Rumo a Serra da Estrela, no centro-leste de Portugal, passando por dezenas de pequenas Vilas, algumas com nomes engraçado, como por exemplo: Brasfemes, Penacova, Folhados, Torrozelo até pararmos em Seia, no pé da serra, para um lanche.
Na cidade fomos visitar o Museu do Pão. Uma bela construção em pedras, que conta a história do pão sob vários ângulos, em vários países e em várias épocas.
Na entrada, salas e corredores, frases sobre o pão chamam a atenção: “Nem só de pão vive o homem”, “Amigo é aquele que partilha o pão comigo”, “Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”, “Os pobres dão pelo pão o trabalho e os ricos dão pelo pão a fazenda” e “Fraco é o padeiro que diz mal do seu pão”.
Até Pablo Neruda foi lembrado em sua Ode sobre o pão: “Todos os seres terão direito à terra e à vida, e assim será o pão de amanhã, o pão de cada boca, sagrado, consagrado, porque será o produto da mais longa e dura luta humana”.
Uma Duende nos conta as etapas do fabrico do pão, desde o trabalho na terra até o forno.
O pão também é lembrado nas artes, nos aspectos político, social e religioso. Estão expostas várias peças de artistas portugueses que esculpiram, pintaram e bordaram o trigo e o pão sagrado de cada dia.
Fomos embora sem provarmos um pão. Bem que poderia ter um pão quentinho no final da visita. Sugerimos para a Duende que nos acompanhou e ela disse, sem considerar a sugestão, que a gente poderia comprar lá fora.
Subimos a Serra da Estrela por uma estrada bem asfaltada, muitas curvas e bem protegida dos precipícios. Paramos em vários mirantes para contemplar pequenas vilas e o horizonte.
A mais de 2.000 metros de altitude, com sol de fazer calor, uma surpresa agradável que nos fez feliz e até brincar como criança. No alto das montanhas ainda haviam placas do gelo que restaram do inverno.
Paramos para brincar com o gelo, que ainda se conserva em enormes placas que demoram a derreter.
No alto da Serra paramos em Manteigas para comprar o famoso e saboroso queijo da serra e vinhos regionais.
Na descida, a cada curva uma bela paisagem aparecia com enormes montanhas de pedras, rios, lagos, flores e isoladas casas edificadas com pedras, matéria prima comum na região.
Chegamos em Guarda após centenas de curvas da Serra da Estrela, nos hospedamos e saímos para jantar um Bacalhau a Bráz, com ovos, cebola e batatas, acompanhado com um vinho da casa, produzido na Serra. O garçom que nos atendeu falava “obrigado” para tudo, aliás, os portugueses falam muitas vezes a palavra “obrigado”. Quando você agradece com um “obrigado” eles respondem “obrigado eu”. Mas o garçom foi o mais exagerado de todos no “obrigado”.
Guarda é a cidade de pedra. A maioria das edificações são com pedras granito e o clima é considerado bioclimático, pela salubridade e pureza, que favorece a cura de doenças respiratórias e a produção de queijos e embutidos de alta qualidade.
A cidade é conhecida como a “A cidade dos 5 Fs”. Hoje dizem que é Forte, Farta, Fria, Fiel e Formosa. No passado diziam que era Feia, Farta, Fria, Fidalga, Feiticeira e Falsa, sempre os 5 Fs.
Por aqui dizem que o Brasil nasceu em Guarda, por que foi na cidade que o Tratado de Tordesilhas foi delineado.
Dia de jogo, final da Liga Européia de Futebol, Benfica na disputa e a cidade fica com “nervos até o fim”, como dizem os torcedores. Fomos assistir a partida em um bar, enfrente a imponente Igreja da Sé, tomar chope e, comer petiscos. Depois de vermos várias pessoas comendo, encaramos um prato de caramujos. Sério. São lesmas bem temperadas que você come com um palitinho. Pedimos, provamos, mas não desceu. Eles comem aos montes mas aquele chifrinho e o corpinho gosmento não favoreceram o apetite. Pedimos para recolher o prato e escolhemos outro tira gosto.
O Benfica perdeu para o Sevilha e nós voltamos para o hotel com a cidade em silêncio, com os torcedores tristes chamando o resultado de ingrato.
Agora estamos deixando Portugal rumo a Espanha. A bela Portugal de um povo educado, de cidades limpas, de respeito para com os pedestres, de farta comida, de belas edificações, de muita história, de uma forte religiosidade e de muita simpatia.
Portugal onde o café da manhã é um pequeno almoço, onde os atletas usam camisolas, onde as mulheres usam malas (bolsas), onde estufam os caramujos para retirar o ranho, onde alguém sopra no auricular para contar um segredo, onde tantas outras divertidas formas de pronúncias que ouvimos e esquecemos de anotar e onde a presteza nos encantou, temos a dizer: