Barra de São Miguel é um município perto da capital de Alagoas, cidade balneária, com praias de areias brancas, águas mornas e cristalinas, lagoas, ilhas, manguezais e muitas piscinas naturais.
Conta a história que foi aqui que o padre português Don Pero Fernandes Sardinha foi devorado pelo índios Caetés, antropófagos conhecidos. Veio de Portugal para catequizar e virou almoço dos nativos canibais. Também, quem mandou ele se chamar sardinha.
Por sua localização geográfica privilegiada, a cidade já foi um importante polo de fabricação de embarcações. Quando chegaram as rodovias, por volta de 1.930, os endinheirados donos de estaleiros não acreditaram no progresso e sucumbiram aos concorrentes, faliram e a cidade toda sofreu por conta do desemprego. Hoje já recuperada, migrou para o turismo e veraneio. Tá mandando bem. Bom comércio e belas praias, é disso que a gente gosta.
Caminhamos até o lado de cá da Praia do Gunga, um pequeno paraíso que explora o turismo em parceria com empresas de transporte e guias, que trazem muitos clientes o ano todo. Tem taxa de entrada e os preços das lanchonetes são compatíveis com um local turístico e isolado. É um paraíso natural que virou fonte de exploração, ou extorsão, de turistas obrigados a ir até lá por conta do pacote que comprou.
Quem me disse tudo isso foi o dono do restaurante ao lado da Praia do Gunga, separados por um rio. Ali não tem movimento, os preços são módicos e a natureza oferece o mesmo espetáculo.
No restaurante das conchas, do lado de cá da Praia do Gunga, tomamos cerveja, caldinho de sururu e ficamos tranquilamente esperando a maré subir. E ela subiu. Duas horas depois ela já estava cheia e durante esse tempo ela veio devagar, chegando em pequenas ondas, até que alcançou o assento da cadeira que estávamos sentados.
Observamos perfeitamente o movimento do mar avançando para o continente, devagar mas sempre avançando, especialmente neste dia de lua cheia.
A Praia das Conchas fica ao lado da Lagoa do Roteiro, um pequeno paraíso onde descansam os bem sucedidos em suas mansões na beira do Lago, mais fácil para sair para navegar em seus barcos e pequenos iates.
Com a maré alta não deu para voltar pela praia e viemos pela cidade, passeando pelo comércio diversificado, com opções de produtos de qualidade. Mesmo cansados depois de uma caminhada de 8km, já em casa, Ade não para, fica sempre fazendo alguma coisa dentro da Caca e olha que são só 10 metros quadrados e ela acha o que fazer, enquanto eu descanso.
Ao entardecer fui ver o mar e um português, que reside aqui a 15 anos, se aproximou e já começou a contar que tinha uma teoria.
Disse ele que aquela barreira de corais não é uma barreira de corais e sim uma muralha construídas há milhares de anos, por povos primitivos. Ele sempre sonha com esta história mas ainda não descobriu nada ou alguém que apoie a teoria dele. Falei pra ele pedir ajuda aos arqueólogos e ele disse que já pediu, mas eles também não acreditam. Vou dar crédito a ele. Se realmente há milhares de anos as águas dos oceanos eram muito mais baixa é sim possível que os antepassados construíam cidades muralhadas, como tantas outras que ainda existem. Por que não?
O gajo é corajoso, voltou na terra onde comeram seu patricio e ainda provoca os nativos chamando eles de “papa bispo”, só por brincadeira.
Estamos acampados ou estacionados bem no centro da cidade, em um estacionamento rotativo de carros, vans e ônibus de turismo.
Pagamos uma diária e temos a disposição água e energia, tudo ajeitado, sem o padrão de um camping, mas atende nossas necessidades. Cerceia um pouco os hábitos do campismo, mas a localização é ótima.
Quando fui pagar a estadia, o funcionário me passou o número do Pix e percebi que o nome que apareceu não era o do Geraldo, dono do estacionamento, questionei e ele me disse que Geraldo é o apelido do dono. Achei estranho um apelido de nome próprio, mas ele me explicou. Disse que o pai do “Geraldo” registrou dois filhos com o mesmo nome e sobrenome.
Logo o Geraldo chegou, confirmou tudo e completou a história. Disse que já estava com 18 anos, depois de muitas confusões na família e no trabalho por conta dos nomes iguais dos irmãos, que o dono da fazenda que eles trabalhavam disse a ele “agora você vai se chamar Geraldo”. Ele disse que não gostou, mas aceitou e foi assim que ele deixou de ser homônimo do irmão, salvo por um apelido de nome próprio.
Saímos da Barra de São Miguel com a idéia de passar o dia na famosa e badalada Praia do Gunga, para descobrir o motivo da fama mas não descobrimos. A água é turva que vem do logo, a praia é íngrime e os restaurantes com mesas na areia cobram consumação mínima de 150 reais, mais 10% de taxa e mais 10 reais por pessoa de couvert. Perguntei ao garçom: se quisermos só tomar água de coco, sentados em baixo do guarda sol, quanto teremos que pagar? Somamos tudo e deu um valor de 185 reais para tomar dois cocos, ouvindo música pelas caixas de som. Claro que não sentamos.
Ainda tenho que somar os 30 reais de taxa para entrar no estacionamento.
Nem tudo é exploração, você pode também almoçar um prato feito com um pedaço de frango assado por 25 reais, nos restaurantes um pouco mais afastado da beira do mar.
Também é possível comprar roupas e acessórios de praia em uma das mais de 50 pequenas lojas ou passear de bugie por 75 reais, ou no barco voador por 200 ou no helicóptero por 350 reais por pessoa.
Chegam tantos carros, vans e ônibus de turismo no enorme estacionamento, que até adaptaram uma vigília aos moldes regionais. Uma cadeira fixada no alto do coqueiro, que somente catadores de cocos, dos bons, estão aptos para a vaga.
Achamos muita exploração para pouca beleza. Do outro lado onde vimos a maré subir na Praia das Conchas, foi bem mais barato e, na nossa avaliação, bem mais bonito. Nada contra a Praia do Gunga, mas se você for para a região, não deixe de conhecer a Barra de São Miguel, do outro lado do Gunga.
Parabéns!!!
Com certeza esse é o sonho de muitas pessoas.
Quem sabe um dia eu e a Nana também possamos fazer viagens deste tipo.
Hoje o nosso depois do trabalho está sendo o trabalho voluntário que também é muito gratificante.
Legal meu amigo. Viagens realmente é sonho de muita gente e são inesquecíveis. Viajar é o que eu desejo pra todo mundo e em especial para pessoas como você e a Nana, que conquistaram, merecem e devem realizar seus sonhos e, se viajar for um deles, não deixe o sonho escapar, é muito bom. Eu e Ade já estamos vivendo como nômades temporários há 12 anos. Já viajamos de moto, de carro, de avião, de navio e até a pé ja percorremos 300 km. Foram 34 países e o Brasil de ponta a ponta pela quarta vez. Até agora, em torno de 70% do nosso tempo depois do trabalho, passamos viajando. Emoções com a natureza, novas amizades, banho de cultura e novos sabores, são os produtos que compramos com viagens, um eterno aprendizado.
Um abraço meu amigo Faria e parabéns pelo envolvimento de vocês na sociedade em prol de um mundo melhor. Na estrada também não faltam oportunidades de ajudar, quem sabe dá pra fazer os dois.