Conta a lenda, que o nome do Arquipélago, formado por 9 ilhas, veio de uma ave de rapina chamada Açor, que ainda está na bandeira dos Açores. Na verdade o Açor nunca habitou o local. A ave que lá existia no descobrimento era o Milhafres, muito parecido com o Açor e, mesmo após a descoberta do engano, o nome foi mantido.
Outra lenda conta que o nome do arquipélago veio dos italianos que navegam pelos mares da região. Quando avistavam as ilhas, diziam que estavam chegando nas terras azuis, azzuro em italiano.
Ainda hoje não está totalmente definido a forma de escrever o nome do arquipélago. A maioria escreve Açores e alguns insistem em escrever Azores.
As 9 ilhas foram descobertas pelo mundo civilizado somente no século XIV. Foi povoada e paramentada para escala das frotas dos descobridores e, ainda hoje, é um importante centro de comunicação e apoio à navegação e aviação para quem cruza o Atlântico norte.
Das 9 ilhas, escolhemos a de São Miguel, a maior delas e com a maior cidade do Arquipélago, Ponta Delgado.
Depois de nos instalarmos, saímos pelas ruas de Ponta Delgado, uma cidade limpa e linda, apreciando os jardins e curiosos com as pedras pretas.
São muitas edificações, calçadas, muros, monumentos e bancos de jardim construídos com o basalto, uma pedra preta de origem vulcânica, encontrada em toda ilha.
No Mercado Municipal ficam à venda uma boa variedade de produtos da região. Os destaques, alem dos peixes, são os queijos e os ananás, uma espécie de abacaxi menor e muito doce.
Depois de um delicioso peixe acompanhado por um bom vinho branco da ilha, caminhamos vagarosamente pela via beira mar, observando a cidade, parando várias vezes para escoar um pouco a boa vontade de viver da Ade e da Isa.
No anfiteatro a céu aberto, acontecem espetáculos perto da marina, no centro, onde estão o calçadão, as lojas, bares e restaurantes e as principais igrejas de Ponta Delgado.
Por dentro as igrejas também seguem um mesmo padrão, sem grandes ostentações, mas com belos arranjos e pinturas em paredes e azulejos decorados.
Existem muitas estátuas de santos no interior das igrejas. Por um momento quem sabe, perceberam a presença de mais duas santas, santas talvez não, mas dois anjos que visitaram quase todas as igrejas da Ilha.
O Arquipélago todo possui 161 estruturas militares entre castelos, fortalezas, fortes, redutos e trincheiras. A maioria já está inativa e algumas foram transformadas em atrações turísticas.
O mar da região e rico para a pesca e um dos peixes de maior destaque é o atum. Já houveram várias fábricas de atum, como eles chamam por aqui, hoje só existem duas mas produzem grande quantidade de enlatados de boa qualidade, um dos principais produtos de exportação da Ilha de São Miguel.
A carne de vaca também é importante na culinária tradicional da Ilha. Existem muitas vacas na ilha que produzem muito leite e carne de boa qualidade, alem é claro, dos saborosos queijos. Provamos e aprovamos.
O turismo é atendido basicamente pelos nativos. Carlos é um deles, que contratamos por dois dias para nos levar aos passeios. Ele chegou e se apresentou como um “corisco mal amanhado”, apelido dos nativos da Ilha de São Miguel. Disse ele que cada ilha tem um codinome para seus nativos. Não anotei todos que ele falou.
Alem do guia com veículo próprio, é possível alugar um carro ou viajar com os ônibus de linha por toda Ilha. Claro que um guia proporciona maior conforto e agilidade nos passeios.
O turismo cresce a cada ano e o governo local tem investido para tornar ainda mais conhecidas as ilhas que ficam no meio do Atlântico, entre a Europa e a América do Norte.
No cais da cidade de Ponta Delgado desembarcam aproximadamente 70 cruzeiros por ano, vários vôos por dia além das embarcações comerciais e particulares.
A Ilha de São Miguel é conhecida também por Ilha Verde, por conta da sua vasta vegetação preservada.
A Ilha Verde tem 20 mil habitantes e, no Arquipélago, vivem 149 mil pessoas. As principais cidades possuem amplas redes de esgoto, água potável, asfalto, sistema de saúde e energia elétrica.
A energia elétrica é produzida por geradores à diesel, algumas pequenas usinas hidroelétricas, algumas torres eólicas e, a maior produção, vem das usinas geotérmicas, que gera a partir do vapor canalizado dos vulcões.
As usinas geotérmicas captam vapor em poços de 1500 metros de profundidade, que alimentam os geradores produzindo energia totalmente limpa.
