Saímos rumo a Macau e passamos pelo cotovelo do Brasil, na cidade de Touros, onde almoçamos e assistimos uma corrida de jegues enfeitados para uma disputa que acontece todos os anos. O jegues, com nomes estranhos como, uisqui, raparigueiro, fernando antônio, uelinton, macaxeiro, pretinho e outros que não decorei, disputam de forma bem competitiva.
Dizem por aqui que cair de um jegue é pior do que cair de uma moto. Por isso os condutores pulam logo depois da linha de chegada. Se não pulam, o jegue derruba.
O ganhador leva 300 reais e um saco de milho para o jegue. O jegue mais enfeitado ganha um saco de milho e o dono ganha 100 reais.
Logo que chegamos na praça central da pequena Touros, um motociclista da cidade veio nos recepcionar. Me deu um adesivo de seu moto clube, que foi criado pensando em dar bons caminhos para os jovens da cidade. Juntos os motociclistas do MC Esquina do Brasil, tratam e ajudam jovens viciados e promovem alternativas para que outros não se viciem.
Este é o presidente do MC que abrilhantou nossa passagem contando feitos que por aqui acontecem.
Fomos no farol que esta bem na virada do Brasil e que alguns chamam de cotovelo, esquina ou calcanhar do Brasil. Chegamos onde começa a BR 101, que vai terminar no Rio Grande do Sul, daqui a 4.542 km.
Pela estrada afora, terrenos planos com vegetação seca, de cor marrom, muitas dunas e um vento que sopra forte em várias direções.
Alguns sustos no condução da moto. É preciso estar atento e compensar a força do vento com movimentos do corpo. Quando muito forte é prudente diminuir a velocidade e estar sempre muito atento ao ultrapassar outro veículo, especialmente caminhões. Quando termina a ultrapassagem a força do vento é capaz de causar um sério desequilíbrio.
Ao chegarmos em Macau, passamos pelos tanques de decantação do sal, com bolhas de espumas se desprendendo e voando, cortando a estrada da única entrada da cidade.
A noite passeamos pelas ruas limpas, com calçadas horríveis para o caminhar do pedestres. Cada um faz sua calçada como quer e sempre da maneira a privilegiar o dono e não quem por elas irão passar. Entradas de carro, pisos escorregadios, altos, com degraus, quinas, postes e orelhões, dividem a calçada por onde poucos pedestres passam.
Ainda continuamos observando a falta de virtude das pessoas, que não fazem bem feito o que precisa ser feito, já na primeira vez.
Pela cidade, aos sábados e domingos é permitido caminhonetes trafegarem com paredões de som na carroceira, tocando música ao bel prazer do motorista, com volume audível a um dois km de distância. Existem várias caminhonetes que disputam a qualidade e o volume do som, todos ensurdecedores.
Por volta da meia noite, surgiu um trio elétrico na frente do hotel, depois de passar pelas ruas da cidade com uma banda local, que toda hora se entitula como a melhor banda do Brasil. O trio, em uma carreta enorme, com caixas de som de boa qualidade, deve alcançar facilmente níveis de ruído acima dos 100, 110 decibéis.
A maior parte das pessoas que seguem o trio, não dançam, com exceção dos blocos uniformizados que brincam ensaiando para o carnaval. No palco, em cima do caminhão, a “melhor banda do Brasil” toca músicas próprias e famosas e são os que mais se divertem, sem se importarem se incomodam ou não os moradores, afinal, estão autorizados e patrocinados pela prefeitura.
A TV se esforça para filmar alguns ângulos que transparecem alegria total. Acho que é uma mistura de poucos alegres e muitos observadores que permitem ouvidos maltratados.
Saímos a pé para uma caminhada matinal e conhecer a cidade. Fomos até uma salineira para visitar as pirâmides de sal e fomos impedidos de entrar. O porteiro simplesmente diz que a chefia proibiu visitas. Não sabem porque da proibição e simplesmente cumpre ordem.
Fomos em três salineiras e também não deixaram a gente entrar, provavelmente por conta de segurança do trabalho. Os trabalhadores não usam proteção alguma além do uniforme, alguns trabalham sem camisa e sob um sol a pique que deixa o sal ainda mais brilhante, ofuscando a visão com a claridade muito forte. O vento salgado e as espumas que voam com o vento deixam a gente salgados e o sal é visível no corpo. Tudo por aqui é Salgado.
Em volta das salineiras existem montanhas de espumas salgadas e o fundo dos lagos são petrificados por cristais de sal.
A praia fica longe da cidade e todos recomendam o transporte com moto taxi que circulam aos montes pela cidade. Tem moto taxi que leva até dois na mesma moto, além do piloto. Um vai sem capacete e normalmente é uma criança.
A praia tem areias cinzas e tem abrigos do sol com churrasqueiras para os banhistas. O mar é calmo, raso, com águas verdes e limpas.
O jantar na cidade tem duas opções um pouco melhores e o valor da refeição é bem barato. No restaurante italiano pedimos um filé à parmegiana para dois e o garçom disse que poderia pedir comida para um que dava para os dois. Realmente deu. Era muita comida para apenas uma pessoa. O cardápio todo tem preços módicos e a comida é boa.
A Ade ficou com enjôos não sabemos se pelo clima Salgado ou pela manga que comemos em uma feira livre por onde passamos. Fiz um soro caseiro um bom banho e logo já estava se sentindo melhor.
Apesar do vento forte, que sopra de forma constante, a cidade tem muitos mosquitos que incomodam e ficam sentando na gente o tempo todo. Eles estão por todo lado.
A cidade no meio do dia é muito quente e embaixo de cada árvore tem gente sentada, simplesmente talvez esperando o sol diminuir sua potência para seguirem suas rotinas, com pouca potência.
Rumo a Canoa Quebrada no Ceará.