Deixamos a encantadora Quebec City e seguimos para Montreal, a maior cidade da Província, segunda maior população do Canadá. Seu nome de batismo foi Villa-Marie, Cidade de Maria, depois renomeada de Montreal, uma forma simplificada de Mount Royal, uma colina que fica no centro da cidade.
Chegamos em dia de corrida de Fórmula 1, GP Canadá, que acontece todos os anos em Montreal. Pensamos em chegar bem próximo do autódromo para sentir um pouco o clima da competição e quem sabe até ver a corrida, mas alguns quilômetros antes a polícia já ordenava o fluxo e nem perto conseguimos chegar. Tudo bem. Passamos por um dos estacionamentos e ouvimos o ronco dos motores.
Descartado a opção de ver a corrida de última hora, subimos a Colina Mount Royal para visitar o parque e depois seguimos para o “Oratoire Saint Joseph du Mount-Royal”, uma basílica católica romana, idealizada pelo Irmão André em 1904, para homenagear José, o pai de Jesus.
O Irmão André construiu uma pequena capela e os fiéis foram crescendo, milagres acontecendo e a igrejinha cresceu e se tornou a maior igreja do Canadá. Sua cúpula é a segunda maior do mundo, com colunas que chegam a 18 metros de altura. Fica atrás somente da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
A igreja é cheia de relíquias. Tem um órgão de tubos no oratório com 5.811 tubos e 5 teclados, É um dos órgãos mais considerado em todo mundo.
Do lado de fora tem um carrilhão com 56 sinos de bronze, que pesam mais de 10 toneladas. Conta a lenda que estes sinos foram forjados para serem instalados na Torre Eiffel de Paris e, não se sabe os motivos, vieram parar aqui por exigência dos próprios doadores.
Na nave principal tem algumas esculturas feitas em madeira lembrando pessoas, bem altas e magras, que receberam os milagres organizados pelo Irmão André. Um dos magrelos me chamou a atenção. Foi o Paul Pierre, com duas cabeças.
Cada vez mais o local foi sendo frequentado por milhares de fiéis e, mesmo que o Irmão André atribuía os muitos milagres ao pai de Jesus, o Papa João Paulo II o consagrou com a beatificação em 1982.
Seguindo a cultura da Idade Média, especialmente na Itália e na França, quando era costume preservar o coração de pessoas celebres em sinal de admiração e reconhecimento. Numa cripta do Oratoire Saint Joseph du Mount-Royal está preservado o coração do Irmão André. De tanto adorado, o coração chegou a ser roubado, mas a policia logo o recuperou.
Na frente da igreja tem monumento esculpido com várias esculturas de imigrantes de níveis sociais diferentes com muitas, cheia de detalhes, todos num barco superlotado, representando a hospitalidade e solidariedade do agora Santo Irmão André.
Só não descobri a história do cara com duas cabeças.
Depois da igreja seguimos para o hotel numa cidade próxima para dormir uma noite, pois não encontramos hotéis em Montreal devido a corrida de fórmula 1.
Antes de chegarmos no hotel passeamos pela centro da pequena vila e derrepente uma construção ao lado de uma pequena barragem me chamou a atenção. A água do rio passa por dentro da edificação e tinha uma onda feita com livros. Curioso, entrei para ver. Era um antigo moinho de farinha, já desativado, que virou ateliê para exposição e criação das obras de um artista local, de grande reconhecimento em todo Quebec.
Entramos e o artista veio nos receber, muito simpático falando em francês, um pouquinho de inglês, nada de espanhol e muito menos de português. Ele chamou sua filha que é fluente em inglês e um pouco de espanhol. Nos vimos numa torre de Babel com os quatro idiomas, Os gestos e os sorrisos muito contribuíram para fluir a comunicação e o entendimento.
O simpático artista plástico e escritor é o Marc Lincourt, que nos contou quase tudo sobre sua arte e como ele teve a idéia de usar livros para homenagear os primeiros franceses a chegar na região. Ao todo foram 11 mil franceses que desembarcaram em Montreal, depois vieram mais e formaram o Quebec, única Província do Canadá que preserva o Frances como idioma oficial.
