a famosa mansão de Elvis Presley, o filho mais querido e famoso da cidade. Elvis morreu no dia 16 de agosto de 1.977 e, a partir daí, familiares, governo, fãs e amigos fizeram da casa dele um verdadeiro complexo turístico. Hoje Graceland ocupa vários prédios dos dois lados da rua que foi batizada com o nome do ídolo.
O complexo todo recebe mais de 600 mil visitantes por ano. A todo instante chegam pessoas de várias partes do planeta para prestar sua homenagem ao Rei.
No muro em frente a casa dele estão milhares de assinaturas e mensagens de pessoas que já passaram por aqui. Eu também deixei meu nome lá.
Dizem que Elvis não morreu. Realmente ele vive em nossa memória e no legado que deixou. Mas, supondo que realmente ele não morreu e vive em algum canto fora da fama, a jogada da Graceland foi de mestre. O ingresso mais barato para visitantes fica em torno de 50 dólares e só dá direito a visitar os dois aviões que ele utilizava em suas turnês. Já quem quer fazer o passeio todo, passando pela mansão, pelo avião, pelos carros, pelo guarda roupas e ver alguns trechos de seus filmes, tem que deixar um pouco mais de 200 dólares por um passeio de 3 horas.
Em toda Graceland, com 56 mil metros quadrados, por onde você anda segue ouvindo as música de Elvis.
Além do grande faturamento com as visitas guiadas, Graceland ainda tem restaurantes, lanchonetes e várias lojinhas de souvenires.
Esse é o cara.
Além de Elvis, Memphis projetou vários outros artistas de renome internacional, nas décadas de 50 e 60. Aqui viveram Johnny Cash, Aretha Franklin, Jerry Lee Lewis e BB King e todos frequentavam o também famoso Sun Studio, que hoje é um museu que guarda a história da música na cidade, especialmente o Rock e o Blues.
Pelos corredores tem muitos objetos pessoas dos grandes astros, como roupas, instrumentos, prêmios, discos, carros e tem até um igreja para lembrar que foi aqui na cidade que o estilo gospel nasceu.
Saímos do museu e fomos para a Piramide de Memphis, com 98 metros de altura, construída em 1.991, para ser uma arena esportiva, para abrigar jogos e shows que aconteciam na cidade.
Alguns detalhes mudaram o destino da obra. O piso ficou instável e não serviu para a prática do esporte e a forma triangular distorcia o som quando tinha shows. A solução foi vender para uma grande loja que montou no local um enorme shopping com centenas de artigos esportivos e alimentação.
Por dentro a pirâmide parece até um pouco assustadora, com árvores artificiais imitando pântano, lagos com peixes, jacarés, bichos empalhados.
Foi na pirâmide que encontramos a catarinense Rose, a primeira brasileira em toda viagem. Foi ela que nos deu a dica para visitarmos um shopping com lojas das melhores marcas, num enorme espaço, numa cidade vizinha.
Meses antes desta aventura, quando ainda eu ficava brincando com o roteiro, uma visita eu queria fazer. Passar por Memphis e ficar algumas horas na Beale Street, onde o blues é a atração. Nas ruas e nas dezenas de bares só se toca blues. Foi sensacional, mais um sonho realizado. Ficar entrando de bar em bar para ouvir o blues raiz, tocado e cantado ricamente por artistas ainda desconhecidos.
Num dos bares que entramos, onde um senhor cantava blues com maestria, fomos surpreendido. Quando chegamos na porta ele parou de cantar e nos convidou para sentar bem próximo a ele. Perguntou de onde éramos e depois que eu falei, fez um monte de piadas, que não entendemos direito, mas como todos riam nós rimos também. Depois veio a dúvida. Será que ele falou coisa ruim nossa ou do Brasil? Acho que não. Será?
Quando retornamos para pegar o carro que deixamos na rua, em vaga de estacionamento pago, um flanelinha me abordou pedindo dinheiro. Dei a ele uma nota de um dólar e ele começou a reclamar, com cara de bravo. Eu comecei a explicar a ele, dizendo que eu era do Brasil, que não conhecia muito bem a cidade, etc, etc, falando tudo em português e ai ele pirou tentando me entender, desistiu e foi embora resmungando, não sei oque, mas com certeza era me xingando. Como ele não me entendeu e eu não entendi ele, ficou tudo por isso mesmo.
Na Beale Street, assim do nada, um grupo de amigos tocam e cantam em troco de moedas. Muito legal sentir neles a emoção de estar tocando blues. Em outros cantos da rua e nos bares a emoção foi a mesma.
Como não seria possível homenagear todos grandes artistas que a cidade produziu, escolheram colocar uma estátua do Elvis bem na entrada da Beale Street, sempre fechada para os carros e sempre aberta para os amantes do Blues, do rock, do jazz e da musica na mais pura essência.
No final da tarde fomos conhecer o shopping recomendado pela Rose, onde uma explosão do consumismo acontece em busca das melhores marcas do planeta.
Deixamos Memphis e seguimos nossa viagem, agora satisfeito por ter ouvido Blues onde ele nasceu, na Rua Beale.