Deixamos a chapada das Mesas e seguimos pelo Maranhão afora, do sul ao norte do Estado. O que merece destaque são as estradas pela situação precária e as pequenas cidades pelas frutas saborosas na beira da estrada.
O que também chamou a atenção foi a quantidade de motocicletas. Elas estão por todos os lados, pilotadas por homens, mulheres e até crianças. Quase todos sem capacetes. Algumas motos carregam até 4 pessoas e aínda levam sacolas de compras.
É preciso muita atenção para não se envolver em acidentes. Eles trafegam na contra mão, na calçada, a toda velocidade, cruzam a frente e viajam pela rodovia como se pagassem impostos.
Íamos direto para os Lençóis Maranhence e antes do trevo, decidimos ir assistir mais um famoso pôr do sol em São Luiz, capital do Maranhão. A cidade tem um centro histórico, marcada por edifícios coloniais com azulejos portugueses e varandas de ferro fundido, declarado patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO.
No início a cidade teve vários invasores europeus até que Portugal tomou conta de tudo, expulsando franceses que já formavam suas comunidades na região. Aqui vivem poucas famílias abastadas, de renome até nacional e uma delas ficou famosa e ainda hoje aterroriza a cidade. A família Jansen ficou conhecida no passado e até hoje ainda lembrada por conta da senhora Ana Jansen. Ela ficou famosa ainda quando viva, por maltratar severamente e até matar seus escravos. Ela era tão maldosa que ficou imortal por conta de uma lenda. Dizem que até hoje ela vagueia pelas ruas escuras, em sua carruagem puxada por cavalos brancos sem cabeça. Não fiquei com medo, mas também não passei por ruas escuras.
O centro histórico visto da ponte é possível identificar pelo menos 5 igrejas. Esse era a tradição de épocas passadas, onde famílias abastadas e grupos étnicos edificavam suas próprias capelas.
Ficamos instalados na Praia do Amor, numa península, onde construíram um espigão de pedras que avança o mar. Os motorhomes ficam estacionados num local privilegiado, bem na beira do mar, onde ficam edifícios enormes e tem o metro quadrado mais caro de São Luiz.
Olha nossa casinha lá no fundo, bem no point onde todos chegar para fazer uma foto.
Quando chegamos outros motorhomes já estavam no local, alguns há dias. Amizades como sempre são imediatas na vida dos motorromeiros.
Com ajuda do Pimpolho, um morador que sonha em viajar pelo mundo, fizemos um jantar maravilhoso a beira mar. O cozinheiro foi o Chang, que preparou um delicioso frango xadrez. Foi mais uma noite agradável entre novos amigos que parecem velhos amigos.
No dia seguinte chegou o Pimpolho com um bolo de macaxeira e depois ainda foi atrás de um serralheiro para ajudar um casal que precisava colocar uma grelha de ventilação no motorhome.
O Pimpolho é mesmo uma pessoa especial, daqueles que existem poucos e sorte de quem os encontra. Ele é professor da faculdade e autor de um livro. Contou histórias e nos deu todas as dicas da cidade. Foi total e coerentemente prestativo. Gente boa.
Diante de tanta receptividade e de um espaço privilegiado, resolvemos ficar por mais um dia.
Fomos caminhando até o centro histórico e ao passarmos pela ponte foi possível observar quão grande é o balanço da maré por aqui. Dizem ser o maior do Brasil e chega a 8 metros de diferença entre a maré alta e a maré baixa. Por aqui tem que estudar muito bem as marés, principalmente quem se diverte ou trabalha no mar.
Fomos a pé para o outro lado da ponte e percorremos o centro histórico. Grande parte não tão bem conservado mas agradável de conhecer. Fomos nos dois mercados municipais e almoçamos em um deles.
Pegamos o Uber e voltamos para casa depois de 8 km caminhando. Voltamos a tempo de ver novamente o pôr do sol, maravilhoso é diferente todos os dias.
Na espera do sol se pôr as amizades se afinam com trocas de experiências, receitas, favores e dicas sobre o caravanismo e como cada um vive na estrada. Aqui encontramos um casal com mais de 80 anos e um filho que viaja com sua mãe, por meses e depois voltam pra casa fixa. Outros dois casais trabalham pelo computador, venderam ou alugaram suas casas e não pretendem voltar tão cedo.
Antes de deixar São Luiz, olhei o Manual da Caca e percebi que já estava quase na hora de fazer a revisão. Liguei para a concessionária e fui informado que só teria vaga para a semana seguinte. Mesmo assim, resolvi passar na empresa e fui muito bem atendido. Fui apresentado ao chefe da oficina, apaixonado por motorhome, que deu seu jeitinho e encaixou a Caca para revisão de 120 mil km e, ainda por cima, mandou lavar para tirar a poeira acumulada dos caminhos da Chapada das Mesas, onde passamos semana passada.
Pronto! Agora só pegar a estrada e seguir para os Lençóis Maranhenses.