A Grécia vai ficar na saudade e na vontade, mesmo por que, falando a verdade, ficamos impedidos de voltar. Mas, foi o país que mais nos surpreendeu até agora, com sua beleza natural, sua organização urbana, sua gente bonita, sua culinária gostosa e sua história milenar.
Saímos de Katerini, norte da Grécia e seguimos por belas estradas, com poucos e baratos pedágios, passando por pequenas cidades até que chegamos na fronteira com a Bulgária.
Fomos parados, pediram documentos e o atendente chamou um policial que levou nossos passaportes para uma sala e demorou.
Voltou e pediu minha autorização para estar na Europa por tanto tempo. Eu disse que não tinha, que só estávamos de férias, passeando. Ele disse com uma cara de espantado, contando nos dedos os meses que já estamos na Europa, dizendo: “tudo isso de ferias,? vocês só podem ficar três meses” e voltou para a salinha. Passou mais um tempo retornou e ficou a preencher papeis enquanto eu e Ade fazíamos alongamento na linha que divide a Grécia com a Bulgária.
Ele nos chamou, carimbou nosso passaporte e preencheu uma ficha e mandou a gente assinar. O tempo todo ficamos tranquilos e ele coçava a cabeça, como quem diz, e agora o que faço com esses brasileiros.
Foi engraçado e tenso a maneira dele ficar espantado por que a gente estava viajando todo este tempo. Ele pediu pra gente contar em quais países nós já passamos e por onde ainda vamos passar.
Liberados fomos embora e paramos em uma loja na divisa da Grécia com a Bulgária, com muitas dúvidas e preocupados com o documento que assinamos.
Logo à frente, outra barreira e muitos policiais armados revistando tudo. Quando chegou nossa vez, mandaram a gente passar e não viram nada.
Paramos para abastecer e ficamos espantado, o litro do diesel estava 2,40. Na Grécia estávamos pagando 1,40. Conversando com o frentista (conversando, em termos, melhor seria gesticulando) descobrimos que o valor estava escrito em lev (BGN), moeda local, que vale a metade do Euro, ficamos felizes.
Estradas mal conservadas, montanhas feias, casas feias nas pequenas cidades feias, pensamos, o que estamos fazendo aqui.
Depois de muitos quilômetros rodados, as estradas ficaram melhores em alguns trechos, mas as coisas continuaram feias, mal cuidadas com jeito de abandono.
Chegamos em Sòfia sem a ajuda da nossa amiga portuguesa GPS, que não reconhece a Bulgária. Ainda na Grécia, gravamos a rota no Ipad e nos celulares e eles nos guiaram até nosso novo lar, numa rua feia, com jeito de perigosa.
Pedi ajuda para o rapaz de uma imobiliária e ele ligou para a proprietária do apartamento que alugamos, para ela vir nos receber.
O apartamento fica nos fundos e esta é a visão da nossa sacada. Feia também.
Por dentro o apartamento era legal, todo equipado, mas com um cheiro muito forte de cigarros. Nos instalamos já era noite, Ade preparou um macarrão enquanto eu fazia pesquisas, traçando um roteiro de passeio para o dia seguinte.
Mais decepção, todos as informações que eu lia, falavam mal da cidade e do País, tudo bem, vamos conferir. Não viemos para ver somente maravilhas, queremos também conhecer a vida como ela é.
Saímos passear a pé e foi fácil elencar muitas necessidades da cidade, começando pela arquitetura detonada.
Paramos em um grande hotel pensando que alguém poderia falar grego, para decifrar o que estava escrito no documento que assinamos e no carimbo do passaporte, sem sucesso.
Fomos até a embaixada brasileira, que eu faço questão de escrever com letras minúsculas. Caminhamos pela cidade até que avistamos a Bandeira Brasileira e pensamos, agora resolveremos a nossa dúvida.
Tamanha foi nossa decepção. O empregado, que a recepção disse ser o cônsul, nos recebeu. Contei nossa história e nossa necessidade, que seria somente a tradução de um pequeno texto e o que significava aquele carimbo vermelho em nosso passaporte.
Ele fez questão de dizer que nós estávamos ilegais na Europa, que não entendia grego e que não poderia ajudar em nada, repetindo que nós estávamos ilegais várias vezes. Eu disse a ele: Isso nós já sabemos.
