Pela estrada afora rumo a Alto Paraíso de Goiás na Chapada dos Veadeiros, que tem 240 mil hectares de eco-parque. O Parque é mais um dos muitos declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO.
A Chapada fica no coração do Brasil, no estado de Goiás, em pleno cerrado, um paraíso do ecoturismo. O Parque Nacional da Chapada está localizado sobre uma imensa placa de cristal quartzo, formado a cerca de 2 bilhões de anos.
Em alguns pontos o quartzo chega aflorar na superfície e a região é considerada um dos principais pontos energéticos do planeta. Por aqui passa o Paralelo 14 ao Sul do plano equatorial terrestre, o mesmo que passa em Machu Picchu e em tantas outras cidades sagradas pelo mundo. Os místicos acreditam que a força dos cristais protege a cidade contra qualquer profecia apocalíptica. Pensam que por aqui o mundo nunca vai acabar.
Muitas pessoas juram que já avisaram seres extraterrestre e até intraterrestres na Chapada. Intraterrestres seriam seres que habitam cavernas abaixo da superfície e, dizem, são descendentes de Atlandida, a cidade perdida. Agora entendi, eles se perderam e vieram morar aqui no nosso subsolo. Mas são bem discretos. Ninguém nunca os viram, mas acreditam que eles existem.
Da outra vez que estivemos aqui, numa viagem de moto pelo Brasil, a cidade ainda vivia uma mistura de felicidade e decepção. É que, segundo o calendário maia o mundo iria acabar e a Chapada seria poupada da destruição. Chegamos na cidade um tempo depois mais ainda ouvimos muitos relatos dizendo que a cidade ficou completamente tomada por místicos que acreditavam na profecia. A felicidade era por que o mundo não acabou e a decepção era por ter acreditado que tudo iria se acabar.
Nas pequenas cidade e vilarejos da região concentram-se muitos centro de meditação, massagens e artigos esotéricos. Placas oferecem serviços para a pratica de shiatsu, drenagem linfática, reflexologia, tratamento com florais, acupuntura, ioga, reike, horóscopo maia, mapa astral, terapia de vidas passadas feno sui, radiestesia, cristalterapia, cromoterapia, tudo na tentativa de curas, relaxamento ou para equilibrar as energias dos chakras.
Por aqui vivem pessoas adeptas e praticantes de filosofia, daimistas, evangélicos, oshoístas, espíritas, budistas, hare Krishina, dentre outros, alguns até com denominação própria.
Depois de instalados no camping dentro de uma enorme fazenda, bem próximo ao centro da cidade, fui caminhando até o mercado fazer algumas compras e perguntei onde tinha um. A moça me disse “logo ali tem um que é tudo muito caro e lá em cima tem outro que é mais caro ainda”. Falei pra ela “nossa sorte é que o mercado existe”.
A noite foi de encontro entre motorromeiros. Nós, mais dois casais de Curitiba e mais dois da Bahia, nos reunimos para saborear um macarrão com camarão feito pelos baianos, um risoto de palmito feito pelos curitibanos e uma tábua de frios preparados pela Ade. Foram algumas horas de alegria e muitas histórias. Com direito a fogueira, vinho e cachaça.
No domingo passeamos pela Praca, passando por várias pessoas de todas as idades, vestidos a caráter Zen. Na feira se vendem artesanatos e muitos alimentos alternativos como sementes, folhas para fazer chá, pedaços de madeiras medicinais e uma banquinha com frutas e verduras. Tinha até uma coxinha de jaca.
Na segunda feira, para manter a saúde do corpo, fizemos uma trilha para visitar um conjunto de cachoeiras, que ficam a 9 km de onde estávamos.
Andamos pela estrada com belas arvores e flores do serrado e por trilhas demarcadas. Na estrada, por conta da falta de chuvas, a poeira chega a 3 centímetros de um pó quase branco e fino como talco.
Veja o antes e o depois da caminhada, refletidos nos calçados.
As cachoeiras e poços de águas límpidas, estão quase sem água devido à seca que já dura mais de dois meses por aqui. A maioria delas ficam em propriedade particular que cobram ingresso na portaria. O complexo que visitamos tem uma boa estrutura, segura, com caminhos demarcados, banheiros e lanchonete. A entrada custa 50 reais por pessoa, para nós que já passamos dos 60, só a metade.
Importante estar bem equipado com roupas e calçados adequados para esse tipo de empreitada. Leve sempre uma mochila com água e algumas frutas, preferencialmente, bananas.
No camping, todos os dias pela manhã e a tardinha, as araras chegam em bando fazendo ruídos com seus cantos desengonçados e nos encantando com seu voos em casais.
Quase todos os dias chegam novos campistas e imediatamente nos tornamos amigos. Estes dois estão morando num motorhome com seu cachorro. Eles alugaram a casa deles no Uruguai, trabalham on line e não pensam em voltar pra casa tão cedo.
A noite, quase sempre frio ao anoitecer, nossa diversão foi fazer e acender fogueira. Logo chegam os vizinhos para conversar, beber, comer e se aquecer. Foram três dias com fogueiras. Eu cuido de tudo para montar, acender, cuidar da fogueira e apagar tudo no final, com muita agua para não correr o risco de uma faisca iniciar um incêndio n mata seca.
Já com amigos que parecem antigos, fomos de carona para conhecer outras cachoeiras. Numa delas almoçamos um escondidinho com o delicioso tempero goiano.
Em todas as cachoeiras é preciso pagar para entrar, mas os proprietários oferecem uma boa contra partida com boas estruturas.
Seguindo por outro caminho, passamos pelo Morro da Baleia que, por mais que usamos a imaginação, não conseguimos ver o perfil da baleia. Dizem que a gigante esta lá adormecida.
Paramos para um bom banho nas águas termais que brotam da terra dentro do Parque. São piscinas naturais construídas por exploradores do turismo, que nos presenteiam com tanta beleza e conforto de um banho quente.
Na entrada fizemos o pedido e na saída saboreamos uma deliciosa galinha caipira bem temperada ao estilo goiano.
Na valta paramos para observar um portal que fica no Jardim de Maytrea, um lugar considerado sagrado pelos místicos, que acreditam haver ali uma entrada para outras dimensões. É um lindo vale cercado por enormes montanhas protegendo a entrada. Não encontramos a entrada do portal, acho que naquela hora ele não estava aberto.
A bela vida do campista é cheia de surpresas. Ali no camping estava um aposentado que se tornou especialista no universo. Ficamos por horas conversando ate que ele começou a me mostrar os equipamentos que ele transporta em seu motorhome. São diversas lentes, aplicativos e um enorme telescópio. Foi um bela aula com direito a observar os anéis de Saturno, a via láctea e a fantástica estrela Antúrios.
Deixamos a Chapada dos Veadeiros com vontade de ficar mais. Sempre dá saudade das pessoas que conhecemos, dos passeios que fizemos, das comidas que comemos e das histórias que aprendemos. O consolo é saber que podemos voltar novamente.
Seguimos para Brasilia para pegar os passaportes com os vistos americanos atualizados e seguir viagem parando em outros paraísos do Brasil.