Expedição pelo Brasil 2023 24 PARIPUEIRA, pouca fama, muita beleza

24 PARIPUEIRA, pouca fama, muita beleza


 

Deixamos Maragogi e seguimos passando por pequenas vilas com ruas apertadas, em reforma e pessoas sem consideração para colaborar com o trânsito seguro. Pedestres andam pela rua, atravessam sem olhar, carros estacionados impedindo a passagem, motociclistas e ciclistas se colocando em perigo a todo instante. É preciso muita atenção e calma para trafegar nas rodovias que passam por dentro de pequenas cidades e vilas, respeitando sempre os hábitos locais, sem se importar se estão fora da lei ou se expondo em perigos. 

Chegamos em São Miguel dos Milagres e a única opção para motorhome é na Praia Central, num terreno da prefeitura. O local não é bonito, mas o mar continua lindo, como que em quase todo nordeste. 

 

 

 

Dormimos uma noite e seguimos para Paripuera, onde também não tem camping mas tem uma enorme praça que abriga motorhomes, com energia fornecida pela prefeitura e a água por um pescador que mora no local. Ele pede uma contribuição para ajudar na conta. 

 

 

 

 

O pescador chegou pela manhã, depois de sete dias no mar e nos vendeu um belo peixe de 3,5 kg, já limpo, feito filé e a carcaça cortada e limpa. O belo peixe se transformou em um almoço com postas fritas e mais duas refeições com moqueca e pirão, bem servido e ainda sobrou para mais duas refeições.

 

 

 

O dono da peixaria me contou que tem 2 barcos grandes de pesca e trabalha com ajudantes locais. Ele fornece o barco, a alimentação, o combustível e todo material de pesca. Os peixes recolhidos são divididos em duas partes iguais. Uma para o dono do barco e a outra para os ajudantes. Após cada semana que ficam no mar trazem em média 200 kg de peixes. Vendem o peixe em média a 30 reais o quilo. Quando ele fala que o barco é grande, não é tão grande assim. Quando o mar está revolto, ficam sem dormir enquanto durar as tormentas. Quando dormem, sem conforto algum, logo acordam para trabalhar.

Ele me disse que já passou por grandes sustos em alto mar nos 40 anos de experiencia. Disse que tem mais medo das estradas do que do mar.

 

 

 

Paripueira é um nome indígena que significa “praia de águas mansas”. Por aqui, além da beleza natural, o mar fornece alimento e sustento para muitos pais de família, pescadores por osmose, herança ou por tradição. Grande parte dos homens da cidade são pescadores.

É uma cidade agradável que abriga veranistas o ano todo e recebe turistas nas comemorações festivas. É a praia queridinha dos alagoanos, principalmente, os maceioenses, que vivem a menos de 40 km daqui.

Aqui tem várias festas durante o ano e a principal delas é a festa do padroeiro, Santo Amaro.

 

 

A cidade é muito agradável e na praia se formam piscinas naturais, entre a areia e as barreiras de corais que protegem a costa. A barreira de corais daqui é considerada a terceira maior formação do planeta abrange vários municípios. 

 

 

 

 

As águas mansas encantam turistas e locais com banhos de mar e pescaria artesanal. Quando precisar é permitido levar até o cavalo para se refrescar e tomar banho nas águas rasas, calmas e mornas.

 

 

Hoje recebemos a visita da Mônica que contou toda sua história. Disse que morava em Maceió e recebeu um chamado divino para retornar a cidade onde nasceu. Largou o emprego e voltou para Paripueira pensando em somente desfrutar neste pequeno paraíso. Mas a missão era outra. Indignada com a sujeira no entorno da sua casa, começou sozinha limpando a praia, depois a praça e até em volta das lanchonetes e peixarias. Sozinha, ela se dedicou para melhorar a qualidade de vida das pessoas que viviam aqui.

Indignada ela procurou saber de onde vinha o lixo. Descobriu e começou a tapar a boca dos bueiros a céu aberto que desaguavam no mar. Sozinha fez dezenas de montanhas de areia para impedir que esgoto chegasse ao mar.

