Nossa vida na casa fixa continua em fase de adaptações. Voltamos da Bahia no final de 2021 para mais uma estadia no nosso porto seguro e recebemos os filhos, netos e amigos para as festas de fim de ano. Foi a primeira vez que a casa branca recebeu tanta gente. Gostamos muito, cabem todos com conforto e espaços para a alegria.
Com a abundância de água na região, os banhos com mangueiras são inevitáveis para amenizar um pouco o calor e promover a alegria.
As refeições com ingredientes regionais é sempre outro destaque.
Na casa fixa, estamos aprendendo conviver com a natureza. O Canário fez ninho no nosso beiral, o Gavião tenta pegar a Andorinha em pleno voo, o Quero-quero espanta quem se aproxima da sua cria, Tucanos passam em bando, as Andorinhas sempre voltam e nos encantam com suas revoadas. Cada um com seu cantar que encanta do amanhecer até o sol se pôr.
Não rara vezes me pego conversando com eles. Ade também conversa com as plantas e as respostas da natureza são visíveis, como perfeito entendimento. Certa vez começamos dar comida para um gato preto que mora na mata e ele vinha todos os dias para comer e ainda começou trazer amigos. Um dia, sorrateiramente, dois deles invadiram nossa cozinha e andaram sobre nossa pia. Foram pegos no flagra e até hoje ainda levam bronca quando aparecem.
Gente e bicho. Sossego e agito. Calmaria e movimento. Natureza ou concreto. Atualmente, somos turistas explorando metrópoles e naturista morando com os bichos, com as frutas, verduras, carnes, queijos e ovos fresquinhos direto do produtor.
Ainda surgem dúvidas sobre morar com mais natureza ou com mais concreto. Por enquanto gostamos dos dois. Visitamos as cidades e ficamos no campo a maior parte do tempo. Moramos na casa fixa por dois a três meses e viajamos com a casa rodante por três a seis meses.
Os custos para viver na casa fixa ou na casa rodante, são muito próximos, especialmente em viagens de longa duração. Portanto, para nós que já possuímos um bom equipamento de viagem, os investimentos não são exorbitantes. Viajar para nós não é só um luxo e sim um presente para nossa alma. Viajando nossa vida fica leve e a maior parte do tempo estamos plenos, sem problemas, felizes.
Na estrada rumo ao Sul
Iniciamos nossa primeira viagem em 2022 por Curitiba, onde cumprimos compromissos legais e emocionais de ex-moradores, matamos um pouco a saudade de conviver com mais gente e usufruímos um pouco das incontáveis opções de comércio.
Nosso quintal na fazenda
Aproveitando as férias escolares, embarcamos nossos netos para mais uma aventura a bordo da nossa casa rodante. Desta vez procuramos uma fazenda para viver alguns dias. Encontramos uma em plena mata de pinheiros Araucárias, no interior de Santa Catarina que hospeda campistas.
Acampamos no quintal em clima de serra, onde já foi um belo pasto de gados e ovelhas, onde a neblina do amanhecer dá lugar ao sol brilhante que depois se esconde para noite ficar mais fresca.
A região é também marcada por histórias centenárias de disputas sangrentas pela posse das terras.
Com cabanas e áreas de camping, a fazenda recebe turistas com uma simpática equipe de recepção e dezenas de atrações de aventura. Tem trilhas que levam a duas cachoeiras, pistas para motos, quadriciclos, bicicletas e gaiolas. Tem percurso para caminhadas, tirolesa, tiro ao alvo, mine golfe, arco e flecha e diversos jogos com bolas e de salão. Tem lagoa, iscas, anzóis, varas e o peixe pescado pode ser consumido, sem custo, a não ser o “árduo” trabalho de pescar.
Nosso convívio com os netos foi com brincadeiras, aventuras e com as saborosas refeições preparadas pela dona Ade. Teve tombo de bicicleta, quedas na trilha da cachoeira e até capotamento do quadriciclo, com pequenos arranhões mas nada com gravidade. Cavalos ninguém encarou.
