Para chegar no Parque Nacional Torres del Paine, na Região de Magalhães e Antártica Chilena, partindo de Puerto Natales, segue por uma estrada de rípio por 60 km, habitualmente. Como a estrada estava em manutenção, o governo emite uma lei proibindo a passagem de veículos. Muitos desobedecem e passam. Nós preferimos não ficar fora da lei e seguimos por Cerro Castillo e percorrendo 180km, metade asfalto e o restante no “horrípil”.
Durante o trajeto a montanha rosa que brota da terra vai mostrando sua imponência.
O Parque Nacional Torres del Paine tem várias entradas e nós chegamos pela Portaria Laguna Amarga, já era noite e encontramos uma pousada antes da entrada do Parque. Paramos, entramos, conversei com o proprietário que pediu 20 mil pesos por pessoa para estacionar a Caca e dormir no quintal, sem água e sem energia elétrica.
Não achei justo o preço.
Enquanto Ade preparava o jantar na Caca, estacionada na estrada, em frente a pousada, entrei no restaurante e conheci 4 turistas de Minas Gerais, que deram algumas dicas para se locomover e o que fazer no Parque. Disseram que estávamos a apenas 1km da entrada e que naquela hora já estava fechado.
Voltei para a Caca, numa noite escura e fria, para tomar um vinho e saborear uma sopa que Ade sempre deixa semi-pronta.
O dono da pousada veio bater no vidro.
Atendi e ele disse que não poderíamos dormir na estrada que ali tudo era dele e que tinha que entrar no quintal e pagar os 20 mil por pessoa. Achei um disparate a exploração dele. Terminamos de jantar e seguimos para o Parque, que estava aberto e sem qualquer vigilância. Os mineiros estava mal informados.
Passamos a cancela aberta e paramos para dormir.
O vento forte durante a noite parecia que iria carregar a Caca. Acordamos com o barulho dos ônibus que chegavam trazendo turistas europeus, a maioria jovens, bem equipados e bonitos.
Enquanto observava a enorme fila que se formou para pagar ingresso no Parque, uma guarda parque me perguntou se eu tinha alguma pergunta. Falei que dormimos ali e estava esperando para pagar nosso ingresso. Ela gentilmente pediu para eu acompanhar-la e cobrou nossas entradas numa sala separada, sem fila.
Não entendi o privilégio
Depois percebi que bem poderíamos ter ficado no Parque sem pagar os 42 mil pesos, mas regra é regra e temos que segui-las. Pagamos e seguimos pela estrada de rípio que corta 50 km dentro do Parque, parando em cada mirador sinalizado e algumas vezes na estrada mesmo para admirar tamanha beleza.
As fotos até espelham a beleza, mas não a emoção de estar ao vivo naquele lugar, que mais parece um pedacinho do paraíso. Em uma das paradas sinalizadas, paramos para tomar nosso Café Especial Moka, diante da irradiante beleza do nosso quintal.
No caminho vimos pássaros, lagos, cachoeiras e muitas montanhas. O dia estava ensolarado e, às vezes, o rosado do mármore das torres se mostrava ao longe, que parecia perto.
Chegamos no final da estrada, onde fica a Guarderia Glaciar Grey, um terminal com banheiros, restaurante e o início do caminho que leva até um ponto de onde se avista um dos glaciares da região, que é possível avistar ao longe ou pagar um barco a preço de ouro para se aproximar.
Passamos por uma ponte, por um lago seco e chegamos bem próximo de um enorme pedaço de gelo glaciar que se desprendeu da montanha. Ele fica com um tom azul, que encanta os olhos.
Pelo lago estão vários pedaços de gelo que se desprenderam da geleira e insistem em não derreter e boiar como se fosse um isopor.
Caminhamos em torno de uma ilha e retornamos para a entrada sob uma fina e gelada chuva que caia, quase tentando virar neve.
