Expedição pelo Brasil 2023 17 Na estrada aprendendo com quem faz, onde acontece

17 Na estrada aprendendo com quem faz, onde acontece


 

Entramos sertão adentro, rumo a Jaguaraúna, a capital nacional das redes, cidade com maior concentração de fabricantes de redes do Brasil. São muitas fábricas que preparam a manta de algodão e depois usam o trabalho manual das moradoras para fazer o acabamento, as varandas como eles chamam. 

Visitamos duas lojas e uma casa de redeiras que prestam serviços manuais para os grandes fabricantes. As redeiras também fazem suas redes, sempre sonhando em um dia abrir sua própria loja. Acabamos comprando uma rede delas para contribuir pelo menos um pouco no sonho delas. 

 

 

A cidade é toda bem limpa, com uma rua central larga e um movimentado comércio. A cada quadra tem uma ou mais lojas que vendem redes, mas tem muitas outras pelas vilas.

Um rodeiro me disse que a rede mais barata que ele vende era 80 reais e a mais cara que ele tinha custava 600 reais. Contou ainda que a rede mais cara do Brasil e talvez do mundo é fabricada em Manaus. A rede tem vários pássaros bordados à mão, por exímias bordadeiras. Ela custa 30 mil reais e os compradores, tem que pagar 15 de entrada e depois de 4 anos, quando estiver pronta, paga os restante. Quando não tem comprador antecipado, eles fazem leilão do raro objeto, que continua sendo uma rede.

As redes de dormir tem uma relação cultural que se espalhou por todo Brasil, como um hábito inerente das pessoas. Conta a lenda que ela tem origem na América do Sul e foi criada pelos nativos das florestas tropicais e se chamava “ini”.  Feita com tecido ou fibras vegetais ancoradas por dois pontos, muito bem serve para dormir, para descanso e até para proteger de ataque de alguns outros seres. Dizem que foi Pero Vaz de Caminha que mudou o nome de in para rede por ser parecida com as redes dos pescadores na Europa. Os exploradores desenfreados europeus viram na rede um bom e barato acessório para o descanso de seus escravos e assim ela se espalhou para todo Brasil. As redes são vendidas e utilizadas em todos os estados. Mas não era só os pobres que usavam redes. Os senhores do engenho, ou do dinheiro, também mandavam fabricar suas próprias redes e bordavam seus brasões, como símbolo da riqueza e do poder.

Esta é a Igreja Matriz de Jaguaraúna.

 

 

Fomos no mercado municipal e lá percebi várias pessoas tomando um caldo, no meio da manhã. Perguntei e pedi para provar o caldo de carne moída. Feito com carne e legumes, engrossado com maisena. Perguntei para a mulher do restaurante e ela me disse que comia pelo menos dois pratos por dia, pensei: deve ser bom.

A refeição matinal vem acompanhada com pão e custa 6 reais. Provei, não gostei mas algumas horas depois, percebi que ainda não estava com fome. Enche o bucho, como dizem por aqui. 

 

 

Em todo nordeste é comum ver carne de sol sendo preparada e exposta para venda nos açougues e mercado. Agora deu certo de ver um açougueiro preparando um lote, com muito sal esfregado carinhosamente em cada pedaço de carne. Depois coloca numa bacia e deixa descansar 24 horas, depois coloca em um local coberto e bem ventilado para secar, embala e vende para todo Brasil, especialmente para os estados do nordeste, maior consumidor nacional.

 

 

 

Seguimos viagem até Mossoró, a capital nacional do sal. Como já tínhamos um belo risoto pronto, procuramos uma sombra para almoçar e quem disse que na cidade tem sombra ao meio dia. Rodamos até que encontramos uma pequena árvore que cobriu somente a frente da Caca, mas deu pra almoçar a um calor de 38 graus, sem vento. 