Sem querer ofender mas com vontade de mandá-lo para aquele lugar, perguntei novamente como ele poderia ajudar, indicando talvez um tradutor. Ele repetiu que não poderia ajudar e, depois que Ade perguntou para que servia um consulado, ele meio que expulsou a gente de dentro de nosso Estado na Bulgária, dizendo que tinha muito trabalho. Levantamos e fomos embora imediatamente, sem falar mais nada e sem nos despedirmos.
Agora entendo por que tanta gente reclama de nossas embaixadas e, talvez, por que Vinícius de Moraes preferiu a carreira de poeta e não de diplomata. Acho que a inteligência do imortal poeta não aceitou fazer papel de bobo, da sangue-suga do dinheiro público.
Incrível, como um cônsul, meu representante, pode ser tão displicente a ponto de sequer conversar com a gente. Não sei se ele deveria ou não ajudar-nos, mas achamos ele um empregado despreparado no atendimento, certamente com alto salário pagos com nossos impostos, que não fez por merecer, sequer se prestou para atender um conterrâneo que só precisa de uma simples informação.
A embaixada do Brasil na Bulgária foi uma lástima no atendimento, nos deixou ainda mais chateados do que o carimbo em nosso passaporte.
Saímos da nossa casa para pedir ajuda em outros lugares. Entramos numa agência de turismo que nos indicou um tradutor e lá fomos nós com um endereço incompleto, mas conseguimos encontrar. Na agencia de tradutores, ninguém fala grego, pais vizinho ao deles.
Entramos em mais dois hotéis na esperança de encontrarmos algum recepcionista que falasse grego e nada. Chegamos na Embaixada da Grécia em Sòfia. Uma mulher explicou direitinho pra gente o que estava escrito, mas ela só falava grego e búlgaro e continuamos sem saber o que estava escrito no carimbo vermelho.
Paramos para almoçar e depois passeamos um pouco pelos monumentos da cidade, meio chateados, numa cidade de gente feia, de ruas feias, de prédios feios e de tempo feio, tempo feio não, nublado.
Nas poucas praças que passamos, vimos várias estátuas feias e a maioria com tema de guerra, soldados, armas, cabeça rachada, não gostamos da Sòfia até agora.
Em uma das praças muitos policiais e em cada esquina vários deles estavam à postos.
Na frente de um monumento, uma enorme área estava isolada e muitos soldados, prontos para um desfile sem espectadores.
Estes caminhões do exército levaram os soldados e servia de isolamento do local. Pensando bem, se acontecer uma nova guerra, tomara que não, a Bulgária será massacrada novamente.
Havia banda, ordem de comando e as autoridades chegaram, escoltados por dezenas de motos e carros. Andaram pelo tapete vermelho, um deles gritou algumas palavras, os soldados responderam com outro grito e desfilaram num alinhamento longe do perfeito.
Apesar de que todo público presente que, fora nós, não passavam de 15 pessoas, o autoridade maior, o de bigode, acenou rapidamente sem esboçar um sorriso, mas ninguém ligou para o aceno dele.
Não descobrimos quem eram as autoridades e nem o que comemoravam, também não interessa.
Ade continuou muito chateada, com medo das estátuas, dos guardas, das pessoas, então resolvemos abortar nosso passeio e voltamos para casa, continuando andando pelas ruas feias, com gente feia, carros feios, comércio feio, ônibus feio e aquela sensação de insegurança. Parece que a qualquer momento alguém iria nos atacar.
Até tentei convencer Ade que a falta de beleza e as cenas de guerra, necessariamente, não significavam insegurança. No entanto, observando que as pequenas lojas e lanchonetes atendem por uma janela com grades, onde o cliente não entra, eu também fiquei na dúvida e ainda mais atento pelas ruas.
Entramos em casa e nos sentimos mais seguros, com as três trancas e a porta de ferro do apartamento, alem da portaria com tranca eletrônica.
A Bulgária sempre foi muito sacrificada por todos os vizinhos e civilizações antigas. Primeiros foram os trácios, depois os romanos, depois os bizantinos, os turcos e os comunistas, todos tomaram o país, com muitas guerras e constantes destruições.