Voltamos pelo mesmo caminho, parando novamente em alguns miradores até chegarmos no outro extremo da estrada, onde fica um hotel, restaurante e ponto de partida para a subida até a base das Torres.
No Parque existem dois caminhos oficiais para se percorrer a pé, definidos como Trekking Sobre Hielo. O caminho “O”, dura 8 dias e dá uma volta na montanha e o caminho “W”, dura 4 dias e alcança três cumes nas montanhas. Achamos muito para nossa condição física e decidimos percorrer o caminho “I”, que eu estou batizando assim, pois não existe oficialmente.
Para percorrer os caminhos “O” e “W” é preciso fazer reservas antecipadas e necessário pagar os pernoites nos acampamentos. O caminho até a base das Torres, pode ser percorrido sem reserva, vai e volta no mesmo dia, por isso achei que deveriam chamam-lo de caminho “I”.
Na metade do caminho tem uma parada, com uma lanchonete que extrapola nos preços e oferece banheiros, mas você tem que pagar. Tem cabanas e barracas para quem quer pernoitar na mata, ao lado do rio de águas verdes e leitosas, ouvindo o som energizante das águas rolando pelas pedras.
Até a metade, o suprimento e até o socorro se necessário for, pode ser feito a cavalo, depois… abismos, pedras soltas e piso escorregadio é um risco constante. Se cair nas ribanceiras, pode ser fatal.
Tanto nos panfletos como nas informações dos guarda-parques, o caminho é com dificuldade moderada e possui 8km, sendo 4 horas para subir e 4 horas para descer.
Mentira
O caminho, medido no celular, deu 22,5km e demoramos 10:30hs para percorrer o percurso. Quando eu digo percorrer parece fácil, mas não é. Quando se vê as montanhas, parece perto, mas não é. Quando pensa que está chegando, não está. Quando esta faltando apenas 500 metros para chegar, começa um paredão, íngreme, com pedras soltas, riachos, lama e muito esforço, sem nada para segurar.
Por várias vezes pensamos em desistir, percebendo que estávamos no limite do esforço físico, mas meu do que da Ade. Ela mandou bem e eu capenguei em alguns trechos.
Não é moderado e não é perto.
Caminhamos devagar, descansando a cada tempo admirando a paisagem ou, obrigatoriamente, recuperando o fôlego, seguindo passo-a-passo. Até associei o nome das torres com o que eu senti: “quase deu pane”.
Mas quando finalmente chegamos na base das Torres, que se posta diante de um lago verde em meio a uma pedreira, percebemos que valeu todo esforço.
Até deveríamos ter tirado mais fotos, mas diante do estado físico na chegada, a mente não opera muito bem, mesmo assim fotografamos e Ade até fez pose, agradecendo aos céus pela oportunidade.
Depois de meia hora admirando as Torres de mármore, começamos a descida, sem segunda opção, tínhamos que voltar. Encontramos amigos brasileiros e, juntos, contando histórias, a descida foi mais amena, com a satisfação da meta alcançada.
Mas não é perto e não é moderado.
Dormimos mais uma noite no Parque, encontramos nosso amigo de Darregueira, que terminou seu motorhome e partiu para conhecer as belezas da Patagônia.
Este é o local onde acordamos, deixando o sol nos aquecer, cercados por dois casais de amigos, alguns guanacos, em mais uma cena inesquecível da nossa expedição.
Que lindo! Foi um prazer conhecer vocês na Casa Campestre no Deserto do Atacama. Vocês nos inspiraram com suas histórias! Boa viagem! Um grande abraço.
Dani e Doug.
Essas fotos são lindas e a história a mais engraçada, ler sobre o sofrimento me carregou até a montanha. Hahaha
Quantas fotos lindas!! Amei a que tem um rio com a cachoeira, vista de cima. As fotos do lago (que não é perto e não é moderado) também estão lindas. Lembro quando a mamãe contou que subiram 22k, que orgulho!! Vou xingar em alemão e dizer que vcs são #$@%! hehe ?
Mandando muito bem Maurício!