Marc teve a idéia de homenagear os pioneiros quando um escritor sem muita expressão publicou um livro que quase ninguém comprou. Como sobraram muitos exemplares que iriam ser queimados, Marc os pediu em doação, fez uma pesquisa detalhada de cada família imigrante e agora destaca cada nome na capa do livro.
Ele recobre os livros com gesso e tecido, recorta as letras de cada nome e as cola sobre um desenho mágico que só ele faz intercalado e sobrepondo cada letra sem que obedeça uma ordem específica. Depois de pintada, a capa de cada livro mostra sua arte com letras coloridas e em alto relevo. Ele já concluiu 400 livros e expõe sua obra em todo País, sempre sobre uma lamina de água, com os livros em forma de onda, como ele relata: “a primeira onda dos imigrantes”.
Ele também escreveu um pequeno livro contando a história de seus antepassados que vieram da França em busca de vida melhor e também foram pioneiros na colonização da Província de Quebec.
Antes de sairmos o Marc me fez uma honrosa e emocionante surpresa. Pegou um exemplar de seu livro e criou uma reposição de letras com meu nome, bem no estilo da sua arte. Me entregou e disse ainda que nesta criação tem uma mensagem muito importante para mim e que eu jamais iria conseguir decifrar, mas garantiu que era só coisa boa. Foi muita emoção eu ser homenageado quase que ao mesmo nível dos pioneiros franceses do Quebec.
Veja a arte que ele criou com meu nome. Mauricio eu consegui identificar, mas mensagem importante que ele deixou para mim, não consegui decifrar. Se alguém descobrir, me conte. Continuo curioso.
Depois de um bom lanche, pernoitamos num belo hotel por dentro e por fora, antes seguirmos para Montreal, já esvaziada após o Grande Premio de Fórmula 1.
Fomos num restaurante que serve café da manhã o dia inteiro. Uma delícia que mais parece um almoço. Quase todas as mesas ficam tomadas o dia todo. Os pratos preparados servem para o café da manhã, para o almoço, para o lanche da tarde e para o jantar.
Chegamos novamente em Montreal e na rua do nosso hotel acontecia a “Festa Mural”, que reúne artistas das mais variadas artes, venda de roupas e muita comida de rua.
Ali foi possível conhecer a arte de rua e de ateliê. Os artistas produziam suas artes sob a admiração de todos e havia até um concurso para o público escolher a melhor performance. Em uma hora e meia os concorrentes tinham que expor sua arte num painel passando por uma eliminatória até chegar aos finalistas.
Os dois finalistas foram apresentados em frente a um painel em branco, foi disparado o cronometro e a arte começou. Fomos dar mais uma volta e quando voltamos cada idéia já estava lançada e faltavam ainda 33 minutos para a conclusão.
Pelas rua também é possível apreciar a arte em várias paredes dos edifícios, com muito colorido em retratos gigantes. Aquele galo é um dos mais famosos, mas vai deixar de existir. Uma nova obra esta sendo construída e a nova parede vai esconder o galo para sempre.
São muitos artistas e muitas paredes que até os “artistas” que picham tem seus espaços, nunca sobre a artes dos grafiteiros.
Caminhando pela cidade a todo momento encontramos uma obra de arte em forma de pinturas, esculturas, jardins e muita beleza na arquitetura. Em vários pontos encontramos o Fofura, um boneco cor de rosas, espalhados pelo centro em várias poses diferentes. A artista provoca com ele uma reflexão sobre a ternura e o bom relacionamento entre as pessoas.
Passamos muitas obras de arte espalhadas pelas praças e nas fachadas dos edifícios.
Caminhando um pouco mais encontramos um palco ao pés do maior círculo de metal que já vimos. Ele fica entre os prédios. Jovens se reunem no local para ouvir música e dançar comedidamente. Não vimos ninguém consumindo bebidas alcoólicas.
Pelas ruas do centro histórico é uma emoção atrás da outra com belas calçadas, praças muito bonitas e bem estruturadas , banheiros limpos em pontos estratégicos, edifícios imponentes e históricos e belas igrejas.
Assim como em Toronto, Montreal também tem uma cidade por baixo da terra, com todo comércio e práticas para diversão.