Os indícios de civilização remontam a 7000 anos e hoje, Sòfia começa a ganhar sua identidade com a Comunidade Europeia, ainda toda remendada, cheia de reboco e muitas arestas a serem reparadas.
Começaram derrubando, com grande alarde, uma enorme estátua do temível ditador Vladimir Lênin, líder do partido comunista da falida União Soviética, que certamente não merecia uma estátua.
O antigo monumento foi substituído por uma estátua da Santa padroeira da cidade – uma princesa de olhos negros, feia também, que representa a fusão do Oriente com o Ocidente, do novo com o antigo. Com olhar vigilante, que o escultor disse estar transmitindo uma energia criativa e juvenil.
A Bulgária é considerada a nação mais pobre da Europa, mas parece que o povo ainda não acordou do domínio comunista e dá impressão que não trabalham, os campos estão vazios de agricultura e os pontos turísticos são poucos e precisam de investimentos.
O idioma búlgaro é de origem eslava, poucos falam inglês ou os idiomas dos vizinhos. Usam o alfabeto cirílico e o restante do mundo pouco entende o que falam ou o que escrevem.
Os principais pontos turísticos de Sòfia se resumem em algumas praças, poucos museus, várias igrejas e sinagogas, alguns parques, o mercado municipal, alguns poucos edifícios históricos preservados e as feiras de rua, que é uma atração na cidade.
A Catedral Ortodoxa Alexander Nevski é suntuosa por fora e misteriosa por dentro, com cores escuras, pouca iluminação e gente rezando pelos cantos.
Foi construída no começo do século XX e tem imagens e lustres muito bonitos. Ela foi erguida em homenagem aos soldados russos que lutaram na guerra russo-turca. Até as igrejas fazem alusão à guerra.
A Bulgária pertenceu a União Soviética e se tornou Socialista. Durante a Segunda Grande Guerra, se aliou aos alemães comunistas e, quando Hitler mandou que eles enviassem as pessoas que pertenciam aos grupos indesejados, para serem sacrificado no conhecido Holocausto, os búlgaros arrumavam desculpas, diziam que mandaria em seguida, que estavam preparando o transporte, enganaram até que acabou a guerra.
Hoje a Bulgária é reconhecida por ter salvo mais de 60 mil pessoas, que não foram mortos por conta da “enrolada” que os búlgaros deram no Hitler.
A cidade das ruas amarelas, tenta um esboço de alegria com algumas bandas de idosos que tocam nas praças, mas até a música é triste.
Dia seguinte com chuva, muito frio e quase nada restou para a gente conhecer. Ficamos em casa o dia inteiro, sem vontade de passear.
Fiz uma pesquisa e consegui um site que traduz do grego para o português, letra por letra. Fiquei horas e descobri quase tudo sobre o documento que assinamos e o carimbo em nosso passaporte. Digo quase tudo por que o Greco é tão terrível de traduzir que algumas palavras não se encaixaram no texto.
Resumindo, achamos que o documento é uma proibição de nossa entrada na Grécia, nos próximos 4 meses, se entrarmos, teremos que pagar uma multa de 1.200 Euros por pessoas. Tudo bem. Não pretendemos voltar tão breve assim.
Deixamos Sòfia por estradas horríveis, cheia de buracos, remendos mal feitos, sem acostamento e sem sinalização. Policiais tinham vários pelo caminho.
Uma das placas de sinalização, alertava para os perigos de batidas de frente. Nas rotundas colocam carros batido e pela estrada vimos dois acidentes graves.
Eles não fazem tuneis e nem pontes, para passar pelas montanhas, são centenas de curvas, descidas e subidas.
Não dava vontade nem de parar para conhecer uma lanchonete na estrada, mas paramos em uma para tomar um café. Tudo era muito feio, mal cuidado, abandonado, lembrando restos de guerra.
Não queremos encorajar ninguém a vir visitar a Bulgária, por conta de suas belezas, mas, se quiserem vir para ver “o abandonado” pais no leste Europeu, venham e gastem muito dinheiro. O turismo aqui é muito barato. Venham para gastar e ajudar este povo que não conhecem o conforto, o belo, a segurança e muito menos o luxo.
Obs: desculpem, até as fotos ficaram feias.
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