Sul da América do Sul 2016 43 – SAN PEDRO DE ATACAMA, onde o deserto manda de dia e as montanhas mandam de noite

43 – SAN PEDRO DE ATACAMA, onde o deserto manda de dia e as montanhas mandam de noite


Nosso roteiro previa conhecer o deserto mais alto e seco de todo planeta, localizado no Atacama, no norte do Chile, muito visitado por turistas para conhecer seu legado arqueológico, suas salinas, gêiseres, vulcões, lagoas coloridas, vales verdejantes, cânions e águas cristalinas. A pequena cidade de San Pedro de Atacama é o ponto de encontro de quem chega para conhecer os variados atrativos do deserto, que chamam de deserto, mas nem tanto.

Para chegarmos no deserto, cruzamos novamente as Cordilheiras dos Andes, pelo Paso de Jama, trafegando por estradas sinuosas, com incontáveis curvas, subidas, descidas e a maior altitude que já estivemos em terra, 4.827 metros.

A sensação nas alturas se diferencia de pessoa para pessoa. Eu fiquei apenas com um aperto no tórax, parecendo falta de ar. Ade já teve consequências piores. Alem da falta de ar, teve dor no peito, tonturas e sangramento nas narinas e nos gengivas. Sem gravidade, mas assusta um pouco.

A beleza da paisagem ameniza um pouco os efeitos da altitude.

O cordão montanhoso dos Andes abriga dezenas de picos afunilados, facilmente identificados e uma das principais atrações da região.

Os vulcões.

O mais alto deles é o Licancabur, com 5.916 metros de altitude. O imponente é avistado quase o tempo todo por quem está na região. É considerado como semi-ativo e sua última erupção foi no dia 30 de outubro de 2.015.

Algumas dezenas de quilômetros antes de chegar na cidade, tem um descida contínua, não muito íngrime, mas que requer conhecimento técnico para evitar acidentes graves.

Por precaução, a cada 500 metros tem zonas de escape com pedras soltas para parar veículos que perdem os freios.

A descida é danada!

O final guarda carcaças de veículos incendiados por conta de condutores que não souberam usar corretamente o frei-motor e abusaram dos freios.

No sentido contrário, a subida é um martírio para veículos de pouca potência.

San Pedro de Atacama ainda preserva as características do povo Likan-Antai, que significa “gente da terra”, ou “atacamenhos”, que deu origem ao nome da cidade e do deserto mais árido do mundo. A região foi conquistada pelos Incas em 1.450 e depois pelos espanhóis em 1.540 e ainda guarda características de todos os povos, preservando uma cultura milenar.

O centro histórico tem poucas ruas de terra, revestidas com “vichufita”, matéria derivada dos salares que permite conservar a estética original, mas não ameniza a poeira.

A igreja é do século XVI, principal obra preservada na cidade, construída com pedras, revestida com adobe e com estrutura de madeiras de Algarrobo, Cacto e Chañar.

Muitas das novas construções e reformas ainda utilizam adobe para edificar casas, comércios e muros. Adobe é uma mistura de barro com ramos vegetais.

A cidade tem muitos hostels que recebem turistas que chegam na cidade em busca de paz, tranquilidade, belas paisagens e, alguns alternativos que chegam para ver se encontram com ETs, ou na esperança de serem abduzidos.

A praça central é o local onde os turistas se encontram para navegar na internet e acariciar as dezenas ou centenas de cachorros da cidade. San Pedro foi até apelidada por alguns turistas como

San “Perro” de Atacama

(só para lembrar, perro é cachorro)

No centro existem muitas lojas que vendem produtos regionais e artesanatos. Pelas ruas é possível encontrar artesãos em plena atividade, que vendem suas obras e cobram para sair nas fotos dos turistas.

Este faz sua arte utilizando o que de mais abundante existe na região: a luz solar.

Acho que mais da metade do comércio da cidade são agências de turismo. Eles estão por todo lado oferecendo passeios padronizados pela região, e são muitos.