Resolvemos não almoçar. Andando pelas ruas apreciando e provando um pouco dos diversos sabores que a cidade oferece, especiarias do Canadá e de diversos outros países.
A noite ainda sobrou espaço no estômago para o jantar regrado a um enorme copo cheio de chopp, que tinha que escorar para beber.
Fomos conhecer o Jardim Botânico, especialmente para ver as plantas esculpidas, famosas nas redes sociais. As plantas eram tão bonitas que já fazem 11 anos que não existem mais e os internautas ainda publicam fotos delas. Internet é mesmo um eterno copia cola. Não entramos por que não tinha as plantas esculpidas e o ingresso era caro pelo que o local oferecia. Pagamos o estacionamento, que custou 13,70 dólares e não usamos. Doamos para um próximo visitante.
Em seguida passamos pelo Parque Jean-Drapeau, que abriga diversos festivais, eventos esportivos, feiras e exposições. A principal atração do parque é a Biosfera de Montreal, que abriga um museu ecológico num gigantesco domo transparente. É neste parque que fica o circuito Gilles Villeneuve, onde acontece uma das etapas da Formula 1 todos os anos, no Grande premio do Canadá.
O Porto de Montreal, Old Port, localizado às margens do Rio São Lourenço é um grande área de lazer para moradores e turistas. O local abriga grandes festas o ano todo. A principal atração é a roda gigante, com 60 metros de altura.
Fomos conhecer a praia que fica em Verdam, um bairro residencial que já pertenceu aos trabalhadores e hoje está sendo elitizado, com grande valorização Imobiliaria. A história se repete. O pobre começa e o rico fica com tudo. É neste bairro que fica a praia da cidade, pequena mas bonita.
Me chamou a atenção está placa com dois óculos que alguém perdeu. Quem achou deixou à vista para o dono encontrar. Aqui certamente não vale o dito popular de que diz “achado não é roubado”. Eles tentam encontrar o dono.
As igrejas católicas sempre fazem parte do nosso roteiro, por conta da arte, comuns e abundantes. Aqui em Montreal não é diferente, mas tivemos duas surpresas. Uma delas no centro da cidade tem um cabaré no mesmo prédio, colado com a porta principal da igreja. Veja no zoom. Será que eu me enganei, mas está escrito Cabaret. Eu pesquisei e encontrei indícios que ali é mesmo um cabaré. Nada contra os cabarés, mas no mesmo prédio da igreja? Será? Quando eu voltar a Montreal eu vou entrar para confirmar.
Se bem que outra igreja de Montreal também causou surpresa. A igreja de Verdan, tem uma exposição de maquetes feitas com Lego. O artista faz as obras, expõe dentro da igreja e o dinheiro das vendas ficam com a paróquia. A idéia é boa, mas também nunca tinha visto um comércio tão declarado assim no interior da nave da igreja.
São diverso moldes de Lego, pequenos e grande colocados a venda.
Explorando a maquete de Lego consegui fazer uma foto da igreja por fora e por dentro no mesmo clic, feito que jamais pensei em fazer.
Montreal tem várias belas igrejas, cada uma com suas peculiaridades, mas a principal delas é a Basílica de Notre Dame que infelizmente não conseguimos entrar por conta do horário que por lá passamos. Mas deu para admirar por fora, suas duas torres idênticas com 70 metros de altura. Neste dia uma das torres estava em reforma.
Por dentro, não vimos mas descobri, que tem vitrais maravilhosos e que parte do teto abriga mais de mil estrelas de ouro 24 quilates no seu teto azul.
Assim, de igreja em igreja, de bar em bar, de rua em rua, terminamos nossa estadia na ilha que abriga a cidade de Montreal. Deixamos a Província de Quebec felizes por tudo que vimos e aprendemos com a cultura francesa incrustada no solo colonizado pelos ingleses.
Foi muito legal tentar falar em francês nestes dias que por aqui ficamos. Nós, que já estávamos quase aprendendo falar inglês, mergulhamos no francês e agora vamos retornar para o inglês. Tudo bem que não falamos fluentemente nenhum dos dois idiomas, mas praticamos sempre a linguagem universal dos gestos e o Google Tradutor para emergências.
Adoramos o Quebec. Voltamos para Toronto, outra paixão de cidade.