Entramos na terra de los Hermanos por Uruguaiana. O trâmite de entrada foi muito tranquilo sem revistas, só documentos. Importante dar entrada no país com documentos pessoais e do veículo. As informações ficam no sistema e podem ser usadas em caso de imprevistos.
Na cidade de Pasos de Los Libres fizemos a troca do dinheiro numa casa de câmbio e seguimos por estrada ruins no começo e depois excelentes. Passamos por várias barreiras policiais sem ter que parar.
Chegamos na cidade de Paraná ao entardecer e passeamos pela orla. Pegamos o túnel que passa por baixo do rio e chegamos em Santa Fé e encontramos o camping indicado pelo aplicativo IOverlander. Lá fomos recebidos por um, praticamente sósia do Maradona. Quando eu disse que ele parece com o ídolo argentino, se encheu de orgulho e disse que até já jogou como profissional de futebol contra o Maradona.
Ele veio todo se batendo e se abanando, justificando a presença nada agradável dos pernilongos. Eram muitos, como nunca havíamos visto. Invadiram nossa casa e, antes de dormir travamos uma batalha para eliminar os invasores. Conseguimos e dormimos uma noite tranquila.
Trafegando pela cidade em busca de atrações, fomos abalroado por um motorista descuidado que se apressou na saída do sinaleiro e bateu na lateral direita da Caca. Danificou o suporte do toldo e amassou a lataria.
Ele seguiu e eu parei mas o trânsito agitado da cidade grande me obrigou a seguir e facilitou a fuga do inábil condutor. Eu também não queria discutir com ele. Foi melhor assim. Cada um ficou com o prejuízo. Dinheiro a gente ganha outro, mas o tempo perdido não.
Na estrada paramos para dormir num posto YPF, nosso parceiro na Argentina. Nosso e de tantos outros motorromeiros que dormem no pátio, sempre muito bem recebidos. Nossa contra partida é abastecer no posto que nós abriga.
Chegamos na cidade de Termas de Rio Hondo, para assistir a etapa Argentina do Campeonato Mundial Grande Prêmio de Motovelocidade.
Na cidade das águas termais, a lotação e uma exploração nos valores de camping por conta da corrida de motovelocidade, nos fez pensar em dormir na rua, em frente a uma praça. Havia policiais por todo lado então nos sentimos seguros.
Estacionamos e saímos passear pela muvuca, com centenas de motociclistas vindo de toda América do Sul.
Na praça central um verdadeiro espetáculo com motos potentes acelerando ao máximo, encantando a quase todos. Os mais velhos tapavam os ouvidos. O ronco é ensurdecedor. A cada acelerada continua ou o famoso zerinho juntava gente com seus celulares filmando para depois postar.
Também tinha show de rock, artistas de rua, gente bonita e gente esquisita, motocicletas de todas as marcas, sorteios, muitos acessório para vender e muita comida com lanches e assados. Uma grande festa que entrou noite adentro, na véspera da corrida.
Quando voltamos para a Caca uma surpresa. Somente ela, dentre todos estacionados, estava com uma multa no pára-brisa. Ficamos intrigados e começamos uma investigação do por que somente o nosso. Em torno haviam vários outros carros e motorhomes e nenhum multado. Ficamos um tempo na praça esperando a mocinhas que registraram a multa.
Uma senhora se aproximou dizendo que viu elas fazendo a multa é que elas eram umas maldosas. Depois veio um senhor que viu a multa e também desqualificou as mocinhas. Ficamos tempo conversando esperando as mocinhas voltarem ao local do crime.
Perguntei para um policial, que veio da capital para trabalhar nos dias da corrida e ele também desqualificou as mocinhas e disse que era uma lei municipal e ele não sabia como resolver. Depois encontramos a polícia de trânsito da cidade, que também desqualificou as mocinhas e disse que não dava nada, que eu não precisava me preocupar.
Deixamos a Caca multada na praça e saímos novamente a passear pela muvuca de motociclistas.