A fazenda recebe uma quantidade maior de visitantes nos finais de semana. Durante o ano todo, promovem encontros de motorhomes, de motocicletas, de carros antigos e, neste final de semana, aconteceu um encontro de kombihome. A kombihome é uma casa rodante, que une duas paixões: campismo e o particular amor pela Kombi.
A fazenda é toda semeada de belas Araucária, símbolo da região Sul. As árvores são mapeadas pelos órgãos do governo, que proíbe com a força da lei, o corte sem autorização. Quando um vento forte derruba uma árvore o dono das terras pode utilizar a madeira, mas somente dentro da própria fazenda. A madeira de araucária não pode ser transportada e comercializada legalmente. No inverno seu fruto, o pinhão, serve de ingrediente para variadas receitas na culinária.
A noite a fogueira feita com as grimpas da Araucária precisa ser constantemente alimentada, se não apaga rápido. É como fogo de palha.
No sábado um DJ anima o pátio central até as 11 da noite e no domingo acontece a tradicional costela fogo de chão. Já no clarear do dia é possível observar a fumaça da lenha que começa assar e defumar a deliciosa iguaria servida em pedaços com fartura, com acompanhamentos de comidas regionais servidos no fogão a lenha.
A Fazenda Evaristo que fica na cidade de Rio Negrinho, em Santa Catarina, registrou sua própria história com verdades e lendas, em dois pequenos livros distribuídos na recepção.
Conta a história ou lenda, que o senhor Evaristo comprou as terras que um dia já pertenceram aos ameríndios bugres. Após os anos 1830, os exploradores bandeirantes chegaram com sua força bélica, conquistaram e comercializaram as terras na região.
Na região habitava o índio Xokleng, cacique da tribo dos ameríndios bugres. Em uma fazenda da região chamada São Rafael, tinha um capataz pai de duas lindas filhas. Dois moços agregados da fazenda, começaram a namorar as duas moças.
Um dia, quando os dois moços caçavam na mata, avistaram algo e um deles, pensando ser um animal para abate, apontou sua arma e disparou. Para surpresa e espanto, percebeu que o tiro mortal acertou ou assustou o cacique Xokleng. O velho índio estava de tocaia esperando uma caça e caiu do alto de uma cachoeira e bateu nas pedras. Ficou a dúvida se foi o tiro ou o susto que matou o cacique.
Raivosos com a perda do cacique, os índios seguiram os dois moços, que se abrigaram na casa dos pais das moças, suas namoradas. Algum tempo depois, com sede de vingança para dar descanso ao falecido, como acreditavam, os índios atacaram a casa pensando ser a família dos moços e mataram todos, menos os dois que neste dia não estavam. Com a chacina dos inocentes, começou uma revolta dos brancos da região, iniciando uma longa guerra até que todos os índios bugres da região fossem dizimados, deixando livre as terras para os bandeirantes e colonizadores que tomaram para posse de toda região.
Uma parte das terras ficou com o senhor Evaristo, que transformou a área sangrenta em terras produtivas. Seus filhos e netos ficaram com a herança e trocaram o agronegócio pelo turismo, proporcionando abrigo e lazer para proveito de turistas.
O Brasil é mesmo abençoado, temos muitas histórias e opções de turismo em locais paradisíacos. Por sorte nossa muitos pedaços de paraíso recebem motorhomes e compartilham seu quintal para nosso desfrute. Além do nosso extenso litoral, ainda contamos fazendas, pousadas, hotéis, resortes e campings que nos abrigam com segurança, conforto e beleza, cada qual com suas lendas é verdades registradas. Isso é tudo que queremos e precisamos para viver como nômades temporários.
Seguimos viagem rumo ao extremo sul do nosso País da maravilhas.