Nos dias finais da nossa Expedição pelo Brasil 2023, ficou cada vez mais visível os acúmulos da viagem, dentro da Caca. Tem redes castanha, farinha, cacau, abacaxi, manga, doce de leite, pimenta, camarão, mel de cacau, queijo, cachaça, biscoitinho de polvilho, lembrancinhas e artesanatos, quase tudo comprados direto do produtor.
Como de costume, no caminho paramos a cada duas ou três horas para esticar o corpo e aprender um pouco com os locais.
Ao anoitecer, paramos num posto e fui falar com o gerente pra saber se podíamos dormir ali. Prontamente ele disse que sim e perguntou se iria precisar de torneira e tomada, mostrou onde tinha e indicou um ótimo local, ao lada da fazendinha, um dos atrativos do belo posto na BR 116, entre São Paulo e Curitiba.
Noite foi tranquila e só acordamos com os rugidos da mine égua, dos carneiros, da lhama, dos pavões e mais uma bicharada bonita e criminosas. Criminosa? Eu acho que sim, pois estão presos. Se estão presos, são criminosos, ou criminosos seriam os homens que prenderam eles? É bonito de ver mas é triste nos momentos de empatia.
Muita gente pensa que sorte é só quando você acerta de primeira. Nem sempre. Mesmo depois de pararmos em três postos de serviços para lavar a lata da Caca, sem sucesso, não deixamos de querer encontrar um lugar para deixar a Caca mais bonita, antes de entrarmos em Curitiba, nosso próximo destino.
Pegamos chuva na estrada e a Caca precisava de um banho. Agora veio a sorte! No meio da estrada encontramos um lava jato com dois rapazes esperando chegar um cliente. Imediatamente já se mobilizaram para a limpeza e 30 minutos depois estávamos partindo com a Caca limpinha.
Além da boa lavagem, do preço justo, os dois rapazes merecem destaque também pela idéia de fazer o lava jato ao lado de um riacho. Eles retiram a água com bombas, lavam os veículos, tratam a água usada e devolvem novamente para o riacho.
Entramos em Curitiba e a cidade eleita a mais inteligente do mundo recentemente, começou a nos remeter lembranças dos tempos que aqui vivemos, onde criamos nossos filhos, onde nasceram e vivem nossos netos e onde ainda preservamos amigos. Tempos bons usufruindo dos atrativos e confortos que a cidade modelo nos proporcionou.
Voltamos para ficar alguns dias na cidade, agora como turista não mais como moradores.
Para dormir, nosso espaço no estacionamento do amigo João estava reservado, bem cuidado e bem localizado, ao lado de onde moramos por mais de 30 anos.
Depois que deixamos Curitiba para morar no Vale do Paranapanema, a mais de 500 quilômetros, o estacionamento do João passou a ser nosso quintal sempre que estamos na cidade.
Muito bom caminhar novamente pelas ruas que fizeram parte da nossa rotina. Agora com olhar de turista, lembrando de fatos históricos e revivendo os costumes dos locais.
A cidade mais inteligente do planeta, ganhou mais este título por conta dos vários quesitos atendidos pela cidade. A transmissão de dados é um dos quesitos analisados. O relatório aponta a eficácia da comunicação entre governante e população no município. A comunicação eficaz foi citada pela excelente cobertura em fibras óticas, espalhadas por toda cidade. Esta infraestrutura básica auxilia na gestão operacional e promove o bem estar do cidadão. Quando a comunicação flui na comunidade a tendência é acertar o alvo dos desejos e das necessidades da população, melhorando a qualidade de vida onde todos ganham.
Tenho orgulho de ter trabalhado na Copel, empresa que implantou e gerencia o sistema, que abrange não somente Curitiba, mas todo Estado do Paraná.
Mas nem preciso falar de Curitiba, todos já sabem da excelência urbana da cidade. Sempre que falo de Curitiba só ouço elogios. O mundo todo admira a cidade idealizada por jovens que fizeram carreira na administração pública. Alguns deles se tornarem prefeitos. Foram anos numa sequência de idéias inovadoras criadas pelos mesmos jovens urbanistas de carreira. Ainda hoje restam alguns dos jovens na gestão da cidade. O atual Prefeito da Cidade é Rafael Grega, um dos jovens que idealizou a cidade durante décadas.
Acredito que o trabalho duradouro da mesma equipe, tornou realidade o sonho de muitos urbanistas e moradores urbanos. Curitiba nunca pára de melhorar.
Uma das poucas críticas que sempre fiz de Curitiba é com relação ao trânsito de pedestres.
