Deixamos os caminhos pelo alto da serra catarinense e entramos pela serra gaúcha, subindo rumo a Gramado e Canela, co-irmãs no turismo, cada uma com sua igreja de pedra.
Para chegar fomos pelo caminho da Rota do Sol, muito bonito com dezenas de atrativos e nós paramos em alguns deles.
Vimos fabricar tapetes de couro, depois aprendemos um pouco da arte de fazer estátuas de concreto, depois num restaurante que nos serviu um delicioso lanche de torradas.
Em Gramada e Canela paramos em um camping num hotel e depois no camping do SESI, bonitos, mais baratos e bem estruturados, olhamos e fomos embora. Preferimos o Camping Gramado, onde já ficamos, que também tem uma boa estrutura e tinha mais motorhomes estacionados. Campismo sem vizinhos não é tão bom.
Fomos a Gramado com a Caca e estacionamos no centro, vantagem de ter motorhome pequeno. Saímos para passear a pé pelo centro, almoçamos, entramos nas lojas e ouvimos comerciantes reclamando do pouco movimento de turistas.
Nos parques o movimento também estava abaixo do desejado por conta da baixa temporada, da pandemia que ainda assola o mundo e também pelo alto valor dos ingressos das principais atrações. Certamente o valor afasta muitos visitantes.
Visitamos um parque que a gente ainda não conhecia, o SKYGLASS, uma plataforma estaiada de aço e vidro que avança 35 metros sobre o Vale da Ferradura, com 360 metros de altura.
Ao nosso lado um casal que comprava ingressos, ficaram indignados com os valores. Pagaram 340 reais para um passeio que pode ser feito em menos de uma hora. Os principais atrativos é pisar no vidro e flutuar no ABUSADO, uma cadeira que dá uma volta de 2 minutos por baixo da plataforma de vidros.
Ade e eu ainda temos o privilegio de já estarmos acima dos 60 anos e por isso, pagamos meio ingresso. A destemida e abusada Ade foi sozinha no ABUSADO. Eu fiquei tirando fotos.
O parque todo é muito bem cuidado e tem funcionários orientando os turistas, de forma incisiva, dando ordem do que pode e do que não pode ser feito. “Tem que deixar os pertences no armário”, “se sair da plataforma não pode voltar”, “pra tirar fotos do ABUSADO somente da varanda” e até o estacionamento tem que ser onde eles indicam, mesmo estando vazio.
Sempre nos cartões postais, eu gosto de observar os ensaios fotográficos. Tem muita criatividade e disposição de fotógrafos e modelos. Chega ser engraçado muitas vezes.
No parque tem lanchonetes, lojas de artesanatos e vendas de fotografias que eles tiram enquanto você está na plataforma ou no ABUSADO.
Tem também algo inusitado. Eu nunca pensei que alguém tivesse o carinho de organizar tamanha coleção. No parque tem um Memorial que conta toda história e expõe mais de 1.000 peças de um dos utensílios usados em quase todas as casas pelo mundo, há séculos. É o ferro de passar roupas.
Voltamos para o centro de Canela para visitar a torre que abriga os sinos da igreja de pedras. Já na entrada fomos abordados por um guia, pernambucano, morando na cidade a menos de 5 meses, oferecendo um tour pela igreja.
O pernambucano, agora recente historiador gaúcho, contou que o carrilhão é formado por 12 sinos, cada qual com sua nota musical.
Os sinos foram doados para a igreja a pedido de Gilda, esposa de Giovanni, um barão da cidade de Canela. Numa viagem pela Europa, Gilda ouvia os maravilhosos concertos de sinos de igrejas na Itália e falava para seu esposo:
“Quando sarà, Giovanni, che podaremo darghe anca ala nostra bella chiesa de Canela un concerto di campane come queste?”
Giovanni também desejoso de ouvir aquelas melodias, de sua residência, que ficava em frente a Igreja, respondia:
“Chi sà, Gilda, um giorno vegnerà !”
Tempos depois Giovanni mandou fabricar 12 sinos numa fundição em São Paulo. Ao todo pesam mais de 3.500 quilos de puro bronze. Conta a lenda, e o pernambucano, que a Gilda faleceu antes dos sinos serem instalados na torre da igreja de Canela.
No altar da igreja encontrei outra curiosidade. Uma réplica da Santa Ceia de Leonardo da Vince, muito bem esculpida na madeira, feita pelo uruguaio Julio Tixe.
A obra original Santa Ceia faz parte da história há mais de 500 anos e ainda causa polêmicas. Uma delas é a dúvida sobre quem realmente estaria à direita de Jesus, João ou Maria Madalena?. Alguns estudiosos de arte bíblica acreditam que é Maria Madalena que está à direita. Dizem que o desenho e a silhueta lembram uma figura feminina e se encaixam perfeitamente nos ombros de Jesus, quando colocado do lado esquerdo.
O artista uruguaio dirimiu a dúvida. Definiu que é a Maria Madalena e a colocou aconchegante nos ombros de Jesus, do lado esquerdo. Ou seria João?
A foto abaixo é da pintura original que eu tirei no Convento da Igreja Santa Maria delle Grazie, em Milão, na Itália. No original, João ou Maria Madalena realmente estão à direita de Jesus. Depois veja a obra que o Tixe fez.
O mesmo artista também esculpiu Pietà, uma das mais famosas esculturas feitas por Michelangelo. A original fica exposta na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Nesta obra o artista uruguaio simplesmente reproduziu, sem tentar apagar polêmicas.
Passamos por Gramado e Canela, com suas variadas atrações, mas sem muita gente para assistir, comer, comprar ou se divertir nos parques. É possível fotos de locais muito visitados, sem ninguém no quadro.
Até o Hard Rock, restaurante, café e museu, considerado um templo do Rock em todo mundo, estava vazio.
Agora vamos seguir para Caxias do Sul, participar da Festa da Uva, uma das festas mais famosas do Brasil.