Pegamos o ferry boat em São Luis, numa viagem de 2 horas, numa barca velha, com mar agitado e rezando para chegar logo do outro lado da Baia de São Marcos. Chegamos bem.
Durante o trajeto conheci um advogado, garimpeiro que sai pelo interior do estado caçando gente que tenham os requisitos para se aposentar. Disse que consegue muitos clientes mais seus processos ficam parados por falta dele pagar propina para o judiciário. Seus concorrentes concluem dezenas de vezes mais seus processos, “Chega a ser desanimador trabalhar honestamente”, disse ele.
Pela Estrada afora, pequenos vilarejos com a vida esperando para passar e as pessoas paradas, sentadas na sombra, conversando sei lá o que. Nos lugares que paramos, conhecemos pessoas que nasceram ali, vivem ali e provavelmente irão morrer ali, sem se quer conhecer a capital do seu estado.
Buracos enormes e fundos estão espalhados ao longo da rodovia e é preciso muito cuidado para não acertar um deles. Muita atenção, velocidade compatível e destreza são necessidades extremas ao pilotar. Um buraco, certamente uma queda.
Paramos para o almoço e o dono do restaurante, um catarinense que mora por aqui a 20 anos, nos deu uma dica de um lugar bonito para conhecer. Mudamos o trajeto e fomos para Salinópolis, na Praia de Atalaia, que fica em uma ilha próxima da cidade.
Pelo caminho, muito lembrou o sul do Brasil, com fazendas cercadas, gado gordo e diversidade nas plantações. Viemos da Bahia até o Piauí em clima de seca com a mata marrom, passamos pelo Maranhão, onde o verde já começou pintado na vegetação e, no Pará, a paisagem se mostrou completamente diferente, com vida aparente.
Nos instalamos num hotel privê, de boa qualidade, com preço da baixa temporada, pouquinho a mais do que uma simples pousada. A maioria das pousadas e dos hotéis estavam fechados por falta de clientes nesta época do ano.
Ao chegarmos, encontramos dois casais de Curitiba, que demoraram 4 dias de viagem até Salinópolis, iriam ficam 4 dias e usariam mais 4 dias para voltar, a bordo de uma caminhonete, que os dois homens se revezavam na condução, em período integral.
O hotel privê funciona como um clube e o associado paga 6 mil reais, tem 5 diárias grátis por ano e 50% de descontos nas demais diárias. É possível também pagar uma taxa e passar o dia no parque aquático do hotel.
A Praia de Atalaia é de uma beleza impressionante. Longas faixa de areia na maré baixa e ondas que batem nas calçadas na maré alta. As barracas de palafitas, ficam sobre as águas nas altas e os carros estacionam na praia nas baixas.
Enquanto outras praias que passamos formam piscinas naturais com a maré baixa, aqui formam-se rios com águas límpidas, quente e milhares de pequenos peixes, que encantam turistas e moradores locais.
Um dos pequenos peixes aceitou brincar com a Ade, como eu nunca tinha visto antes. Ela fez carinho, tentou fugir e ele ia atras, pegou ele na mão e por um bom tempo a relação de amizade e confiança se instalou entre a Ade e um peixe. Foi emocionante perceber a aceitação. Outros peixes da mesma espécie não deixavam sequer a aproximação.
Pescadores amadores lançam redes como instrumentos de diversão com a pesca. Lançam e puxam a rede em dois e colhem sardinhas e, na sorte, um peixe grande. Normalmente numa jogada de rede dá uma refeição.
Eu ajudei a pescar e peguei no maior peixe. Na verdade o segundo maior peixe por que o maior mesmo escapou.
Fomos conhecer a cidade de Salinópolis que, ao contrário das cidades pequenas do nordeste, tem poucas pessoas pelas ruas da cidade quase deserta, com uma boa estrutura de comércio, que só abrem de julho a janeiro, verão por aqui, é a praia mais frequentada no Pará.
Voltamos para o hotel, saúna com defeito, TV com problema, ar condicionado barulhento e que pouco resfria e um jantar que deixou a desejar. Reclamei para a gerente, ela pediu muitas desculpas e se justificou dizendo que os problemas foram causados pela forte chuva que ocorreu pela manhã e que estavam providenciando os reparos.
Quando a Ade foi pagar a conta, recebeu um gordo desconto pelos atrapalhos acontecidos. Foi justo e de muita consideração da gerência do hotel.
A noite ficamos horas conversando com os dois casais que vieram de Curitiba. Um deles se descuidou no sol, ficou todo vermelho e reclamou muito do incômodo, arrependido de não ter usado protetor solar. Apesar de chato o protetor solar não pode ser esquecido. O prejuizo é muito grande com o sol a pique.
Alugamos um quadricíclo e brincamos por entre as águas, areias e pedras pela extensão da enorme praia que se forma com a maré baixa. Enquanto a Ade pilotava eu de carona, admirava as belas paisagens. Depois ela saiu sozinha pelas areias, sentindo o prazer de pilotar, cortando a brisa do mar, passando por entre as pedras e desviando de outros frequentadores. O sorveteiro para garantir, anda com uma bandeira branca estendida.
Andando pela praia, fomos convidados por três meninas para brincar na piscina delas. Entramos e o clima de amizade de crianças foi imediato. Depois se juntaram a nós mais dois meninos para brincar também. Brincamos de tubarão, de cavalinho, de caçar conchinhas, de correr atrás dos peixes, de chutar bola e de observar caranguejos azuis do tamanho da cabeça de um fósforo que habitavam nas pedras de barro. Foram horas de entrega de pura amizade e os pais observavam de longe.
Como é bom uma amizade com crianças. Nosso mundo de adultos seria muito melhor se não esquecessemos de como éramos antes de sair da infância.
Comemos ostras na praia e fomos para as piscinas do hotel. Toboáguas, bar molhado, cachoeira e saúna interligada com a piscina, com água transparente e temperatura agradável.
A noite fomos ver a maré subir e como muitas vezes acontece, alguns descuidados não retiram seus carros e acabam ilhados até a próxima maré baixa. Aguardam horas ou ficam tentando driblar as ondas até chegar no único ponto de entrada e saída de carro para a areia.
Contam por aqui que é muito comum os veículos serem inundados pela água do mar. Hoje vimos 4 deles que ficaram preso na maré.
Fomos conhecer as pequenas dunas que poderiam ser mais uma opção de passeio para todos mas, dizem que acontecem muitos assaltos e não recomendam que passem pelos caminhos de areia. Engraçado, se todos sabem que por lá tem ladrões, por que polícia não age.
Não deixamos de conhecer os lugares bonitos. Vamos sempre com atenção e de olhos bem abertos, sem pavor, tomando os cuidados necessários para zonas de riscos.
Contam que dias atrás um policial foi assaltado e a sentença foi rápida. No dia seguinte ele caçou o bandido. Sempre assim, quando uma autoridade é atacada, as providencias são aquelas que todo cidadão teria direito, ou seja, bandido anulado.
Numa bela manhã de domingo, saímos rumo a Belém do Pará.