Viajar inspira o viajante a procurar novos caminhos, novos sabores e festas populares, nem que para isso precise desviar da rota. Ade procurando atrações, descobriu que na cidade de Arcos estava acontecendo um Festival de Gastronomia e lá fomos nós.
Chegamos bem na hora do almoço e o que vimos nos deixou de queixo caído: uma Roda Gigante de Costela! Sim, você leu certo. Era impossível não provar. Pegamos nossa porção generosa e nos acomodamos em um charmoso banco de pedras no jardim da praça. Ali, saboreamos cada pedaço, vivendo a nossa primeira experiência com aquela inesquecível costela de roda gigante.
E o Festival de Gastronomia de Arcos nos reservava ainda mais surpresas! Além da inusitada Costela de Roda Gigante, o festival era um verdadeiro banquete de comidas típicas de Minas Gerais. Tudo com aquela fartura que só se encontra por aqui e sabores realmente inigualáveis. Uma explosão de delícias que fez a viagem valer ainda mais a pena!
E para completar a experiência gastronômica, havia pães e roscas fresquinhos, feitos ali mesmo e assados na hora em fornos de barro construídos especialmente para o evento. O aroma era irresistível!
Depois de curtir a festa por um bom tempo, pegamos a estrada e a noite caiu rápido e, sem encontrar um camping ou posto 24 horas, decidimos entrar na pequena Itapecerica. Onde dormimos mais uma vez, na praça da Igreja. Já estamos pegando o jeito. Nessa aventura, foi a terceira vez que uma igreja virou nossa vizinha por uma noite.
Acordamos e preparamos um café da manhã delicioso, embalados pelo som da missa que acontecia ali perto. Depois de um passeio tranquilo pela cidade, pegamos a estrada novamente.
Quando paramos para abastecer em um posto, fomos surpreendidos pela chegada de vários carros antigos. Na hora percebemos: tinha mais festa vindo aí! Perguntei a um dos colecionadores e ele confirmou que um Encontro de Carros Antigos estava acontecendo na cidade de Oliveira. O desvio era pequeno, então não pensamos duas vezes e partimos para Oliveira. Mais de 300 carros antigos estavam expostos na praça em frente à igreja. Uma parada e tanto para os amantes de clássicos.
Em uma das barracas de comida, uma placa chamativa nos convidou: “O melhor feijão tropeiro do Brasil”, o do Manteiga! Como resistir a um convite desses? Não pensamos duas vezes e garantimos nossa porção generosa, que vinha com o feijão, torresmo crocante, couve fresquinha e ovos fritos. Eram 11 da manhã, mas sempre é hora de celebrar a culinária mineira.
Enquanto saboreávamos essa delícia, uma banda animada tocava rock nacional, e a cada intervalo, o locutor nos surpreendia com sorteios inusitados. Esqueça os prêmios comuns; aqui, a emoção era ver um colecionador vibrar ao ganhar uma lanterna de Fiat 92, um litro de óleo, um para-lama de Chevette, um jogo de faróis de Opala 89, a maçaneta de um Fusca 76 ou até um jogo de faróis de Jipe 72! Cada prêmio era um tesouro que atiçava a paixão dos colecionadores.
Chegamos em Tiradentes, um dos destinos da nossa rota. Desta vez decidimos experimentar um camping novo. Fomos recebidos pelo Toninho, que nos deixou super à vontade em um espaço rústico e charmoso, bem pertinho do centro da cidade.
O lugar é tão tranquilo que até o cachorro local, que virou nosso amigo – especialmente na hora das refeições –, tira umas sonecas hilárias com as patas para cima. A dona dele nos contou que ele é um verdadeiro guloso: come ração, restos de comida e até os milhos das galinhas.
Passeando pela cidade, conversando com as pessoas, encontrei um senhor, com um brilho misterioso nos olhos, que me revelou um dos segredos mais arrepiantes da cidade. Antigamente, quando a noite caía, em volta das fogueiras ou do fogão a lenha, adultos e crianças se juntavam para um ritual macabro: a contação de histórias. Ali, no escuro, o medo era semeado, e as lendas ganhavam vida, sussurradas de boca em boca.