Caminhando pelas ruas, notei que a prefeitura está com mais um projeto de excelência, “Caminhar Melhor”. Estão padronizando a sinalização, refazendo as calçadas e construindo cruzamentos com faixas elevadas, tornando o trânsito do pedestre mais seguro, confortável e bonito.
Em Curitiba a memória é preservada sem parecer que é um gasto desnecessário. A grande maioria dos prédios históricos estão em perfeito estado de conservação para encanto de quem visita a cidade. Quando precisam de reformas, sempre aparecem parceiros e patrocinadores alinhados com a prefeitura, para deixar tudo lindo novamente.
A disseminação da cultura está pela cidade toda. Os parques são temáticos e alguns homenageam outras nações. Por aqui vivem várias etnias de muitas nações, espalhadas pelo mundo, especialmente da Europa.
O coração artístico da cidade pulsa o ano todo, com escolas de artes, museus, teatros e apresentações, quase tudo gratuíto.
No centro da cidade encontrei uma feira de produtos orgânicos, onde o cliente pega tudo que precisa e entra numa fila que se forma na calçada, para pagar o que pegou, sem vigilância ou desconfiança que alguém vai embora sem pagar. Se quiser ir embora sem pagar é tranquilo, mas ninguém faz isso.
Aqui, todos os dias o jornal é distribuído gratuitamente para a população, logo pela manhã, nas ruas centrais, nos principais cruzamentos e dentro dos ônibus.
Sábado pela manhã, fomos assistir a final do campeonato de futebol infantil, ver nosso neto jogar. Assistimos uma bela atração, sentindo as emoções como se fossemos os pais orgulhosos, tietando os aspirantes a futuros ídolos.
Desta vez nosso time não foi campeão, mas ano que vem tem mais.
Aqui no Sul e em especial em Curitiba é notório a diferença do “suposto” poder aquisitivo da população. Na rua a maioria dos veículos são de fabricação recentes, as roupas são de marcas famosas e até os pets são das raças mais raras e caras.
Só fiquei indignado quando eu estava em um parque e passou por mim uma criança muito feliz e eu disse ao pai dela que ali estava a cara da felicidade. Ele sorriu e, talvez para mostrar controle sobre a criança, jogou uma bolinha de borracha e mandou ela ir buscar e ela foi. Mas isso a gente não faz somente com o pet? Não sei se deveria rir ou chorar.
Fomos na feira de artesanatos no Largo da Ordem, uma das melhores que já visitamos. Tem uma diversidade enorme de peças, de todos os cantos do Brasil e guloseimas típicas de feiras. O que difere bem de outras feiras que visitamos nos 16 estados por onde passamos nesta Expedição, são os preços. Por aqui, acompanham o “suposto” poder aquisitivo.
Também voltamos para rever o Mercado Municipal, admirável tanto na beleza como na diversidade e na qualidade dos produtos à venda. Os preços variam de alto para mais alto, mas tem tudo que precisamos.
Só para destacar a diferença de preços entre comprar direto do produtor e comprar nos revendedores mais requintados, cheguei a pagar 40 reais o quilo de caldas de lagosta com 11 centímetros, direto do pescador que chegava do mar na Praia da Baleia, no Ceará.
Já no Mercado Municipal de Curitiba…
Nas nossas viagens, procuramos observar e aprender com as compras e as formas de pagamentos no mercado consumidor, mesmo assim caímos em armadilhas.
Paramos em uma lanchonete tradicional e muito frequentada, que vende Pão de Queijo, próximo a cidade de Ponta Grassa. Ao conferir a despesa quando fui pagar, um susto. Paguei 9,50 reais por um achocolatado. Como não perguntei o preço antes, paguei sem reclamar. Fiquei indignado mesmo quando cheguemos em Maringá e fomos fazer compras no supermercado e vi o preço do achocolatado.
Acho que não paguei caro e sim que fui extorquido. Minha contra partida será evitar de parar e não recomendar aquela lanchonete, que apesar de bonita vender coisas gostosas, exagera nos valores. Especialmente nos 200ml de leitinho.
Fizemos compras em Maringá e seguimos para nossa casa fixa, trazendo na mala muitas lembranças, muitas emoções, muito aprendizado, muitas alegrias, poucas tristezas, muitas lembrancinhas e muitas guloseimas. Mas, o mais valioso que estamos trazendo na reta final é o nosso neto João Mauricio Rocco, que embarcou na Expedição em Curitiba e veio ficar um tempo, durante suas férias, alegrando nosso retorno e nossa morada na casa fixa, mesmo que por algumas semanas, será também inesquecível.