Construindo um lar 1 Construindo Um Lar 2020

1 Construindo Um Lar 2020


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Construindo um porto seguro 

Sonhar é o inicio de uma realização. Os principais sonhos da Ade e os meus para depois do trabalho, foram transformados em planilhas e estão acontecendo conforme planejado. Claro que alterações ocorrem no percurso, mas a essência permanece.

O sonho realizado desta vez é a construção de uma casa num local seguro, com quintal para plantar, espaços para receber pessoas, água em abundância e a presença constante do sol, fonte de vida para Ade.

Compramos um terreno e o sonho de construir um novo porto seguro começou a se concretizar, pelo menos cinco anos antes do previsto em nossos planos, por conta dos protocolos impostos para enfrentamento da pandemia da Covid19.

 

A pedra fundamental.

A pedra fundamental foi a decisão de comprar o terreno e promover uma mudança radical no rumo de nossas vidas. Decidimos o projeto, contratamos trabalhadores e a rotina se fez com engenheiros, pedreiros, carpinteiros, ajudantes, mestres de obras e uma diversidade enorme de materiais  e métodos de construção.

Estou aprendendo muito com a construção de uma casa. Percebi que uma casa tem vida própria e cada etapa apresenta desafios e decisões inerentes. Quando aparece um erro, como me disse um azulejista, “melhor corrigir logo antes que fique mais caro”.

O primeiro desafio da obra foi decidir os espaços dentro do terreno e dentro da casa, de maneira a ficar seguro, confortável e bonito, nesta ordem.

Foram dezenas de esboços até a decisão final para o projeto arquitetônico. Os espaços foram marcados no terreno e a obra começou.

 

 

 

 

Como moramos numa casa alugada em frente a obra, a minha participação foi constante, sempre presente. Ade se ocupou com a horta, com todo carinho e atenção que lhe é peculiar e o resultado foi fartura e qualidade nas frutas, legumes e verduras que ela plantou.

A construção foi acontecendo conforme o projeto, considerando os palpites de última hora.  A multiplicidade na qualidade e nos preços dos materiais de uma casa disponíveis no mercado, chega a dificultar e causam dúvidas na hora da escolha. Mas felizmente temos farturas em cada opção de materiais de construção e de decoração. Foi bastante trabalho, mas o importante era ficar do nosso gosto.

Nos divertimos, ficamos felizes, ficamos bravos, tristes algumas vezes, mas sempre agradecidos pela oportunidade de mais um sonho nosso se realizando.

A casa passou a ter sombra.

Com os primeiros tijolos a casa passou a ter sombra e a cada dia um aprendizado. Certa vez eu varria o chão e o pedreiro que fazia o reboco me disse que depois ele limpava. Eu disse a ele que eu queria ajudar e era o que eu sabia fazer naquele momento. Ele me disse: “Quem mandou estudar. Agora não sabe nem assentar um tijolo”. Achei fantástica a valorização profissional na referência dele.

Pensando em valorizar os trabalhadores que nos ajudava a realizar nosso sonho, um dia escrevi com giz o nome deles numa parede e a repercussão foi muito boa. Alguns se mostraram orgulhosos e até fizeram fotos pra mostrar pra família. A valorização as vezes é barata.

Na medida do possível, eu procurava repassar um pouco da minha experiencia profissional, orientando sobre princípios de organização, cuidados para evitar acidentes e iniciativas para diminuir o desperdício.

Repeti muitas vezes uma regra de ouro da qualidade, que evita desperdício e garante a prevenção:

    1. Ter somente o necessário
    2. Tudo organizado
    3. Limpeza impecável
    4. Padrão de Procedimentos e,
    5. Disciplina

O desperdício é lamentável em qualquer situação, mas os indicadores na construção civil são alarmante. Considerando que o Brasil consome mais da metade dos recursos naturais em obras da construção civil, fica inconcebível aceitar alguns descasos.

O desperdício não é causado somente pela mão de obra. Alguns métodos tradicionais na construção, por sí só, trazem consigo o desperdício. Acontece com a madeira nas cacharias, com os pregos, com as telhas, com o cimento, areia, lajotas, concreto e, incrivelmente, com as quebras das paredes depois de prontas para passar a fiação.

Em algumas obras o entulho é tanto que voluntários passam no final das obras recolhendo para reaproveitar em casas dos mais necessitados. Se não aparecer voluntários ou interessados, o entulho vai para um lixão, normalmente mantido pela prefeitura municipal.

Logicamente a engenharia é responsável pelas soluções baseados em cálculos matemáticos, mas o conhecimento do trabalhador, com sua experiencia, também deve ser sempre considerado.

Aprendi a usar o Teorema de Pitágoras na prática, aplicado corretamente por quem possivelmente nunca ouviu falar no grande filósofo matemático grego, que viveu nos anos 500 a.C.. Pitágoras descobriu na geometria, uma forma para encontrar a medida correta da hipotenusa e o pedreiro usa o mesmo cálculo para encontrar o esquadro perfeito numa parede.

Aprendi também outras formas de medidas de suma importância, que são o nível e o prumo. A todo instante se medem com linhas, trenas, réguas e mangueiras com água. Tirar o nível e tirar o prumo, são atividades comuns na obra.