Mas a diversão não terminava com os calafrios. Depois de cada conto arrepiante, os mais ousados eram postos à prova: desafiados a dar uma volta na igreja ou, para os verdadeiramente corajosos, visitar o cemitério nas noites mais escuras.
Hoje, Tiradentes guarda essas histórias em um livro do Instituto Histórico local, que já catalogou mais de 30 lendas. Lendas que se tornaram tão reais que inspiraram um curta-metragem, estrelado pelos próprios moradores da cidade. Dizem que há casas assombradas, santos que andam, a misteriosa curva da Andressa… e até o fantasma do herói Tiradentes ainda vaga pelas ruas de pedra dessa bela cidade preservada.
É incrível como Tiradentes continua nos cativando. Esta é nossa quarta visita à cidade, e o encanto persiste. Conhecida por seu charme colonial e pela gastronomia diversificada, Tiradentes também se destaca pela tranquilidade e pela conservação impecável de seu patrimônio. Suas ruas de pedra, ladeadas por casarões históricos, nos transportam para outra época, em um verdadeiro mergulho no passado.
Para quem busca um destino que combine paz, sabores inesquecíveis, muita história, cultura e arte, Tiradentes é, sem dúvida, a escolha perfeita.
Como de costume, para manter a boa forma e o espírito aventureiro, saímos a pé do camping e percorremos 13 km até o marco zero da Estrada Real. Ele fica na charmosa Santa Cruz de Minas, aninhada entre Tiradentes e São João Del Rei.
O nome “Estrada Real” remete às antigas vias terrestres do Brasil Colônia, essenciais para o povoamento e a exploração econômica. Existem várias estradas no Brasil que ainda ostentam esse nome, preservando seus caminhos originais.
O que mais me surpreendeu foi que o marco zero em Santa Cruz de Minas está, na verdade, no meio do caminho da estrada que liga Diamantina (MG) a Paraty (RJ). Foi a primeira vez que vi um “marco zero” no meio de uma rota!
O marco zero da Estrada Real era um ponto crucial para os antigos tropeiros, um verdadeiro oásis em meio à jornada. Ali, eles paravam para descansar, encontravam abrigo em uma caverna e se banhavam na cachoeira. Hoje, essa mesma caverna não está bem cuidada e constantemente é ocupada por pessoas em situação de rua.
No percurso pela Estrada Real, fizemos paradas estratégicas em diversas oficinas de fabricação de móveis e artesanatos. Foi uma oportunidade incrível para admirar os artesãos em pleno exercício de sua arte, testemunhando de perto a paixão e a técnica em cada peça.
Saindo de Tiradentes, nos dirigimos à charmosa Prados, uma pequena cidade onde a arte pulsa em cada esquina. A maioria do comércio por lá é dedicada à venda de obras de arte em madeira e ferro, todas produzidas por talentosos artistas locais e com uma qualidade que impressiona.
O mais fascinante é que muitos desses artistas criam suas peças no próprio ateliê onde as vendem. Isso permite aos visitantes apreciar ao vivo o processo criativo, testemunhando a técnica e a paixão de cada um. Há artistas por toda parte em Prados; é como se a arte nascesse por osmose, tamanha a concentração de talento!
Nossa visita resultou em algumas peças incríveis que levamos conosco, mas também nos permitiu admirar tantas outras. Entre elas, um leão esculpido em madeira que, com impressionantes 4 toneladas, estava à venda por 140 mil reais!
No mesmo dia, nossa jornada nos levou a Resende da Costa, a encantadora cidade da arte em tecidos. Lá, artesãos talentosos criam suas peças em casa e as vendem em dezenas de lojas que se concentram em uma única rua. Tudo é incrivelmente barato, tornando impossível sair sem levar algo.
