Por indicação de outros caravanistas, fomos conhecer Baia Formosa e, na primeira descida rumo ao mar, já deu para perceber que ali é mais um pedaço de paraíso no Brasil de tantas belezas. A cor da água do mar é encantadora.
Baia Formosa já era um paraíso turístico e, depois das conquistas do surfista Ítalo Ferreira, atraiu ainda mais gente. Ítalo foi o primeiro surfista a conquistar a medalha de ouro nas olimpíadas. Nativo de Baía Formosa não abandonou suas origens e até hoje ainda vive na cidade. Agora tem uma bela casa bem próximo de onde treinava desde criança e de onde tem uma estátua em sua homenagem.
Por sorte nossa, num domingo a tarde, Ítalo apareceu para surfar bem no nosso quintal, ou melhor, quintal dele. Parou sua caminhonete dourada e logo ficou rodeado de fãs. Com simpatia ele atendeu a todos que queriam registrar o momento com fotos e autógrafos.
Até Ade desceu para uma tietagem.
Depois foi pro mar e tive a oportunidade de fotografar ele pegando ondas com a destreza de um campeão. Mesmo com minha máquina nada potente para tirar fotos de surfistas e muito menos captar os melhores ângulos que um campeão merece, fiz estas para não perder a oportunidade.
Aqui na Praia do Pontal, onde Ítalo treina desde criança, as ondas não são tão grandes, mais são longas e correm na diagonal da areia, aumentando o tempo do surfista em cima da prancha.
O exemplo arrasta e aqui não é diferente. O mar, neste cantinho, fica tomado por surfistas iniciantes, sonhando um dia se destacar no esporte. Alguns daqui certamente serão futuros craques. O ídolo deles é Ítalo, a pessoa mais falada na cidade. O cara que conquistou o mundo e ganha mais de 1 milhão de dólares por ano, sem contar os patrocínios, circula à vontade pela cidade, para orgulho de todos os moradores.
Ali fotografando, tinha um japonês de Santa Catarina que trouxe seus filhos pra praticar na praia do campeão. A cada onda, dezenas de clics. Perguntei a ele se não tinha medo de acidentes com seus filhos e ele disse que o perigo maior no surf são as brigas que acontecem quando um não respeita a onda do outro. No surf tem a preferência quem surfa uma onda pela direita. Quando um não respeita e surfa na onda outro tem discussões e até troca de soco. O surf não é só um esporte. É um estilo de vida e foi isso que o japonês disse que quer para seus filhos.
Estima-se que no Brasil tem entre 5 e 7 milhões de surfistas e outros tantos fãs do surf. O mercado é promissor para alimentar esse público que preza por um estilo de vida que prioriza a conexão com a natureza e a saúde, que curte a cultura e a música, que adere à comunidade, a irmandade, a meditação e a espiritualidade, que respeita as regras e sempre busca a onda perfeita. O surfista ainda se destaca pela forma exclusiva de se vestir e o gesto característico e exclusivo de amizade.
Aqui tem surfista por todo lado e de todas as idades. Conheci um surfista que está começando agora e me disse que tudo na vida dele melhorou depois do surf. Ele está com 83 anos e começou a surfar fazem 4 meses.
Este anjinho de 4 anos, vem todos os dias com seu pai para treinar. Ela mesmo passa a parafina e carrega sua prancha.
Pela manhã, quando acordei, por volta das 6 horas, já tinha surfista pegando onda na Praia do Ítalo. E ficam até o anoitecer. Outro dia contei 35 surfistas esperando a onda perfeita.
Quando Ade foi para tietar o surfista campeão olímpico, sentiu dores na coluna e teve que tomar remédio. Ela não quiz ficar de repouso, mesmo assim, e por estarmos num paraíso, resolvemos ficar mais alguns dias pra ela se recuperar a dar tempo de passear mais pela praia e pela cidade.
Fomos comprar peixes fresco, direto do pescador que pesa inteiro e entrega limpo. Em casa fizemos um belo pirão e um filé grelhado, adicionado ao molho de camarão com polpas de tomates.
Pela manhã tem peixe chegando a todo momento. Pescadores exibem com satisfação seus produtos trazidos do alto mar.
São tantos peixes que as crianças brincam com eles na praia. Pela primeira vez vi crianças escorregando numa arraia.
Terminamos de almoçar e apareceu Ravi com seu pai e sua mãe e passamos a tarde conversando, brincando com o Ravi e jogando hamikobe. Eles já são nossos amigos dos cinco últimos campings, estamos seguindo na mesma rota, quase que ao mesmo tempo.
Nós estamos acampados na mesma visão, só que eles preferiram ficar num espaço público, no estacionamento dos carros. Tem um ponto de energia e um de água a menos de 80 metros. Não tem segurança e restringe um pouco a liberdade, o conforto e a privacidade. Nós preferimos ficar na pousada pagando 50 Reais por dia e poder abrir o toldo, colocar o piso, lavar roupas e fazer churrasco, mas a vista para o mar é a mesma.
Teve dia que haviam cinco motorhome no espaço gratuito e somente dois no estacionamento da pousada.
Recebemos a visita do Brexó, neto de índios que agora é bugueiro e guia turístico. Ele disse que tem 47 anos de experiência, nasceu aqui é sempre viveu aqui. A experiência ele conta desde que nasceu. Aqui todo mundo tem apelido. O Brexó disse que o apelido dele é por que ele só é usado, mas nunca envelhece por que se banha nas lagoas de águas escuras depois do banho de lama, para onde ele queria nos levar.
Voltamos no porto dos pescadores comprar mais peixes e la fiquei sabendo sobre a lenda do rabo dos peixes. Peixe com rabo aberto, tipo tesoura, é carregado e quem tem problemas com saúde ou qualquer ferimento, não deve comer. O descarregado, de rabo fechado, pode ser consumido sem restrições.
Reunião entre amigos campista sempre tem muita conversa, risadas, comidas e bebidas. No lanche do entardecer já ficou marcado o churrasco para o almoço do dia seguinte, capitaneado por um gaúcho churrasqueiro da gema.
Na nossa caminhada de longa distância, fomos até o Farol de Bacopari, com 30 metros de altura, que orienta embarcações até 15 milhas náuticas de distância. Fica entre dunas e a praia e em frente tem formação de piscinas naturais quando a maré está baixa.
Como um farol, Baia Formosa, agora também conhecida como a cidade do Ítalo, avisa a todos que amam viajar que aqui é bonito de estar, podem vir.