Tanto trabalho deu resultado. A praia está bem mais limpa, os moradores começaram a cuidar mais e a prefeitura começou a limpar os terrenos e cuidar dos jardins. Agora a cidade está cada vez mais bonita graças ao trabalho voluntário e solitário que a Mônica começou há quatro anos atrás.

 

 

Monica é um exemplo de como o exemplo arrasta multidões, até mesmo por osmose. Como já disse um pensador, se quisermos mudar o mundo, precisamos começar arrumando o que está em nossa volta, foi o que ela fez.

Em minhas palestras quando ainda trabalhava eu contava uma história para o treinando entender que o exemplo é agregador. Contava que “Havia uma garotinha muito bonita que ia para escola toda mal vestida. Um dia sua professora deu a ela um lindo vestido. Quando chegou em casa com presente, os pais pensaram que não poderia uma menina com cabelos despenteados e sem cortar as unhas, vestir uma roupa tão linda. Com a menina bem asseada e com aquela roupa linda, os pais também acharam que a casa que ela vivia tinha que melhorar. Assim, arrumaram a cerca, limparam o quintal, pintaram a fachada e refizeram o jardim. Quando o vizinho viu que ficou mais bonito a transformação, também fez igual no quintal dele e o outro também, e o outro também, e o outro também e toda a rua ficou mais bonita”.

A história da Monica e a lenda da menininha que ganhou um vestido novo, são inspirações para acreditarmos que o exemplo pode arrastar multidões.

 

 

A missão da Monica ainda não tinha terminado. Ela contou que recebeu de presente uma imagem de madeira de São Francisco de Assis e colocou na frente da casa dela. Daí ocorreu que as pessoas começaram a levar os pequenos animais que não queriam mais ou que estavam abandonados, na frente da casa dela e diziam para São Francisco aceitar o animalzinho e cuidar dele. Como o santo não falava nada e quem cala consente, deixavam os animais e a Monica é quem ajudava o santo, cuidando de cães e gatos, até que ficou inviável cuidar de todos. Novamente Monica pensou à sua frente e decidiu tratar dos animais onde eles estavam, abandonados pelas ruas. Todos os dias ela sai de carro servido ração para os bichinhos desamparados.

A Mônica é de uma família abastada e agora já sabe que a missão não era deitar numa rede e curtir aquele paraíso e sim cuidar dos necessitados. Ela cumpre sua missão com alegria e está fazendo a diferença para melhorar a vida em sua volta.

 

 

Saímos para nossa caminhada de longa distância e na volta paramos para conhecer um restaurante temático que recebe clientes de empresas de turismo que chegam em ônibus e vans para passar o dia na beira do mar com direito a refeições, bebidas e show musical temático.

 

 

Com a Monica é muito devota de Santo Amaro, padroeiro da cidade e também nos contou vários milagres atribuídos a ele, fui pesquisar quem foi o santo que tantos veneram. Alias, no Brasil todo ele é muito homenageado com nome de ruas, empresas, cidades, igrejas e protagonista de festas religiosas.

O que eu descobri foi que, provavelmente, ele nasceu em Roma, começou sua vida santa aos 12 anos e era grande amigo e discípulo de São Bento. Mas descobri também que existe uma lenda contando que ele nunca existiu como pessoa. Ele foi uma criação para disseminar bons costumes religiosos na idade média, numa região da Espanha. 

Seria Santo Amaro inventado?  Se ele existiu ou não, não importa. O que realmente importa é a fé depositada no nome dele. Aqui em Paripueira,  Santo Amaro é padroeiro, tem muitos devotos, faz milagres e arrasta multidões todo mês de janeiro na festa em sua homenagem.

 

 

Mais um dia de caminhada longa, até a Praia Sonho Verde, passando por rios, falésias, coqueiros caídos e muitas pedras.

A praia é linda e nos inspirou para um descanso e abastecimento para voltar pelo mesmo caminho. 

 

 

 

 

Como a praça que nos estamos acampados é muito agradável, a cidade é simpática e a praia é propicia para caminhadas, ficamos por cinco dias e seguimos vigem.

 

 

 

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