Deixamos Curitiba e seguimos rumo ao Sul. Nosso plano era dormir no Parque Malwee, em Jaraguá do Sul. O Parque tem uma estrutura para abrigar motorhomes com água, banheiro e energia, tudo de graça.
Quando chegamos no Parque tivemos uma decepção. Não havia nenhum Motorhome. O guarda nos informou que agora estava proibido acampar naquele local. Como era de graça, muitos nômades que vivem na estrada, acampavam ali e ficavam meses morando sem pagar. Acho que por conta do abuso e a falta de bom senso de alguns caravanistas, fez a direção proibir. Concordo.
Por sorte, do outro lado da cidade tem um camping, recém criado por um descendente de alemão que tinha um terreno desocupado e resolveu investir no campismo. Uma boa estrutura a um preço módico.
A chuva intermitente aconteceu desde que chegamos até quando saímos. Dia seguinte saímos cedo e seguimos rumo a Pomerode, a cidade mais alemã de Santa Catarina, todo trajeto sob chuva.
Na cidade fomos a uma fábrica de conservas, que já há alguns anos visitamos para comprar pepino, beterraba e os palmitos em conservas. Além de saborosos, tem um preço bem razoável em relação ao mercado.
Na fábrica assisti novamente o preparo das conservas, do palmito em especial. Durante a retirada do caule mais mole, o cortador me ofereceu um pedaço da parte nobre, o coração do palmito. Muito bom.
O palmito em conserva é o produto preparado a partir da parte comestível de algumas especies de palmeira. Após removida as partes fibrosas, descascando uma parte do tronco da planta. O miolo é cortado e separado em pedaços, acondicionados em vidros, adicionados temperos e colocados num recipiente com água a 90 graus. O produto fica na água quente por 50 minutos. Depois sofre um choque térmico com água gelada e descansa por três dias. Só depois as conservas estão prontas para o consumo.
Aqui no Sul do Brasil, a maior parte dos palmitos são extraídos da pupunha que produz vários brotos, sem comprometer a planta. Já as palmeiras Juçara e Real, as melhores espécies, produz apenas uma carga e perde a capacidade de produção. As palmeiras Juçara e Real são nativas da Mata Atlãntica e somente empresas autorizadas podem extrai-las.
Ainda em Pomerode, visitamos uma fabrica de cristais, ainda em construção, que já é mais uma das atrações da cidade. Em breve o visitante vai poder assistir o sobro dos cristais.
Na estrada novamente, paramos para comprar roupas de cama e banho a preços convidativos, direto da fábrica. Quando paramos já haviam outros três motorhomes de São Paulo que também pararam para comprar.
Uma noticia que ví, conta que aconteceu recentemente um encontro de campistas em Timbó, aqui mesmo no Vale Europeu. Na estimativa dos organizadores, os campistas deixaram na cidade em torno de 100 mil reais em compras no comércio local. Que mais cidades também incentivem os encontros, pois, sempre fica um pouco do dinheiro de cada campista na cidade. além de divulgar o lugar nas redes sociais.
Viajar de motorhome nos dá a possibilidade de explorar em detalhes a região que estamos passando. No nosso caminho estava a pequena e bela cidade de Luiz Alves, a terra da cachaça em Santa Catarina. Visitamos o alambique mais tradicional da região e saímos com algumas garrafas para degustar moderadamente.
Ainda sob chuva o tempo todo, seguimos para Balneário Camboriú. Na Dubai brasileira, como é conhecido o Balneário, ficamos acampados num estacionamento rotativo, onde podemos acampar a um valor um pouco maior do que a diária normal para os carros. Em compensação ficamos bem no centro da cidade. A chuva não deu trégua, mas como estávamos bem localizados, deu para passear pelo centro andando com guarda-chuvas e caminhando em baixo das marquises.
Já foram quatro dias com chuvas intermitentes o tempo todo e nem por isso deixamos de aproveitar para ver gente bonita, provar um pouco mais da diversidade culinária da cidade e olhar vitrines.
O Balneário Camboriú teve um crescimento vertiginoso nas últimas décadas e ainda continua crescendo. Pela cidade tem prédios se erguendo por todo lado e muitos projetados para um futuro próximo. Por aqui se pratica o terceiro metro quadrado mais caro do Brasil. As imobiliárias expõem em suas vitrines os detalhes e valores de cada apartamento, fazendo muita gente sonhar em ganhar na loteria para poder comprar seu imóvel por aqui. A partir de 600 mil reais já se encontram apartamentos à venda e o mais caro fica em torno de 95 milhões de reais.