Nas vilas a vida é pacata, todas são muito bem organizadas na sua infra-estrutura.
Em vários lugares à beira das estradas, próximos das praias e em algumas praças, existem áreas de lazer com churrasqueiras mesas, bancos, água encanada e banheiros. O uso é gratuito e a administração municipal ainda coloca a lenha para quem quer assar uma carne.
Pelas belas estradas a beira mar existem vários mirantes para apreciar a beleza, que compensam uma parada.
Com um pouco de imaginação, vistas do alto dos mirantes, algumas pedras se parecem com animais, como a do cachorro deitado, e a do elefante, quase igual aquela da Berlenga. Eu disse, tem que usar a imaginação, se não, vai sempre parecer com uma pedra enorme mesmo.
A pedra abaixo não se parece com um animal. É na verdade a boca de um vulcão que está só com a ponta fora da água. Quando a maré abaixa, forma uma piscina no seu orifício.
Os resquícios dos vulcões deixaram suas marcas também nas praias, as exclusivas praias morenas dos Açores, como eles gostam de chamar, com areias cinzas, muito agradável e bonita.
Um dos doces típicos da região é a queijada, muito doce mas compensa provar um pedacinho.
A Igreja da Paz fica em uma montanha e foi edificada em 1764. Conta a lenda que ali um pastor encontrou uma imagem em uma gruta e levou para a igreja matriz. No dia seguinte, a imagem foi encontrada novamente na gruta. Reconduzida à matriz, o fenômeno repetiu-se por alguns dias até que o povo entendeu a mensagem e ergueram, próximo do local, numa área mais abrigada, uma pequena capela. Mas após o primeiro dia de trabalho, o local ficou todo revirado e as pedras estavam no lugar exato onde a imagem da Nossa Senhora da Paz, com o Menino Jesus no colo segurando um ramo de oliveira, foi encontrada. Ali está até hoje.
A igreja foi reformada em 1967, com nova decoração e uma escadaria com 110 degraus, divididos em pórticos, cada um com uma cena da vida e morte de Jesus, pintadas em azulejos português.
As festas religiosas são comuns nas ilhas. A festa do Divino acontece todos os anos em cada uma das vilas e uma grande festa de encerramento ocorre em Ponta Delgado, principal cidade do Arquipélago.
O ritual é um cortejo acompanhado por uma banda e por vários voluntários, que entregam alimentos em todas as casas, sempre recebidos com alegria pelos moradores.
Durante os dias de festa é feita distribuição de pão, carne e vinho, em grandes quantidades e de ótima qualidade.
A Festa é mantida pelos mordomos, fiéis patrocinadores que compram os alimentos ou se encarregam de arrecadar entre os moradores durante o ano.
Ade e Isa entraram na festa, dançaram, entregaram alimentos e seguraram a bandeira. A alegria contagiante das duas, induziram o Victor a entrar no cortejo e a banda a abandonar o repertório religioso e tocar “Mamãe eu Quero”.
Depois recomendei que elas fossem rezar por conta do desvio sacro que provocaram.
Furnas é um parque dentro da boca de um dos vulcões, onde borbulhas encandecestes brotam do chão. A fumaça e o cheiro do enxofre inundam o ambiente.
A atracão do local e o Cozido de Furnas, feito com legumes, carnes de vaca, porco, frango e linguiça.
Os ingredientes são colocado em uma panela de alumínio, depositados em um buraco e tampados com terra para cozer no vapor do vulcão, durante 6 horas.
Mediante um taxa, todos podem usar os buracos para cozinhar. Particulares e restaurantes identificam seus buracos com um número ou com o nome do restaurante.
Os buracos ficam em uma área reservada, toda cercadas onde o turista é impedido de entrar por ser de grande risco. Somente os cozinheiros e os funcionários do parque é quem colocam e retiram as panelas. Este cuidado foi tomado depois que dois turistas caíram nos poços borbulhando com água e lama, que chegam a 160 graus centígrados.
O ritual da retirada das panelas é acompanhado pelos curiosos e famintos à espera do alimento mais famoso da Ilha.
A panela é transportada até o local da refeição, onde os curiosos já estão à espera. Imperdível saborear a deliciosa refeição cozida no vapor de um vulcão, acompanhada de um delicioso vinho branco açoriano.
Depois do farto almoço, a pedida e andar pela cidade cercada pelas montanhas, literalmente dentro da boca do vulcão.
O lago amarelo é uma das principais atrações da Ilha, com águas ricas em ferro e uma temperatura de 32 graus, onde um banho é irrecusável.
Existem várias outras fontes de águas quentes onde são permitidos o banho e cada local tem uma estrutura própria, para o conforto dos banhistas, com banheiros e cabines para trocar roupas.
