Dia ensolarado, estradas boas e belas músicas tocavam no rádio. Não queríamos que chegasse nunca no destino.
Mas chegamos. Nosso apartamento para os próximos dias em Milão é muito bonito e bem decorado.
Fomos a um mercado que fica ao lado, compramos algumas guloseimas, tomamos um whisky, na verdade só eu tomei, e dormimos despreocupados e encantados com a viagem de hoje, que foi muito bela de Verona até Milão.
Saímos rumo ao centro de Milão, utilizando um metrô antigo, sujo e barulhento. Descemos na estação Duomo e ficamos de frente com uma das catedrais góticas mais bela do mundo.
Sua construção durou mais de 400 anos, toda com mármore branco-rosa, retirado de Candoglia e transportado por barcos até o local, onde existia um pequeno rio. A Catedral é proprietária da marmorearia que ainda fornece pedras para sua constante restauração.
A fachada externa, com 8200 blocos de mármore, foi feita às pressas, digo em 8 anos, por que Napoleão queria ser coroado como rei da Itália, nesta Catedral.
Somente na decoração externa foram instaladas 2300 estátuas, fixadas sobre colunas e nas paredes.
A mais amada é a La Madonnina, estátua dourada de Nossa Senhora que vigia a cidade dos milaneses.
Houve muita discussão na época da instalação da estátua no ponto mais alto da Catedral. Ela parece pequena, mas tem 4 metros de altura, em metal e pesa 900 quilos. Alguns temiam que ela poderia ruir as estruturas e outros alegavam que poderia atrair raios. Mesmo assim, Madonnina foi instalada em 1774 e tornou um símbolo da cidade, sem atrair nenhuma catástrofe até hoje.
A estátua está a 104 metros de altura e, depois de instalada, foi criada uma lei municipal que proíbe construções mais alta que ela, nas proximidades da Catedral.
Ao adentrarmos a Catedral, algo interessante, ou diferente, ou melhor ainda nada a ver. O exército faz revistas nas pessoas que entram.
Por dentro, apesar das destruições da guerra, a Catedral conserva vitrais que contam fatos vividos por santos e profetas, sarcófagos de famílias nobres e dezenas de estátuas.
Uma das estátuas chama a atenção. É a de São Bartolomeu dissecado, que segura a própria pele como um manto.
Por dentro algumas alas da Catedral estão em recuperação e já devolvem um bom tanto da beleza que ficou opaca pela poluição dos tempos.
Dentro da Catedral tem uma arte exposta com o mármore “Paradosso” de Tony Cragg. Não entendi bem como uma escultura moderna, com mais de 3 toneladas, foi parar dentro de uma instituição histórica. O autor da obra a descreveu como a La Madoninna, expondo energia e dinamismo na imagem, por isso o clero o convidou para expor sua obra.
Subimos no teto de onde se tem uma ampla visão da cidade, alcançando até as montanhas geladas.
Caminhamos por escadas e pelo telhado, passando bem perto das esculturas, tudo feito ou recoberto em mármore.
O telhado da Catedral, ficou imortalizado como cenário no inesquecível filme “Rocco e seus irmãos”, de 1960, de onde a atriz tenta se jogar do telhado, impedida por Alain Delon, astro principal do filme.
Hoje foi cenário para “Rocco e sua amada”. O filme não existe, a atriz é linda, o Rocco falta muito para Alan Delon, mas já temos o amor se imortalizando.
Passamos pelo Palácio Reale, onde uma fila enorme aguardava para ver uma exposição temporária de Vincent van Gogh, já vimos duas ou três vezes suas belas obras e não entramos.
Este Palácio foi destruído pela guerra e nunca mais recuperou seu esplendor. Nele morou Maria Teresa da Áustria, uma mulher que comandou tudo numa vasta região da Europa e depois morou Napoleão Bonaparte e depois o Imperador Ferdinando I.
Saímos procurando a Capela de San Satiro, erguida entre edifícios, difícil de encontrar, mas perguntando várias vezes, descobrimos.
A pequena igreja tem uma bela atração que é o seu altar. Como ela foi construída em local com pouco espaço e ficou pequena, um artista pintou uma das parede que, quem fica de frente ao altar, tem se a impressão de que a igreja é muito maior. Foi muito inteligente sua criação, provocando uma ilusão de ótica nos fiéis, fazendo de conta que a igreja é muito maior do que realmente é.