Nós fomos visitar o Valle de la Luna y Muerte,  o mais frequentado pelos turistas. Lá você paga um ingresso e entra com seu próprio veículo para visitar uma caverna de sal e as paisagens típicas de um deserto, como cânions, formações rochosas e dunas de areia, mas tem algumas plantas também, alguns riachos e nascentes de água. Acho que não é bem um deseeeerto.

Esta foto foi feita por uma amigo de minutos, Digue Cardoso, repórter fotográfico, na formação rochosa Três Marias. Acho que ele não fez uma foto minha, fui eu que sai na foto dele. Foi muita gentileza do Digue, me encaminhar a foto pelo email.

O Atacama tem dois comandantes do tempo. De dia quem manda é o deserto, com calor que chega fácil aos 40 graus. A noite é a montanha quem comanda provocando temperaturas de 5 até 10 graus abaixo de zero.

Nos agasalhamos muito bem e fomos fazer o passeio mais aguardado, que era contemplar o céu mais límpido do planeta, num observatório particular.

Com o ônibus da agência, chegamos com as luzes apagadas e fomos recebidos no escuro pelo astrônomo Danilo, que nos deu uma aula de como desvendar os mistérios do

Universo, com seus 14 bilhões de anos.

Com auxilio de um laser potente ele nos apresentou as estrelas, constelações,  galáxias, pontos negros, planetas e os asterismos, grupos de estrelas que formam no céu um determinado padrão, sem aprovação cientifica, mas aceito pela astrologia. Ele nos mostrou o Escorpião, Virgem, Balança e Leão, que estavam visíveis naquela noite, sempre afirmando que era somente curiosidade que os antigos definiram para fazer uma leitura elementar do Universo.

O observatório batizado como Space (San Pedro de Atacama Celestial Explorations) é um dos lugares mais importantes no Atacama para observar o melhor ponto de visão de céu.

Depois da leitura dos corpos celestes, fomos apurar a visão nos 9 telescópios que eles disponibilizam para os visitantes. Segundo Danilo,

o maior observatório particular da América.

Depois de muito frio e muitas observações nos telescópios gigantes, entramos em uma sala onde iniciou uma sessão de perguntas, sabiamente respondidas pelo Danilo, acompanhado de um saboroso chocolate quente.

Eu e Ade concordamos, este foi um dos melhores passeios.

O Atacama ainda abriga o Projeto ALMA (Atacama Large Millemeter/Submillimeter Array), patrocinada pelos governos de Japão, França, Estados Unidos e Chile. O ALMA possui os melhores telescópios de radiofrequência, com 66 antenas gigantes instaladas a mais de 5 mil metros de altitude.

Danilo nos contou sobre uma descoberta fantástica do ALMA, que seria publicada no dia seguinte em todo mundo, sobre a descoberta de traços de oxigênio numa galáxia há 13,28 mil milhões de anos-luz de distância da Terra, confirmando as recentes teorias de que o

Universo continua em expansão.

Certamente não vou conseguir repassar tudo que Danilo nos ensinou sobre o Universo e a leitura do espaço, mas jamais vamos esquecer do céu mais lindo de nossas vidas e que as estrelas tem cores diferentes. Por exemplo: azul são as estrelas mais antigas, vermelhas as mais novas e amarelas as de meia idade.

Entender o Universo não é um dilema fácil. Stephen Hawking até tentou explicar tudo pra gente, antes de morrer. Todos acreditam que ele é brilhante, mas não entendem exatamente o que ele diz sobre o nascimento do Universo, os buracos negros e o tempo, mas acreditamos nele, até que nova teoria apareça. É preciso especular muito ainda sobre a criação do Universo, confirmar algumas novas teorias e especular novamente, eternamente.

Para não dizer que não falei das flores…

Esta foi a única foto que fiquei do SPACE. É o planeta Júpiter, tirada com meu celular, do telescópio, pelo Danilo.

 

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