O chá é importante na agricultura da Ilha. Surgiu após uma doença que dizimou os laranjais e obrigaram os produtores a buscar novas alternativas. Para iniciar, contrataram mestres chineses, que ensinaram o cultivo e o beneficiamento da nova cultura.
Surgiram muitas fábricas, mas após a Segunda Grande Guerra, veio nova crise e só restou uma fábrica de chá, que só resistiu à crise por conta de sua produção própria de energia elétrica.
Na fábrica, produzem 60 toneladas por ano de vários tipos de chás. Após uma detalhada visita, os chás ficam à disposição para provas.
Na saída eu disse ao Carlos que eu estava chateado e ele ficou preocupado querendo saber o que teria acontecido de errado, eu disse, nada, é que eu tomei muito chá e fiquei chateado. Piadinha oportuna? meio sem graça mas todos rimos.
Ao final da tarde, após um banho reparador e algumas poses para fotografias, fomos ao Coliseu Micaelense, assistir o espetáculo que estava em cartaz, com Carminho, uma das cantoras de Fado de maior sucesso em Portugal.
A voz de Carminho é marcante, canta com emoção mas, se fosse possível uma sugestão, diria a ela para ter aulas para melhorar sua presença de palco. Ela se vestiu mal para um show, falava muito baixo e ficava muito tempo de costa para o público, mas foi aplaudida de pé pela platéia.
O Victor, em mais uma de suas pérolas, disse que ela parecia “um bacalhau seco que ele não comeria nem com muito azeite”.
É preciso sair cedo do hotel para conhecer a maior parte das muitas atrações da Ilha Verde.
O clima na região é agradável e quase sempre o sol surge para descortinar a névoa da manhã e descortinar a visão do alto dos mirantes.
A Caldeira Velha é outra boca de vulcão, mais uma fonte de águas termais, com águas que brotam a 61 graus centígrados, escorrem pela rocha e formam piscinas agradáveis para um banho quente.
Logo acima, mais uma fonte de água quente brota entre as pedras e formam uma bela cachoeira amarela, com vasta e diversificada vegetação.
Na Ponta do Cintrão, funciona uma guarita de vigilância às baleias e outra bela visão dos paredões à beira mar.
Subindo um pouco mais chega-se a outro mirante, com uma visão das Sete Cidades. Conta uma das lendas que deu origem ao nome da cidade, que na beira do mar haviam sete pequenos povoados. Como eles eram constantemente atacados por piratas do mar, resolveram se unir e construir uma nova cidade dentro da boca do vulcão, onde eles ficavam longe dos mercadores aventureiros que passavam pelo mar.
Outra lenda diz que o nome da cidade é por conta das sete crateras menores que existem dentro da cratera maior do vulcão da Ilha Verde.
Próximo da cidade existe um lago com águas de duas cores. Mesmo unidas, as águas apresentam as cores bem distintas.
Segundo a lenda, os lagos coloridos foram formados depois que uma princesa, de olhos azuis, se apaixonou por um pastor de ovelhas, de olhos verdes. Ele foi até o rei pedir a mão de sua filha em casamento e lhe foi negado. Como era um grande amor, os dois se isolaram e começaram a chorar. Tanto foi o choro que as lágrimas formaram as duas lagoas, uma azul e outra verde.
As Termas de Ferraria, uma pseudocratera, é outra grande atração, de onde brotam águas quentes que se misturam com as águas geladas do Atlântico.
É perigoso chegar até as águas mas a sensação de tomar um banho em águas quentes no Atlântico, é fantástico. No balanço do mar, ora as águas são muito quentes, ora são muito geladas, variando de 18 a 28 graus centígrados a cada onda.
Existem várias piscinas entre as pedras e o vapor brota por entre as fendas mantendo as pedras úmidas e quentes. Nem mesmo meu celular resistiu e mergulhou nas águas salgadas. Prejuízo.
Ainda restam muros de pedras pretas nos campos, construídos para delimitar territórios, durante o povoamento da Ilha.
Hoje as divisas são definidas por cercas vivas de camélias. Poucas cercas são de arame.
Se algum tempo houve uma explosão no paraíso é certo que um pedaço caiu nos Açores, ou então, como diz a lenda: a Mãe de Jesus chorava por conta de sacrifício de Seu filho que deu a vida para salvar o mundo e de nada adiantou. A fome, a pobreza, os crimes, as guerras ainda continuaram após Seu martírio. Contam que foram pingos das lágrimas de Sagrada Mãe que caíram no mar e formaram o Arquipélago dos Açores.
Vale muito conhecer o Arquipélago dos Açores.