Depois fomos até a casa do Alan, um professor que conhecemos em Jijoca e que também conserta drones. Ainda em Jijoca, há 15 dias atrás, entreguei meu drone para ele atualizar e arrumar o carregamento da bateria do controle.  Assim que nós recebeu, convidou para entrar, veio sua esposa, nos serviram água gelada e café e me agradeceu pela confiança que depositei nele entregando o drone pra ele levar, sem nunca tê-lo visto antes. Deu tudo certo. O drone ficou pronto para novas imagens. 

 

 

Seguimos por estradas horríveis pelo interior do Rio Grande do Norte e olha que por elas passam os caminhos de petróleo e de sal que seguem para outras regiões. 

Paramos num posto meio suspeito para dormir, mas foi tudo bem. Saímos bem cedo e fomos tomar café na cidade de Macau, outra cidade de sal no nordeste. Olhando o que os outros comem, pedimos café e um cuscuz de carne. Mais parece um almoço pela quantidade servida, mas é muito bom. 

 

 

Depois do café fomos visitar as lagoas de sal. Quando chegamos na entrada de uma das muitas minas, um vigilante se aproximou e disse que era proibida a entrada. Um pouco mais de conversa e ele mudou de idéia, dizendo: pode entrar com o carro, desvia dos caminhões e se alguém perguntar não falem que foi eu que deixou vocês entrarem.

Fomos pela estrada estreita compactada com sal, até onde os tratores carregam os caminhões que levam até o porto de Macau. São dezenas de lagoas à espera da evaporação da água e formação da camada grossa de sal. Quando a água seca, vem o trator raspando e colocando nos caminhões. 

 

 

 

 

Paramos na estrada, como de costume, para ver algo que já havia tempo que estávamos procurando, castanhas de caju sendo assadas de forma caseira. Encontramos. Os dois senhores que assam para vender ali mesmo na beira da estrada, nos contou tudo sobre o processo, nos deu café e ainda deixou a gente comer a vontade.

Tem um tacho de metal, com alguns furos no fundo, escorados por tijolos e lenha em baixo para queimar. Ele coloca um tanto de castanhas e deixa por alguns minutos no tacho já quente.

 

 

Alguns minutos depois o assado começa a soltar uma densa fumaça branca, pouco antes de tudo se incendiar.

 

 

Por conta dos furos no fundo do tacho e a alta inflamabilidade do óleo que solta da castanha, o fogo invade o tacho e queima a casca da castanha enquanto o homem fica mexendo com uma vara comprida, para evitar de ser atingido por respingos.

Tem que ter experiencia para identificar o momento certo de apagar o fogo do tacho. Ele disse que antigamente o fogo era apagado jogando as castanhas na areia, agora apagam com bem pouca água.

A casca queimada serve como combustível para o fogo e sobram somente cinzas.

 

 

Depois as castanhas, pretas, são depositadas numa mesa e o homem começa a bater com um pedaço de ferro para retirar a casca queimada.

 

 

A tarefa seguinte é a retirada da película, uma pele bem fina que envolve a castanha. Ele usa uma faquinha e as unhas para limpar a castanha e já deixar pronta para o consumo.

Quando ela sai do tacho o cheiro, o sabor e a textura é ainda melhor do que aquelas que compramos no comércio.

 

 

O método caseiro tem várias formas para fazer a castanha ficar pronta para o consumo. Ainda tem o processo industrial que, até tentamos entrar numa grande indústria mas o gerente não estava no momento e a portaria não nos deixou visitar.

No mais puro método caseiro, estas são as três fases do tratamento da castanha de caju para o consumo humano. Claro que ainda tem com sal, com mel, com chocolate, com pimenta e outros temperos.

 

 

Aqui na região já provamos muitos cajus com cores, tamanhos e sabores diferentes, sem contar as dezenas de produtos derivados que a fruta proporciona. Só pra saber, o real fruto do cajueiro é a castanha e não a poupa.

Na saída compramos castanhas, bem mais barato do que no comércio da cidade e eles ainda nos deram um punhado na mão para irmos comendo.

 

 

 

 

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