Não é que encontramos as mocinhas e adivinhem, continuavam multando quando já passava da meia noite. Conversei com elas, que não me deram muita atenção enquanto multava outros carros e simplesmente me disseram que o nosso carro do Brasil só pode estacionar nas ruas paralelas. Agora sim entendi de motivo todos a chamarem de desqualificadas.
Já que estava lavrada a multa e haviam muitos policiais, decidimos dormir na rua, no mesmo local da multa. Quando voltamos para dormir outra surpresa. Dois rapazes bebendo coca-cola com fernet, como todos bebem por aqui, estacionaram em frente a Caca e ligaram o potente som em volume máximo. Como dormir com esse barulho. Tudo bem, os incomodados que se retirem.
Com campings lotados resolvemos ir dormir no posto YPF, a 4 km da cidade e adivinhem. Estavam lá muitas motocicletas fazendo barulho e já passava das 3 horas da manhã. Não conseguimos dormir lá também é fomos para o autódromo, ainda de madrugada. Já havia uma pequena fila e fomos um dos primeiros a entrar. Dormimos um pouco no estacionamento do autódromo até a hora da corrida.
O Grande Prêmio de Motovelocidade de Termas de Rio Hondo é uma das etapa do Campeonato Mundial que acontece todos os anos na Argentina, com a participação das melhores equipes e dos melhores pilotos, que voam no asfalto.
Foram três corridas de categorias mundiais diferentes que emocionaram o público com disputas e roncos de motores potentes.
Importante salientar que mesmo com milhares de pessoas reunidas, tanto na festa do sábado como no autódromo no domingo, não vimos nenhuma confusão.
Mais uma vantagem do Motorhome. Enquanto a multidão deixava o autódromo em longas filas, tomamos banho e Ade preparou o almoço. Quando saímos já não haviam filas.
Muitos foram embora da cidade após a corrida e agora sim, encontramos um camping mais sossegado, mas ainda com valores abusivos.
No camping, como em todos os hotéis e vários lugares público da cidade, tem piscinas de águas termais que saem da terra com 50 graus de temperatura, para deleite dos que procuram a cidade para se cozinhar nas águas quentes. No camping que ficamos haviam pelo menos 8 piscinas.
Resolvemos ficar mais uns dias para cozinhar o corpo, agora com poucas pessoas no camping e na cidade.
Para manter o corpo sadio, caminhamos pela cidade perfazendo um percurso de 9,3 km. Fomos procurar o local para pagar a multa e descobrimos que quase todos na cidade trabalham da 7h até as 14h, depois quase tudo fecha, inclusive o local que regulariza as multas.
Escolhemos um restaurante para comer uma parrillada e o dono também desqualificou as mocinhas depois que contei pra ele sobre a multa. Ele me disse para não me preocupar que a multa nunca chegaria ao Brasil. Até concordo com ele, mas em qualquer lugar devemos cumprir com nossas obrigações. Se fui multado, tenho que pagar, mesmo também já considerando as mocinhas desqualificadas como vários me disseram.
Voltamos no dia seguinte, agora no horário certo e a saga continuou. Perguntamos para três policiais e dois moradores e acreditem, nos passaram informações diferentes sobre o local e a forma de pagar a multa.
Finalmente encontramos o local onde é feito o julgamento das multas e pensei Ufa! Agora estará resolvido. Só que não. Tive que ir em outro local para pagar e depois voltar “Juzgado de Faltas” para, acreditem, carimbar o papel que eu paguei.
O prédio é todo desorganizado, computadores antigos e atendentes sem muita vontade de atender. Mas não é só isso. Onde paguei a multa, a mulher teve que fazer um documento, pedir para chefia assinar e carimbar uma autorização para tirar uma fotocópia. Tal qual fazíamos no Brasil há 30 anos passados.
Finalmente me convenci que os xingamentos atribuídos às mocinhas estavam corretos e podem se estender a quase todos funcionários do trânsito da municipalidade. Não sei se fico com pena ou adoço os xingamentos.
Apesar da multa e da novela para regularizar, valeu muito a viagem. Compramos alfajores, doce de leite, comemos bem, nos divertimos e assistimos uma das etapas competição mundial.
Seguimos para Mendoza, uma das cidades que já visitamos e mais gostamos na Argentina.