Andamos vagarosamente pelas vias centrais, apreciando belas construções, lojas, restaurantes e artistas de rua.
Paramos na Pinacoteca Di Brera, que guarda uma fantástica coleção de estátuas e pinturas de vários séculos e vários artistas.
Chegamos no Castelo Sforzesco, construído entre 1277 e 1447, como parte da muralha que cercava a cidade. Nele viveram muitos reis e nobres, com muitas histórias de mortes e traições. Hoje o Castelo abriga museus e algumas salas da administração pública.
Passamos por dentro do Castelo e atravessamos um enorme parque para chegar até um majestoso Arco da Vitória, do outro lado do parque. O Arco foi erguido a mando de Napoleão mas foi interrompido quando da derrota de Waterloo. Depois foi concluído pelo imperador Ferdinando I da Áustria e ganhou novo nome, Arco da Paz.
Pelo parque, com tempo nublado, pouca gente passeando e, com as folhas de outono caindo, formam um belo espetáculo.
Voltamos pelas vias centrais, a todo momento sendo interpelado por um africano querendo, ou melhor, insistindo, quase que obrigando a gente comprar livros africanos. São chatos, chegam tão próximo da gente que as vezes é preciso empurrá-los.
Caminhando, continuamos apreciando a cidade.
Entramos em várias lojas na capital europeia da moda, olhando roupas bem baratas em lojas de departamento, feiras de rua e roupas muito caras nas lojas de marca mundial.
Na Galeria Vitorio Emanuelle é onde estão as lojas com as principais grifes. Dizem que é caro só pra olhar, mas nós entramos, olhamos e não pagamos nada.
Atravessamos a galeria e saímos em frente ao Teatro Scala, que estava fechado e não foi possível visitar por dentro, que dizem ser muito belo.
Em frente ao teatro, visitamos a galeria de artes, no Palazzo Marino, com um exposição temporária de algumas obras de Raffaello, com destaque para a pequena tela La Madonna Esterházy, obra prima do pintor.
As fotos eram proibidas, mas a atração principal da exposição foi a obra que esta no retrato que tirei do panfleto sobre a exposição. A pequena e famosa tela, mede apenas 28,5 x 21,5 cm.
Andamos mais um pouco pelas ruas movimentadas do centro histórico, pegamos novamente o metrô antigo, sujo, barulhento e agora também com cheiro ruim. Voltamos para casa reclamando do frio que doía na carne e das atrações pouco encantadoras que vimos até agora, bem dita numa frase da Ade: “até agora Milão só está valendo quinhentão”.
Dia seguinte acordamos tarde, tomamos o café no último horário e decidimos não mais ir de metrô. Fui pegar a carrinha no estacionamento descoberto e ela estava coberta de gelo, engasgou nas duas primeiras tentativas mas pegou.
Para entrar, grupos fechados passam por três portas e uma só abre quando a outra fecha, câmeras e vigilantes estão por todos os lados.
A obra imortalizada está pintada na parede, onde era o antigo refeitório do Convento de Santa Maria dele Grazie, com detalhes que encanta e impressionam milhares de pessoas que passam pela sala todos os anos.
A obra encanta de perto e de longe. O movimento dos personagens e a perpectiva usada por Leonardo nos dá a impressão que o salão continua até as janelas ao fundo que mostra o horizonte.
Do outro lado da parede do antigo refeitório, outra bela pintura feita por Giovanni Donato, que retrata a crucificação de Jesus. Nada contra a bela obra de Donato, mas Da Vince ofusca com sua capacidade estonteante, com suas técnicas perfeitas de como conceber uma obra.
Dizem que ir a Milão e não ver a Última Ceia é como ir a Roma e não ver o Papa. Nós vimos os dois e ficaremos eternamente agradecidos pelas facilidades com que tudo tem acontecido em nossa viagem.
Dia seguinte, com um belo sol mas ainda muito frio, arrumamos as malas e partimos de “quinhentão”, digo, Milão, rumo a Monza, cidade vizinha, para conhecermos outra terra da velocidade na Itália.