Seguimos com o novo plano, distanciando um pouco mais da Cordilheiras dos Andes e a paisagem começou a mudar. As montanhas gigantes ficaram para trás e apareceram terras áridas, com montanhas mais baixas e vegetação rasteira.
Paramos em um mirante para apreciar uma parte do caminho e descobrimos que o Charles Darwin também parou por aqui e até fez um comentário sobre esta montanha. Ele disse: “Pela quantidade de excrementos nas rochas, os Condores devem frequentar este lugar há muito tempo para descansar e procriar”. Fiquei imaginando, como foi detalhista o criador da Teoria da Evolução, atento até com os excrementos para tirar suas conclusões.
Os Condores vem a este lugar diariamente, ao entardecer, para uma digestão tranquila, descansar, pernoitar e, claro, usar o banheiro. Eles não constroem ninhos. As fêmeas botam um ovo a cada dois ou três anos e os machos alimentam os filhotes por 6 a 8 meses.
O Condor é uma das aves voadoras mais grande de todo mundo. São extraordinários planadores, sobem nas alturas aproveitando o ar quente voando em círculos. Graças à sua excelente vista, reconhecem o alimento a longas distancias e só pousam para comer e descansar nos ninhos.
Outros grandes planadores, como várias espécies de águias, também vivem na região e compartilham o mesmo banheiro.
As cinzas expelidas por grandes vulcões no passado, foi a matéria prima para formação das montanhas, onde ficam os ninhos de pássaros. O clima hostil com o solo pobre da região, originou uma adaptação das plantas, acabando com as árvores e formando pastos de arbustos baixos, especialmente o calafate, aquele da lenda que diz:
“quem come o fruto do calafate, volta para a região”.
Os arbustos são abundantes, responsáveis por evitar que a erosão provoque rachaduras no solo, mantendo assim mais um aspecto característico da diversidade Patagônica.
A região até parece o sertão brasileiro, claro, sem rochas vulcânicas. Nesta região do Planeta existiam e ainda existem muitos vulcões mas a maioria deles estão extintos ou sem atividades.
Ade viu uma plantação de álamos, gigantes e amarelos, cercando o carreador de um sítio. Sugeriu uma bela foto e lá voltamos para fazer nosso studio para algumas fotos.
Derrepende um cachorro veio latindo e em alta velocidade. Nos apressamos para entrar na Caca para ficarmos protegidos. Caminhando lentamente veio o dono do sítio em nossa direção. Disse que o cachorro era manso e então descemos para cumprimento-lo e dizer que só estávamos tirando algumas fotos. Bastou isso.
e lá se foram mais de uma hora de conversa.
O senhor Armando vive com sua mãe de 93 anos naquele sítio há mais de 20 anos. Nesse tempo todo, aguarda promessas de políticos para resolver seu principal problema que é a falta de água. Sem água ele não consegue plantar e fica caro manter os animais.
O governo não oferece águas com caminhões pipas, como fazem no Nordeste do Brasil. Ele tem que se virar sozinho, sem apoio do Estado, mesmo assim se mantem feliz, cuidando de sua mãezinha.
Creio que a solução para suprir água não é impossível e nem muito caro. Os rios que cortam a região estão todos secos já fazem anos, mas a menos de 10 quilômetros existe uma enorme represa, com águas suficientes para suprir muita gente e animais, por décadas.
Mas o governo ainda está discutindo a ramificação de canais. Parece que já vi este filme no Brasil, no Vale do Rio São Francisco.
Ao passarmos pelo pequeno povoado Villa el Chocon avistamos placas informando para se ter cuidado com os dinossauros e as placas estavam mordidas por eles. Paramos em uma agência de turismo e lá fomos nós descobrir o que realmente havia naquele lugar.
Pegamos informações e seguimos mato adentro em busca das pegadas dos enormes herbívoros e carnívoros da região, claro, com a certeza que já estão todos extintos.
Encontramos as pegadas, cravadas nas rochas e pelo tamanho do pé, já ficamos assustados imaginado um terrível mostro.
Contam os paleontólogos que há 90 milhões de anos, a região onde está a Villa el Chocon, havia enormes árvores, com extensos lagos de pouca profundidade, que serviam de beber aos gigantes de várias toneladas que deixavam suas pegadas cravadas na lama, solidificadas e preservadas até hoje.
Com a construção de uma usina hidrelétrica, surgiu a Villa, que atraíu paleontólogos para explorar alguns achados arqueológicos durante as obras. Um deles era Ernesto Bachmann, homenageado com nome do Museo, incansável explorador de toda a região.
A estrela do Museo é a ossada do Gigantossaurus Carolinii, o maior dinossauro carnívoro já encontrado.
Os argentinos são descobridores de várias espécies de animais pré históricos que viveram na região central do País. Como quem encontra algo novo coloca o nome que lhe convém, um dos dinossauros mais famosos por aqui é o Argentinossauros, que pesava mais de 100 toneladas, media 40 metros de longitude, com 20 metros de altura. Dizem que é o maior animal que já pisou na Terra.
Um pequeno osso do gigante é maior que Ade, seus dentes são do tamanho de antebraço e seu corpo é coberto por uma carapaça, que se hoje existissem, certamente seriam usados para valiosas bolsas de madame e sapatos de milionários.
Seguimos nosso caminho felizes por ter ficado bem perto de nossos ancestrais, cheios de lendas e teorias. Eles existiram mesmo, não tem como negar.
Pouco antes de chegarmos na cidade de Neuquén paramos em um camping onde dormimos duas noites tranquilas, cercados por uma bela plantação de álamos, com cachorros e ovelhas como vizinhos.
Como sempre acontece, uma boa amizade surgiu com o dono do camping. Ele me contou que comprou aquele sitio do Paleontólogo que fundou o Museo e que ali no sitio haviam algumas relíquias que ele deixou.
Quando estivemos nos Bosques Petrificados, do outro lado da Argentina, eu já confessei que muito gostaria de ter um pedaço da pedra petrificada e contei para o dono do camping. Acreditem. Quando fui me despedir, ele pediu para eu esperar, foi buscar e me deu um belo pedaço de uma araucária petrificada ha 150 milhões de anos, deixada pela antigo dono do sítio.
Esta por enquanto é a relíquia da nossa expedição.