Existe uma tradição entre os operários, que diz que: no dia que coloca a laje o dono da obra tem que patrocinar um churrasco. Eu perguntei a um deles: E se o dono não pagar? A resposta foi ótima. Ele me disse: Nós fazemos vaquinha e compramos a carne. Mas porque na laje e não no telhado ou no término da casa? Não souberam me explicar, mas a tradição vem de longa data e, se o dono não fizer, acontece do mesmo jeito, em comemoração a um marco importante no trabalho deles.

Outro desafio interessante aconteceu na construção do telhado. O computador do projetista não acertava nas medidas de encontro das águas do telhado que eu queria. Conversei com o carpinteiro e ele me garantiu que dava certo. Subimos na laje, ele fez alguns cálculos de cabeça, passou a trena, mandou subir a madeira e começou a serrar, pregar, encaixar e parafusar. Deu certo. As águas ficaram como eu queria.

Para minha surpresa, depois de pronta, percebi que o desenho do telhado lembrou o corte inicial de um diamante e até um coração dá pra imaginar.

Oito meses depois, a estrutura principal ficou pronta e nos mudamos de vez para o novo lar. Os móveis vieram de Curitiba e o nosso endereço mudou. Deixamos o apartamento na cidade e passamos a morar na beira do rio.

 

Queremos uma casa com vida.

Como dizem por aqui, uma casa nunca termina. Isso é bom pensando no futuro. Será importante ter com o que se ocupar na nossa vida depois do trabalho.

Agora já temos telhado e estamos protegidos. O desafio seguinte foi abrigar a Caca, nossa pequena casa rodante, que mereceu um abrigo capaz de protege-la do sol e da chuva.

De todos os trabalhos numa obra da construção civil o que eu mais gostei de ajudar foi na lida com a madeira. Alem do telhado e das vigas aparentes em volta da casa, escolhemos também a madeira para o abrigo da Caca.

A madeira merece um toque de arte e o pergolado é uma das formas de destaque. O pergolado é uma herança dos italianos, que faziam as “pérgolas” para que as uvas crescessem. Com o tempo, este tipo de cobertura passou a fazer parte da decoração e surgiram verdadeiras obras de arte, destacando os encaixes na madeira.

A estrutura do nosso pergolado foi encaixada, madeira mordendo a madeira, sem cola, prego ou parafusos.

Alem da utilidade de proteger a Caca, o pergolado vai abrigar sobre o telhado, as placas para produção de energia elétrica e para aquecimento da piscina.

Mais um desafio prazeiroso foi a construção da cerca na frente do terreno, que também decidimos pela madeira. Durante a construção, me empolguei, trabalhei uma semana e fiquei uma semana de cama, sofrendo com dores causadas por posturas nada ergonômicas. Corrigi a postura usando cavaletes e, em mais duas semanas de trabalho, a cerca foi instalada.

Outra tarefa que também encantou, especialmente para Ade, foi plantio. Plantar para colher e plantar para enfeitar. Depois da horta e dos vários vasos com flores, compramos um chorão para cobrir o portão, um abacateiro para fazer sombra na lavanderia e uma árvore do viajante, para sempre nos lembrar que a viagem ainda é nossa prioridade e preferencia.

Outro grande aprendizado com nosso novo lar, foi o relacionamento com as pessoas. Passamos a interagir com costumes e hábitos, nativos na região, que nos levaram à mudanças em alguns dos nossos hábitos e costumes para nos adequarmos.

Por aqui tem sempre alguém disposto a ajudar, os vizinhos participam, a alimentação é fresca e o idioma é caipira. Não tem shopping e nem barulho de automóveis. O silêncio só é rompido pelos pássaros, que estão por todos os lados e de várias espécies.

 

Como é um condomínio de veraneio, o movimento de pessoas é maior somente nos finais de semana e nos feriados. Com o tempo, comecei a perceber que tanto Ade como eu, começamos a sentir falta da rotina urbana, especialmente das pessoas.

Decidimos voltar para a estrada

Mesmo sem terminar a obra em todo quintal, planejamos uma nova viagem, retomando nossa vida nômade, à bordo da nossa casa rodante.

Já com as duas doses da vacina e considerando sempre os protocolos de segurança, preparamos a Caca e deixamos nossa casa grande para retomar a vida de campista na nossa casa pequena.

Na nossa casa branca e no quintal, queremos sempre ter algo novo para construir ou um Kaizen por fazer. Construiremos cada cantinho com criatividade, carinho, sempre com um tanto de nossa própria mão na obra. Tem muito ainda por fazer, Graças a Deus.

Nosso novo “Lar Doce Lar” fixo, esta sendo construído para receber amigos felizes, dispostos a compartilhar novos planos e as histórias que a vida já contou.

Estamos partindo novamente pelas estradas, mas sempre voltaremos ao nosso porto seguro nos intervalos, agradecendo sempre a Deus que nos brinda com a vida que sonhamos.

Agora, nossos planos retomam os encantos da vida de nômades temporários. Vamos com Deus e daqui um tempo, passaremos por aquela ponte, voltando para a nossa casa branca na beira do rio para se ocupar com afazeres do lar e refazer novos planos de viagens.

 

Partiu Curitiba!

4 comentários sobre “1 Construindo Um Lar 2020”

  1. Caros Mauricio e Ade, aproveitem tudo que vcs tem de direito, tanto na casa fixa , qto na Caca (casa sobre rodas), eu vou por aqui lendo e me deliciando com seus relatos. Abraços

  2. Pai, que gostoso ler você voltar q contar as histórias. Ainda temos muito pra viver nessa casa fixa, ela está cada vez mais gostosa! Aproveitem a viagem e voltem logo

    amo vcs

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