No domingo a chuva parou e o sol brilhou novamente. Caminhamos pela praia, curtindo pessoas felizes nas areia. Poucos com coragem de encarar a água ainda gelada do mar. Apesar de muita gente, a praia ainda tinha muito espaço. A faixa de areia foi triplicada recentemente, abrigando agora muita mais banhistas. Quem tem que andar mais são os garçons e o pessoal que aluga cada cadeiras por 15 reais e guarda-sol grande por 100 reais. Quase tudo por aqui é um pouco mais caro, sempre.
Seguindo rumo ao Sul, fizemos questão de voltar na Praia da Conceição, numa península, onde fica a cidade de Bombinhas. A Praia é pequena, cercada de pedras enormes que podem ser escaladas e areias macias como se fossem lavadas.
A península tem 39 praias, cada qual com sua natureza privilegiada. Achei este painel com o nome de todas as praias.
Na Praia da Conceição, as pedras que rolaram do Morro do Macaco, quando vistas por um ângulo correto e um pouco de imaginação, é possível enxergar figuras que parecem com algo que não é pedra. Será que ja foram animais e agora são minerais?
Esta lembra a cabeça de um dinossauro, ao meu ver.
Esta até lembra a cabeça de uma cobra, talvez.
Esta seria a cabeça de uma baleia que morreu triste e virou pedra?
Ade, com 66 anos, ainda tem disposição e estrutura física para escalar pedras e ainda posar com uma jovem modelo no alto de uma das gigantes. Isto é para poucos nesta idade.
Nossa hospedagem na Praia da Conceição foi pé na areia, com uma boa estrutura para caravanistas.
Mas qual o valor para acampar na península? Pagamos R$ 73,50 de pedagio para entrar e mais R$ 60,00 a diária por pessoa no camping. O dinheiro do pedágio ajuda na manutenção da cidade e ao mesmo tempo tenta limitar a quantidade de visitantes. Certo ou errado a cobrança do pedágio tem lógica. A península é pequena para tanta gente que sonha em conhecer mais um pedaço do paraíso.
Pela manhã fui até a Praia e apareceu um senhor, 55 anos, 30 vendendo sorvete na Praia. Muito conversador ele se aproximou e começou o papo e eu fui dando corta à medida que a conversa era interessante. E lá se foram mais de uma hora ouvindo o sorveteiro que estudou até a quinta série e criou o hábito da leitura. Na conta dele foram mais de 2 mil livros que ele já leu. Ele me disse que ele mesmo se ensina. Quando aprende alguma coisa e é boa ele guarda na memória, quando é ruim ele descarta. Me deu uma aula de cultura com histórias da região e história da humanidade, citando datas e nomes como quem sabe o que está dizendo, e sabe.
Agora que estou escrevendo lembrei que nem sei o nem dele e ele não sabe o meu, . Lembrei de pedir para fazer uma foto, mas esqueci de perguntar o nome dele. Não importa, a conversa foi boa. Conheci um homem culto que pouco frequentou a escola.
Deixamos Bombinha e seguimos para a Lagoa da Conceicao, na Ilha de Florianópolis. Bem em frente a Lagoa tem um hotel que tombem hospeda motorhomes, onde já ficamos outras vezes e gostamos.
Desta vez o ambiente no camping estava diferente, desconfortável e até perigoso por conta do surto de Dengue que assola a região. Nossa previsão era para ficar 4 dias. Reclamamos na primeira noite, suportamos a segunda noite e decidimos partir.
Por conta de um alagado que tem nas proximidades, o ataque dos pernilongos foram avassaladores. Ade mais sensível, sofre ainda mais. Veja como ficou minha perna, contei mais de 100 picadas. Eles foram vorazes.
Talvez por culpa dos pernilongos eu estava invocando com tudo. Até esta torneira me intrigou. Fiquei querendo saber como alguém as pode instalar.
Por sorte nossa casa tem rodas. Levantamos acampamento e partimos para um novo pedaço de paraíso, a Lagoa dos Esteves, no município de Criciúma. Aqui sim, sem pernilongos, com noites tranquilas.
Assim passamos pela bela e Santa Catarina, sempre pensando em voltar. Seguimos para o Rio Grande do Sul.