Minas Gerais é assim, uma verdadeira colcha de retalhos de especialidades: tem a cidade da madeira, do ferro, do couro, do tapete, do biscoito, da cachaça, do pé de moleque, da empada, do rocambole, do queijo, da pedra, e a lista continua. Cada cidade assume uma especialidade, e esse saber é transmitido de geração em geração, preservando a autenticidade local.
Os produtos são vendidos diretamente aos turistas e também enviados para outras cidades do Brasil, sempre com preços altamente convidativos. É um paraíso para quem busca peças únicas e com história!
Nossa jornada nos levou a Congonhas, uma cidade que respira a arte e o legado do lendário Aleijadinho. Foi aqui que o gênio da escultura viveu e deixou uma parte significativa de seu acervo, que deslumbra até hoje.
As obras de Aleijadinho em Congonhas são um verdadeiro espetáculo. Lá estão algumas de suas esculturas em pedra-sabão e em madeira, cada uma com cortes precisos e acabamentos impecáveis. É impossível não se impressionar com o valor artístico dessas peças, que contam histórias e revelam a maestria de um dos maiores artistas barrocos do Brasil. A cidade é um convite para você se conectar com a história e a beleza da arte mineira.
Fizemos um pequeno desvio para Santa Rita de Ouro Preto, a autoproclamada capital mundial da pedra-sabão. A região é famosa pela vasta quantidade de esteatita (pedra-sabão) e, claro, pelas incríveis peças de artesanato produzidas com esse material, como estátuas, porta-joias, vasos e uma infinidade de objetos decorativos.
Nosso objetivo era simples: comprar alguns pedaços dessa pedra mole para que eu pudesse me aventurar na escultura. Na primeira loja que paramos, um minerador, que por sinal tinha sua própria mina, me chamou e disse para segui-lo, garantindo que tinha exatamente o que eu procurava. E lá fui eu, seguindo-o pela zona rural até chegarmos ao seu depósito.
No lugar haviam muitas delas de tamanho grande e um deposito com pedaços que sobram dos corte, lá ele me ajudou a escolher algumas com cores diferentes. Separei cinco pedaços, nada muito grandes, e perguntei o preço. A resposta dele me surpreendeu: “Pode pagar o quanto quiser, e se não pagar nada, tudo bem também”.
Decidi dar a ele 50 reais, e ele achou que era muito! Para entender, essas pedras são pesadas e vendidas por quilo nas lojas. Parece que ele não quis cobrar o valor real, ou talvez não saiba o valor de vender em pedaços pequenos. Missão cumprida! Agora tenho mais matéria-prima para me divertir e continuar minha brincadeira de fazer esculturas.
Nossa jornada nos conduziu a Ouro Preto, uma joia histórica tombada pela UNESCO como Patrimônio Histórico da Humanidade. Aqui, a história do Brasil colonial respira em cada canto, marcada pela febre do ouro que, por séculos, atraiu os chamados colonizadores. Embora a exploração industrial esteja proibida hoje, sussurros contam que o subsolo ainda guarda minério valioso, alimentando a crença na existência de muitas minas clandestinas.
Ouro Preto é um deleite para os olhos e para a alma, apreciada por sua magnífica arquitetura barroca, que se revela em detalhes por toda a cidade. Seus museus de arte e cultura são verdadeiros tesouros, e suas ruas íngremes calçadas com pedra convidam a um passeio no tempo. As inúmeras igrejas são capítulos à parte, cada uma com sua riqueza de detalhes e histórias.
Na praça central, um monumento imponente homenageia o mártir Tiradentes. A história conta que foi neste exato local que sua cabeça decepada foi exposta, um ato brutal do Império para incutir medo e desencorajar qualquer levante. Um lembrete sombrio, mas essencial, da luta pela liberdade.
Nossa jornada por Minas Gerais ainda não chegou ao fim, mas vamos deixar um pouco mais dessa beleza para o próximo post.